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    Futebol de SP tem mais atletas com Covid-19 do que qualquer liga no mundo

    Estudo confirmou 501 infecções pelo novo coronavírus entre atletas em 2020; FPF diz que testagem frequente possibilitou maior número de diagnósticos

    Léo Lopesda CNN , em São Paulo

    Um estudo conduzido na Universidade de São Paulo (USP) e obtido pela CNN aponta que a incidência de casos de Covid-19 entre os jogadores de futebol de São Paulo na temporada de 2020 supera qualquer liga esportiva no mundo.

    Os atletas paulistas estiveram tão expostos ao novo coronavírus quanto parte dos funcionários da saúde na linha de frente no combate à pandemia.

    A pesquisa analisou quase 30 mil testes para Covid-19 do tipo PCR realizados em 4.269 atletas e 2.231 membros da comissão técnica ao longo de 2020. Os profissionais estavam distribuídos entre 122 equipes que disputaram oito torneios organizados pela Federação Paulista de Futebol (FPF) em 2020 – seis da categoria masculina e dois da feminina.

    Os resultados apontaram que foram confirmados 501 infecções pelo coronavírus entre atletas. Isso corresponde a uma taxa de incidência de Covid-19 de 11.7%. Já entre os funcionários das equipes, foram confirmados 161 casos, equivalentes a uma taxa de 7,2%.

    De acordo com uma publicação da revista científica The Lancet Global Health, a soroprevalência detectada entre os funcionários da saúde que atuam na linha de frente no combate à pandemia varia entre 9,9% e 24,4%. A Covid-19 atingiu os jogadores de futebol paulistas de forma comparável a que atingiu os médicos trabalhando em hospitais.

    Os cientistas acreditam que a maioria dos casos estão associados ao contágio através de interações sociais, viagens constantes e transmissão comunitária, e não necessariamente pelas interações que acontecem durante uma partida.

    Uma das equipes mais afetadas chegou a apresentar 36 casos confirmados, sendo 31 deles em um intervalo de apenas um mês – os dados tratados na pesquisa mantém o anonimato dos clubes.

    Coordenador do estudo, o professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), Bruno Gualano, contou à CNN que a incidência de casos no futebol paulista é muito superior a de outros países que divulgam seus dados.

    Fachada da Federação Paulista de Futebol, em São Paulo
    Fachada da Federação Paulista de Futebol, em São Paulo
    Foto: Rogério Galasse/Futura/Estadão Conteúdo

    “A incidência aqui, por volta dos 12%, foi superior a do Catar, cerca de 4%, e a da Dinamarca, de 0,5%”, disse.

    A Bundesliga, principal liga de futebol alemã, teve uma incidência de apenas 0,6%. Ele pontua também que a taxa superior é também explicada pela quantidade expressiva de testes realizados. A pesquisa foi realizada em parceria com o Comitê Médico da FPF, que disponibilizou a base de dados para a análise.

    Porém, muitas equipes realizam os testes para Covid-19 em laboratórios independentes, o que pode levar a uma subestimação dos números reais.

    O estudo conclui que os dados da temporada passada colocam um ponto de interrogação em relação a segurança da realização da temporada 2021 do futebol paulista. É ressaltado que os atletas infectados podem ser potenciais vetores da doença, e que há negligência com o rastreio de contato de pessoas infectadas para que se consiga impedir a transmissão do vírus.

    “Para que a comunidade e os jogadores se protejam, somente com a criação de uma ‘bolha’, como a da NBA [em 2020]”, comenta Gualano. Os atletas do basquete americano passaram três meses isolados vivendo no complexo Walt Disney World, em Orlando, no estado da Flórida. As partidas foram realizadas no próprio complexo sem a presença de público.

    A pesquisa está sob revisão de pares para ser publicada em uma revista científica. Ela foi realizada no contexto do consórcio Esporte-Covid-19, formado por pesquisadores da Universidade de São Paulo, do Hospital das Clínicas, Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital do Coração (HCor), Complexo Hospitalar de Niterói, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia e Núcleo de Alto Rendimento Esportivo.

    Em nota enviada à CNN, a FPF afirmou que “existem enormes diferenças entre os países/ligas que inviabilizam, do ponto de vista científico, essas correlações [de casos e infecções]”.

    A federação pontua, por exemplo, a diferença entre os protocolos de saúde entre os países, os diferentes momentos da pandemia em cada país e a diferente velocidade de transmissão da Covid-19 em cada país.

    Ainda de acordo com a organização, a testagem frequente de atletas possibilitou um maior número de diagnósticos.

    “Todos os envolvidos no futebol paulista foram rigorosamente orientados para os devidos cuidados de prevenção, constantes no protocolo. Entretanto, a maior parte dos testes positivos está relacionada ao não cumprimento do protocolo, cujas contaminações se dão essencialmente fora do ambiente do futebol. Por isto, inclusive, a FPF estuda com os clubes estabelecer punições aos profissionais que descumprirem os protocolos de saúde estabelecidos”, disse a FPF.

    Aprimoramento do protocolo

    Ns segunda-feira (29), o Comitê Médico da FPF sugeriu um aprimoramento do Protocolo de Saúde da competição para que os jogos sigam acontecendo. A ideia é que os atletas sejam mantidos em “ambientes controlados”, como a “bolha” da NBA, com testagem antes e após cada partida e rastreamento de contato de casos confirmados.

    A Federação pretende apresentar a proposta ao Ministério Público Estadual e ao Governo de São Paulo.

    Desde o último dia 22, o Paulistão foi paralisado até que se encerre a “fase emergencial”, decretada pelo governo estadual para tentar conter a nova alta de casos em São Paulo.

    O campeonato chegou a realizar jogos na cidade de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, para driblar a proibição de eventos esportivos, mas a estratégia foi abandonada.

    *Sob supervisão de Evelyne Lorenzetti

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