‘Maradona teve grandeza, mas não espírito esportivo’, diz goleiro inglês de 1986
Peter Shilton, goleiro da Inglaterra que levou gol da "Mão de Deus", elogia legado de Maradona, mas lamenta em artigo que argentino não tenha se desculpado
Em artigo publicado nesta quarta-feira (25) no jornal inglês Daily Mail, poucas horas após a morte de Diego Maradona, o ex-goleiro da Inglaterra na Copa do Mundo de 1986, Peter Shilton, afirmou que o ex-jogador argentino teve “grandeza”, mas que sua recusa em se desculpar pelo gol da “Mão de Deus” mostrou que “não tinha espírito esportivo”.
Poucos anos após a Guerra das Malvinas, Argentina e Inglaterra se enfrentaram nas quartas de final do Mundial de 1986, no México, com Shilton defendendo o gol inglês e Maradona vestindo a camisa 10 argentina.
A seleção sul-americana venceu por 2 a 1, com dois gols de Maradona: o primeiro de mão (lance que ficou conhecido como “La Mano de Dios“, ou “Mão de Deus” em português) e o segundo em uma jogada antológica em que o argentino arrancou do meio-de-campo e driblou seis adversários antes de marcar.
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Maradona morreu nesta quarta-feira, em Tigre, na Grande Buenos Aires, menos de um mês após seu 60º aniversário. Horas após a notícia, ainda em meio à comoção mundial, Shilton publicou o artigo no Daily Mail.
“Minha vida há muito está ligada à de Diego Maradona – e não da maneira que eu gostaria. Mas estou triste ao saber de sua morte tão jovem. Ele foi, sem dúvida, o melhor jogador que já enfrentei e meus pensamentos estão com sua família”, escreve o inglês na abertura do texto.
Ao longo do artigo, na sequência, Shilton detalha suas percepções sobre “La Mano de Dios“. Naquele lance, aos seis minutos do segundo tempo do jogo que ainda estava empatado em zero a zero, o inglês colidiu com Maradona em uma dividida ao sair do gol.
Sem chegar na bola com a cabeça, o astro argentino levantou o punho para fazer o primeiro gol argentino, em uma irregularidade que não foi percebida pelo árbitro.
“Uma violação clara. Trapaça”, escreveu Shilton sobre o lance no Daily Mail.
“Enquanto ele fugia para comemorar, ele até olhou para trás duas vezes, como se estivesse esperando o apito do árbitro. Ele sabia o que tinha feito. Todos sabiam – exceto o árbitro e dois auxiliares de linha.”
Maradona quatro minutos depois marcou um dos maiores gols de todos os tempos em uma Copa do Mundo, após driblar a metade da seleção inglesa, mas Shilton disse que o primeiro gol do argentino foi decisivo.
“Não me importa o que digam, isso (o lance da “Mão de Deus”) ganhou o jogo para a Argentina”, acrescentou.
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“Ele marcou um segundo (gol) brilhante quase imediatamente, mas ainda estávamos nos recuperando do que aconteceu minutos antes. Isso me incomodou ao longo dos anos. Não vou mentir sobre isso agora”, disse o inglês.
Shilton afirma que o fato de Maradona nunca ter se desculpado ainda irrita a ele e seus companheiros de seleção da Inglaterra naquela Copa do Mundo.
“Parece que ele tinha grandeza nele, mas infelizmente nenhum espírito esportivo. A maior parte da seleção da Inglaterra que jogou no México se sente como eu até hoje”, disse o jogador de 71 anos.
“No campo de futebol, os jogadores fazem coisas que talvez não devessem fazer. Acontece no calor do momento. Mas, se fosse alguém da nossa seleção da Inglaterra, eu gostaria de pensar que ele teria admitido depois”, acrescentou o ex-goleiro.
Ao fim do texto, Shilton ponderou que suas críticas ao lance não diminuem a história de Maradona.
“Espero que isso não manche o legado de Maradona. Como eu disse, ele era realmente um grande jogador – ao lado de nomes como Pelé”, diz o inglês.
(Com informções de Simon Jennings, da Reuters)