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    Jogadores comerem carne folheada a ouro constrange, diz padre Júlio Lancellotti

    Ao lado de Ronaldo, atletas da Seleção Brasileira foram até restaurante de luxo no Catar para comer prato famoso

    Bremer publica foto em churrascaria de luxo em Doha, no Catar
    Bremer publica foto em churrascaria de luxo em Doha, no Catar Reprodução/Instagram

    Henrique Sales Barrosda CNN

    Em São Paulo

    O padre Júlio Lancellotti criticou a ida de jogadores da Seleção Brasileira a um restaurante no Catar onde se serve carne folheada a ouro, afirmando que as imagens dos atletas comendo o prato “causam constrangimento”.

    “Estamos perdendo o senso do bem comum”, afirmou o padre em entrevista à CNN. “Devemos voltar a pensar no bem comum, não só no individual do ‘gosto, quero e posso'”, acrescentou.

    No domingo (3), o padre havia postado nas redes sociais um vídeo sobre a visita dos jogadores ao restaurante, com o comentário “vergonha”. À CNN, o ele diz que “vergonha não é bem a palavra”, e que o ato dos jogadores, na verdade, gera “constrangimento”.

    Atuante na Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, padre Júlio afirmou que o constrangimento se dá por ele conviver com “pessoas tão dignas quanto os jogadores, mas que não têm sequer um pão para comer”. “E são pessoas que gostam deles [dos jogadores]”, disse.

    Jogadores como Bremer, Vinícius Júnior, Éder Militão e Gabriel Jesus comeram a carne folheada a ouro em um dia de folga da seleção em meio à Copa do Mundo, na semana passada, na churrascaria de luxo Nusr-Et, do chef turco Salt Bae.

    Em seu site, a steakhouse é definida como um lugar de experiências e onde carnes são transformadas em “obras de arte”. O valor estimado do prato folheado a ouro se aproxima de R$ 10 mil. Além dos atletas brasileiros, jogadores da Seleção Espanhola e o polonês Robert Lewandowski também visitaram o local.

    Para o padre Júlio, não cabe julgar os jogadores pela ida ao restaurante – “eles são livres e têm livre arbítrio” -, mas sim criticar “a estrutura que a gente vive”, baseada na desigualdade social.

    De todo modo, segundo o padre, os jogadores não podem perder de vista o contexto social e econômico do Brasil. “E o contexto do Brasil é de fome e de miséria“, destacou o líder religioso.

    Críticas como as de Lancellotti foram rebatidas pelo ex-jogador Ronaldo, que também esteve na churrascaria de luxo degustando o prato ao lado dos jogadores. Segundo o Fenômeno, as imagens da ostentação podem servir de “inspiração” para outras pessoas.

    “Você está num lugar que provavelmente não vai voltar. É aproveitar a experiência. Não tem nada de errado. E se você for com um pouquinho mais de bom senso, pode ser inspirador para outras pessoas, para quem for correr atrás, para trabalhar, para correr atrás do sucesso e da vitória”, afirmou Ronaldo ao podcast Podpah no domingo (4).

    Pontuando que respeita a opinião do ex-jogador, Lancellotti disse que “todos sabemos que apenas uma minoria terá acesso a isso” e destacou um exemplo positivo vindo do mundo do futebol: Sadio Mané, atacante de Senegal e do Bayern de Munique, que realiza ações sociais em seu país de nascimento e evita ostentar bens de luxo.

    “Ele fala do coletivo, e não dele”, elogiou o padre, destacando algumas perguntas que os jogadores de alto nível devem se fazer: “de qual povo eu faço parte? Qual sofrimento esse povo tem? Como podemos ser um sinal de esperança para o mundo?”.