Autódromo de Interlagos completa 80 anos e ganha mural de Ayrton Senna
Inaugurado em 1940, o circuito de São Paulo recebeu etapas históricas da Fórmula 1; confira alguns dos fatos mais marcantes


Nesta terça-feira (12), o Autódromo José Carlos Pace, mais conhecido como Autódromo de Interlagos, completa 80 anos de existência. E em comemoração, será realizada a inauguração virtual de um mural feito pelo artista Eduardo Kobra, que enfeitará a torre de controle do circuito.
A obra é uma ilustração do dia em que o piloto Ayrton Senna ergueu o troféu de sua primeira vitória em Interlagos, conquistada no Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 de 1991. Ela será inaugurada oficialmente nesta terça em uma transmissão ao vivo na página de Senna, administrada pelo instituto que leva seu nome, no Facebook e no Youtube.
Apesar da homenagem, o Autódromo de Interlagos chega à sua oitava década ameaçado pela possível transferência da etapa brasileira de Fórmula 1 para o Rio de Janeiro e pelos entraves em sua concessão para a iniciativa privada, arquivada pela prefeitura depois que o Tribunal de Contas do Município (TCM) autuou a gestão de Bruno Covas por não cumprir suas exigências no projeto oferecido para as possíveis concessionárias do espaço, que abriga também um kartódromo, pistas menores e áreas administrativas.
Apesar das polêmicas dos bastidores, o circuito de Interlagos é marcado por momentos icônicos da principal categoria do automobilismo. Inaugurado em 12 de maio de 1940, com um público de 15 mil pessoas e o patrocínio de barões de São Paulo, o autódromo não tinha arquibancadas, boxes, lanchonetes, banheiros ou a torre de transmissão em que a obra inaugurada nesta terça foi pintada.
O espaço foi reformado apenas em 1971, para receber a Fórmula 1, já com um formato parecido com o dos dias de hoje. E após algum tempo fora do principal calendário do automobilismo, com a etapa brasileira transferida para o Rio de Janeiro, Interlagos voltou a receber a categoria em 1990, registrando eventos históricos nos últimos 29 anos. Confira alguns deles na lista abaixo.
1991: FIM DO TABU DE SENNA
A obra comemorativa dos 80 anos de Interlagos ilustra também uma grande superação de Ayrton Senna: sua primeira vitória em casa, depois de sete corridas e uma série de infortúnios.
Antes de sua vitória, em 1991, Senna já havia corrido no Brasil seis vezes, mas apenas uma delas na pista de São Paulo, depois que o Grande Prêmio foi transferido de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, para a terra natal do piloto.
Até 1989, entre pneus de baixa qualidade e problemas no motor, ele havia completado as 71 voltas da prova em apenas duas ocasiões, com um segundo lugar em 1986 e uma amarga 11ª colocação em 1989.
Na sua primeira vez em São Paulo, em 1990, Senna angariou o 3° lugar no pódio, depois de largar na pole position e ver problemas em sua asa dianteira o obrigarem a fazer um pit stop a mais.
Mas em 1991 nem mesmo as falhas técnicas tiraram o troféu dourado das mãos do piloto da McLaren, que teve problemas com o câmbio que o fizeram pilotar as últimas oito voltas do GP apenas com a sexta marcha, um feito relembrado regularmente por fãs da categoria.
2008: FELIPE MASSA É CAMPEÃO POR 23 SEGUNDOS
Em 2008, o Grande Prêmio do Brasil ainda era a última etapa no calendário anual da Fórmula 1 (hoje encerrado em Abu Dhabi). E a disputa de construtores entre McLaren e Ferrari levou o inglês Lewis Hamilton e o brasileiro Felipe Massa para a definição do título em Interlagos.
No dia 2 de novembro, Hamilton, então com 23 anos, foi para a pista com uma vantagem de 7 pontos na liderança em relação ao concorrente ferrarista. Mas Massa largava da primeira posição, enquanto o inglês estava na segunda fila, no quarto lugar.
Para conquistar o título, o piloto paulistano precisava ganhar a corrida e torcer para Hamilton não ficar entre as cinco primeiras colocações. A chuva, velha conhecida de Interlagos, chegou minutos antes da largada. E os acidentes, consequência conhecida da pista molhada, obrigaram a entrada do safety car já na primeira volta.
Depois das pancadas de chuva nos primeiros minutos de corrida, a pista começou a secar. Massa e Hamilton seguraram o máximo possível a primeira parada nos boxes e, depois da primeira parada, o brasileiro mantinha a liderança com facilidade.
Ele fez seu segundo pit stop na volta 38. Hamilton, na 40, quando ainda era o quarto colocado e cumpria o necessário para levar o título mundial. Mas o jovem piloto, em sua segunda temporada na Fórmula 1, era acompanhado de perto por Sebastian Vettel, então membro da Toro Rosso.
Quando a chuva voltou, na 63ª volta, a tensão se instalou em Interlagos. Os cinco primeiros colocados tiveram de voltar aos boxes para trocar os pneus. Hamilton e Vettel, quarto e quinto colocados, pararam ao mesmo tempo.
Foi nessa confusão que surgiu um sexto elemento chave no GP do Brasil de 2008: Timo Glock. O piloto da Toyota, que optou por não trocar seus pneus, angariou a quarta posição. Deixando Hamilton e Vettel na disputa pelo quinto lugar.
A pouca experiência de Hamilton começou a pesar. Ele errou o traçado da pista, deixando que Vettel tomasse a quinta colocação. Com duas voltas para o fim, pela primeira vez na corrida, Felipe Massa era campeão.
Com 13 segundos de vantagem, Massa recebeu a bandeirada quadriculada que confirmou sua vitória no Grande Prêmio do Brasil de 2008. Depois de 17 anos, um brasileiro era campeão da Fórmula 1.
Uma vitória que perdurou por exatos 23 segundos. Quando Glock, que mal se mantinha na pista com seus pneus para pista seca, não segurou Vettel, que assumiu a quarta posição, e nem Hamilton, que conseguiu o quinto lugar e o título inédito de campeão mundial da Fórmula 1 em 2008.
2016: VERSTAPPEN DA SHOW DE ULTRAPASSAGENS
A chuva é uma velha amiga das corridas em Interlagos. E em 2016, ela já estava presente desde a largada, dada com a presença do safety car diante da pista encharcada.
De início Insatisfeito, o público presente viu o tempo virar a partir da oitava volta, quando o carro de segurança voltou aos boxes e o holandês Max Verstappen, então com 19 anos, deu um show de ultrapassagens mesmo sob condições adversas.
Logo na primeira curva sem o safety car, no S do Senna, Verstappen, que largou na quarta posição, fez uma difícil ultrapassagem sobre o veterano Kimi Raikkonen para assumir o pódio temporário da corrida. Depois, em uma outra manobra na curva do sol, a promessa do automobilismo superou também Nico Rosberg, para conquistar a segunda colocação.
Mas tudo mudou depois da primeira ida de Max aos boxes. Uma escolha errada de sua equipe, a RBR, o deixou com os pneus errados na pista encharcada de Interlagos, levando o holandês para o 14°lugar.
Depois da falha estratégica, o que tornou aquele 13 de novembro inesquecível para Verstappen foram as ultrapassagens que concretizaram a maior recuperação do dia: um terceiro lugar, uma eleição unânime como piloto do dia e as comparações com o estilo de Ayrton Senna.