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    Senado discute projeto que incentiva clubes de futebol a virar empresas

    Especialistas dizem que há investidores interessados nos clubes brasileiros

    Da CNN, em São Paulo

    Tramita no Senado um projeto de lei que pretende incentivar os clubes de futebol a se tornarem empresas. O modelo ajudaria a profissionalizar a gestão das agremiações do país. 

    O PL 5516/2019 cria a Sociedade Anônima do Futebol. Em outras palavras, os clubes poderão se tornar clubes-empresa, modelo que já é bem difundido em importantes ligas do mundo.

    De acordo com um levantamento realizado pela consultoria EY, 92% dos clubes das cinco maiores ligas europeias funcionam como empresas – no Brasil, o número é exatamente o inverso. Caso aumente o escopo para a 2ª divisão desses países, o percentual vai para 96%. Alguns deles, como Juventus e Manchester United têm, inclusive, ações negociadas em bolsa.

    Atualmente, no Brasil, os clubes são associações sem fins lucrativos. A gestão deles, em sua maioria, é feita por presidentes eleitos por um seleto clube de associados. Isso, segundo o consultor Pedro Daniel, da EY, é um grande problema.

    Afinal, esse tipo de gestor, normalmente, é mais voltado para focar em resultados dentro de campo do que arrumar a casa fora dele. Usando uma comparação futebolística, é como se eles usassem os dez jogadores de linha como atacantes e deixassem o goleiro totalmente desguarnecido. Às vezes, isso dá resultado – mas ele vem com uma cobrança cara lá na frente.

    A sucessiva mudança de presidentes dos clubes causa um efeito parecido com o que vemos na política: falta de continuidade nos projetos, especialmente aqueles que precisam de longo prazo. Com isso, se perde tempo e dinheiro.

    Segundo os especialistas, há investidores interessados nos clubes brasileiros. Com o real bem depreciado frente as outras moedas estrangeiras, é muito barato investir e explorar o Brasil, especialmente nas categorias de base. Esse investimento rapidamente pode virar um retorno em euro ou em dólar, com a venda de jogadores, por exemplo.

    De todos os clubes-empresas do mundo, 35% são geridos por estrangeiros. Alguns exemplos são fáceis de lembrar: o francês Paris Saint-Germain, que tem Neymar entre os seus jogadores, tem como principal acionista o fundo soberano do Qatar.

    Assim como o PSG, Chelsea e Manchester City estão nas semifinais da Liga dos Campeões da Europa e são controlados por estrangeiros. A exceção é o Real Madrid, que é uma das poucas associações da Europa, como o arquirrival Barcelona.

    Cuiabá EC
    Jogadores do Cuiabá comemoram vitória sobre o Dom Bosco
    Foto: Reprodução/Twitter

     

    Exemplos do Brasil

    Porém, mesmo sem a aprovação do projeto, já existem clubes-empresa no Brasil. São três: Red Bull Bragantino e Cuiabá, ambos na primeira divisão, e o Botafogo de Ribeirão Preto (Botafogo-SP), recém rebaixado para a terceira divisão. O Red Bull é talvez o melhor exemplo de investidores estrangeiros interessados no Brasil.

    Em março de 2019, o Red Bull comprou a operação do tradicional Bragantino e finalmente chegou à primeira divisão, após anos tentando fazer isso de maneira isolada.

    Além do clube de Bragança Paulista, o Red Bull mantém times como o Red Bull Leipzig (Alemanha) e o Red Bull Salzubrg (Áustria). No ano passado, o craque do Brasileirão foi o atacante Claudinho, que joga no time da empresa de energéticos. 

    Já o Cuiabá Esporte Clube já nasceu como empresa. Em 2009, o time foi comprado pela família Dresch, dona de uma multinacional da indústria da borracha. Desde a compra do Cuiabá, a família vem investindo no clube, que em 2021 vai fazer a sua estreia na série A.

    Hoje, os times que são associações são isentos do pagamento de diversos impostos. Com o projeto de lei, esses clubes perderiam a isenção de maneira gradativa até chegarem a pagar 5% de sua receita bruta em impostos, o que incluiria Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ), Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) e o Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social). Isso assemelharia os tributos pagos pelo clube-empresa aos das associações sem fins lucrativos.  

    No Brasil, as empresas recolhem 25% do seu lucro para o IRPJ, 9% para o CSLL e 3% das receitas para o Cofins. 

    Pagando tudo isso de imposto, o Cuiabá ainda não consegue caminhar com as próprias pernas. Para chegar à elite do futebol brasileiro foi preciso muito investimento, já que o futebol não deu lucro quando a disputa aconteceu em divisões menores. 

    Apesar do otimismo em torno do andamento desse projeto, nenhum investidor vai aportar milhões de reais em uma operação que não consiga parar de pé. Essa é a premissa da iniciativa privada. E quando olhamos para as dívidas dos clubes brasileiros, especialmente se comparadas às receitas, a situação complica para muitos deles. A situação deve piorar ainda mais nos balanços referentes ao ano de 2020, porque os clubes sequer vão poder contar com as receitas vindas da bilheteria. 

    Além dos clubes, os investidores também precisam ser responsáveis, para se evitar casos negativos, como o do Figueirense. Em 2017, o clube catarinense repassou o futebol à holding de investimentos Elephant cuidar. Mas o contrato que teria 20 anos de duração terminou em dois, após a falta de pagamentos de salários e até de alimentação. O clube chegou a perder uma partida por W.O. por protesto dos jogadores. Em 2021, ano de seu centenário, vai disputar a Série C do Campeonato Brasileiro.

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