Presidente de federação de natação no Amazonas nega acusações de abuso
Ex-nadadoras denunciam Vitor Hugo Lopes Façanha, conhecido como "Botinho”, por abuso e assédio sexual
Por ligação telefônica, Vitor Hugo aceitou conversar e dar uma entrevista à CNN em que nega todas as acusações de assédio e abuso sexual. Ele disse que tem 43 anos de borda de piscina, treinou mais de dois mil atletas e que só teve um único episódio de problema com nadadora, que está correndo em segredo de justiça no Amazonas, e que nunca tocou ou teve qualquer tipo de relacionamento que não fosse além da relação treinador com suas alunas.
“Se te falaram, é a palavra deles contra a minha. Pessoas que te falaram isso aí, assim como algumas te disseram alguma bobagem, alguma mentira, outros negaram. Isso aí, inclusive as caronas que eu dava,os pais sabiam disso. Se tivesse tido algum problema, elas teriam falado com os pais e os pais teriam vir me falado. Nada nunca foi relatado”, alega.
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Sobre o processo contra ele movido por uma ex-nadadora na 15ª Vara do Juizado Especial Criminal do Tribunal de Justiça de Manaus, Façanha nega que assediasse a jovem. Segundo ele, a ex-atleta, na época, menor de idade, ia treinar com roupas que chamavam a atenção e incomodavam outros professores.
“Primeiro tens que conhecer o que foi que houve com a X.* (a ex-nadadora teve o nome preservado). Segundo, quem é a X.*. E terceiro, tu tens que ver que a X.* estava mentindo, porque, na época que ela fez isso, forçada pela mãe. Na época, os pais foram lá na direção do La Salle me defender. A X. me procurou em 2017, mandou mensagem para mim, dizendo que queria voltar a nadar. Ela é pobre, entendeu? E eu disse: me procura lá no La Salle e vem com os teus responsáveis’. E ela procurou. Eu não a recrutei, eu tenho isso inclusive até hoje no meu Messenger (aplicativo de troca de mensagens do Facebook), quando ela não tinha meu número e mandou. Mas está lá na minha defesa.”
“A X* começou a vir com a malha de academia muito chamativa, de atenção. Então ela fazia academia no La Salle antes e depois ia para a natação. 17 anos ela tinha. Por que tu estás dizendo que é chamativa? Porque o professor da academia me chamou e pediu para que eu falasse com ela, para que ela colocasse um short, botasse uma camisa em cima da malha, porque lá também malhavam pais de atletas. Eu não falei pra ela. Eu chamei a Lúcia (outra professora) e ela falou e ela prontamente colocou”, diz.
A mãe da jovem contesta o técnico e diz que teria sido ele quem insistentemente tentou recrutar a filha dela. “Um monstro que eu conheci com outra imagem, que chegou comigo, pediu para mim se a minha filha poderia treinar com ele. Ele foi atrás de mim numa quadra de escola de samba. Todo tempo atrás de mim: ‘Você deixa sua filha treinar comigo? Você deixa?’. Porque assim ele é. Um tipo de cara ele pegava aquelas meninas da periferia, menina pobre, da faixa baixa. Ele pegava, enganava elas, porque qualquer criança sonha estudar no La Salle, porque tem tudo lá dentro e, principalmente, a criança que pratica esporte”, conta.
Botinho disse que ajudou a sua ex-aluna com isenção de mensalidades da academia na equipe de natação do La Salle para ela conseguir treinar, mas que nunca a assediou e que os convites que fazia para se encontrarem fora do ambiente de treino eram para todo o grupo de nadadores.
“Eu sempre fiz comemorações quando a equipe ganhava e falava pra todo mundo: ‘Vamos pra pizzaria’, ‘Vamos fazer um banho’ e a X.* sempre chegava atrasada. Às vezes, que eu falei pra X.* ‘vamos pra pizzaria hoje?’, talvez, ela tenha entendido que eu estivesse chamando ela, só que ela tinha que ver que no começo do treino eu já tinha falado com os atletas que ia ter a comemoração da pizzaria. Se tu ver a distância da borda da piscina pra arquibancada pros pais não tem cinco metros. Qualquer coisa que eu falasse os pais ouviam”, explica.
Ele diz que está sofrendo retaliação da ex-atleta por ter contado à mãe dela sobre o não comparecimento da jovem aos treinos. “Aconteceu um problema que ela começou a chegar atrasada. Chamei a atenção dela, aí foi que gerou um problema. A mãe dela descobriu que teve uns dias que ela faltou. Ela molhava o cabelo e falava pra mãe que tinha ido (treinar), e lá ela não apareceu e ela se chateou comigo porque eu falei que ela não tinha ido. Aí ela foi e falou pra mãe dela que estava fazendo isso, porque eu tava chamando ela pra sair, que eu fazia esses convites e deu no que deu”, explica.
Sobre as outras sete jovens que denunciam o dirigente por abuso sexual e assédio quando ainda eram menores de idade, Vitor Hugo reforçou que nunca houve denúncias oficiais contra ele.
“Elas não estão denunciando. Estão falando isso porque foram procuradas por você (jornalista), porque denúncia nunca houve aqui. Eu acho que tu deves ter contactado com outras alunas que te falaram o inverso. E acredito até que me defenderam dessas meninas que te falaram isso. Então, eu não tenho preocupação nenhuma não. É claro que isso aí é uma importunação e eu vou ter que me defender. Que estão mentindo, estão. Porque se tivesse acontecido isso, na época, elas teriam falado, porque eu conheço os pais dos atletas ali. Eu defendo isso, inclusive”, conta.
Questionada sobre as denúncias contra Vitor Hugo, a CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos) disse que não pode divulgar informações sobre possíveis técnicos investigados e que o Comitê de Ética age apenas quando provocado. Ressaltam ainda que não são um órgão investigativo ou com poder de polícia e que não comentam reportagens.
Em nota, o Centro Educacional La Salle respondeu que, após ter tomado conhecimento pela responsável de uma das atletas que era menor de idade acerca da conduta do professor Vitor Hugo, em 2018, decretou imediatamente abertura de sindicância interna para apuração dos fatos.
“Foram ouvidos a menor, acompanhada de sua responsável, testemunhas (atletas e responsáveis) e o denunciado, que ficou afastado das atividades em razão da investigação. A Instituição de Ensino concluiu a sindicância com o envio de todos os depoimentos e outros documentos para a Delegacia Especializada em Proteção à Criança e ao Adolescente (Depca) formalizando a denúncia (Notícia Crime). À época, foram fornecidas as informações necessárias aos responsáveis pela menor envolvida, sendo entregue uma cópia do protocolo da Delegacia. Ressalta-se ainda que o professor não faz mais parte dos quadros da escola”, diz o colégio.