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    Como a arte de unhas se tornou um ritual de beleza de atletas nas Olimpíadas

    Ao longo dos anos, as artes de unhas olímpicas se tornaram um ritual de torneio para algumas atletas e uma forma de diplomacia suave para outras

    Megan C. Hills, da CNN

    Enquanto a velocista olímpica Dina Asher-Smith corria sobre a linha de chegada nas semifinais femininas dos 100 metros, as fotos capturaram suas vibrantes unhas azuis enquanto ela comemorava. Pode ter parecido apenas mais um dos looks elegantes de competição de Asher-Smith, mas o zoom em sua manicure revelou uma recriação meticulosa de uma obra-prima japonesa: “A Grande Onda de Kanagawa”, de Hokusai.

    A profissional por trás da manicure, Emily Gilmour, disse que a atleta britânica estava “muito envolvida” no processo de design. As unhas “celebraram” intencionalmente o país anfitrião das Olimpíadas, ela explicou por e-mail, acrescentando: “ela [Asher] queria um aceno para a cultura japonesa”.

    Em todas as Olimpíadas, espera-se que os atletas profissionais atuem como porta-vozes de suas nações no cenário global. O escrutínio público vai além de proezas esportivas para abranger sua presença nas redes sociais e aparência física — a arte de unhas inclusive.

    Ritual olímpico

    Ao longo dos anos, as artes de unhas olímpicas se tornaram um ritual de torneio para algumas e uma forma de diplomacia suave para outras, quer isso signifique seguir o exemplo de Asher-Smith ao homenagear o país anfitrião ou ostentar orgulhosamente bandeiras em unhas de gel em uma demonstração de patriotismo.

    Gilmour acredita que as manicures ousadas se tornaram populares entre as atletas por serem “atraentes” e uma maneira de “se expressar, enquanto seus uniformes combinam uns com os outros”. 

    Enquanto as manicures vistosas costumam ter uma abordagem mais lúdica ou patriótica, a saltadora sueca Emma Green Tregaro usou as dela politicamente no Campeonato Mundial de Atletismo de 2013 em Moscou, onde exibiu unhas de arco-íris em protesto contra a proibição russa da chamada “propaganda” gay. 

    Italiana Martina Criscio homenageou o Japão com a arte de suas unhas
    Italiana Martina Criscio homenageou o Japão com a arte de suas unhas
    Foto: Hassan Ammar/AP

    Depois de ser informada de que estava violando as regras (o órgão regulador do esporte avisou que Tregaro pode ter violado o código de conduta do evento), ela as repintou de vermelho.

    As artes de unha têm se tornado cada vez mais comum nos Jogos, com alguns comitês organizadores agora instalando salões de manicure nas vilas olímpicas, onde os atletas vivem durante todo o evento.

    Manicure em Tóquio

    Apesar das restrições por causa do novo coronavírus, um salão de manicure ainda foi montado para os participantes em Tóquio este ano, e atletas, incluindo a jogadora de vôlei dos Estados Unidos Kelsey Robinson, compartilharam passeios pelo espaço no TikTok.

    À CNN, por e-mail de Tóquio, Robinson disse que os salões de manicure da Vila Olímpica eram incrivelmente populares. “Às vezes pode ser difícil conseguir uma reserva para o dia”, disse a atleta.

    O início de uma tradição

    A tradição olímpica das unhas começou quando Florence ‘Flo-Jo’ Griffith Joyner, uma velocista do time dos Estados Unidos e a “mãe das manicures incríveis”, trouxe sua experiência como ex-profissional de unhas para a pista. 

    Sua lendária apresentação nas Olimpíadas de Seul, em 1988, que a viu quebrar vários recordes, também contou com uma manicure que entrou para a história: um conjunto de unhas enfeitadas com cristais em vermelho, branco, azul e dourado. Eles combinaram bem com as três medalhas de ouro que ela ganhou naquele ano e podem ter inspirado futuras atletas olímpicas a seguirem seus passos.

    Florence Griffith-Joyner, dos Estados Unidos, deu início à tradição das artes de
    Florence Griffith-Joyner, dos Estados Unidos, deu início à tradição das artes de unhas
    Foto: Tony Du/Getty Images

    À CNN em 2012, mais de uma década após a morte de Joyner, seu marido, Al, disse: “toda vez que você vê uma mulher nos 100 ou 200 metros com maquiagem e unhas, é Florence. Ela fez isso com estilo e fez com velocidade.”

    Desde então, a popularidade da arte de unhas cresceu entre os olímpicos. “É uma forma de os atletas se expressarem além de suas performances”, disse Robinson.

    Destaque

    No caso da nadadora olímpica de Hong Kong Camille Cheng, também é uma forma de se destacar além do uniforme. “Como nadadores, corremos com tocas, óculos e macacões bem convencionais”, disse ela por e-mail de Tóquio. “Eu sinto que fazer minhas unhas adiciona um pouco da minha personalidade.”

    A manicure de gel macia pintada à mão de Cheng exibia os anéis olímpicos, a bandeira japonesa e a flor que aparece na bandeira de Hong Kong. A artista de unhas Nana Chan, do salão de Hong Kong Tinted, também criou miniaturas de nadadores lutando contra ondas.

    “Para esta Olimpíada, eu queria ter Hong Kong representada, o Japão (já que está sendo sediado em Tóquio), os anéis olímpicos e algo relacionado à água ou natação”, explicou Cheng, que também competiu nos Jogos Olímpicos do Rio de 2016. “Estamos orgulhosas de representar nosso país no maior palco do esporte e refletimos isso em nossas unhas.”

    Italianas do ciclismo exibem suas unhas antes de competirem
    Italianas do ciclismo exibem suas unhas antes de competirem
    Foto: Christophe Ena/AP

    A fundadora da Tinted, Carroll Lee, chamou de “honra” trabalhar com Cheng, enquanto a artista de unhas Chan disse: “foi quase como se Camille estivesse trazendo meu espírito com ela para participar das Olimpíadas”.

    Muitos outros atletas adotaram uma abordagem patriótica nos Jogos deste ano, incluindo a tenista suíça Belinda Bencic, que fez referência à bandeira de seu país com uma manicure vermelha completa com uma cruz branca, e a skatista brasileira Rayssa Leal, de 13 anos, que pintou cada unha com um tom de sua bandeira nacional.

    Outros também buscaram tributos mais sutis: em uma aparente referência à bandeira do Japão, Naomi Osaka pintou suas pontas de vermelho e branco, enquanto a atiradora francesa Melanie Couzy usava uma manicure cinza com listras de vermelho, branco e azul.

    Talismãs

    Outras atletas tentaram usar suas artes de unha como amuleto, com algumas, incluindo a lutadora britânica de taekwondo Jade Jones, pintando medalhas de ouro e anéis.

    Certamente valeu a pena para a halterofilista filipina Hidilyn Diaz, que também teve uma medalha de ouro pintada em suas unhas, ao ganhar o primeiro ouro olímpico das Filipinas na semana passada.

    Certificar-se de que os talismãs permaneçam no lugar é outro problema, no entanto. Para os designs elaborados de Asher-Smith, Gilmour criou um conjunto de prensas “facilmente aplicadas com cola de unha”, pois eram mais adequadas para esportes de alta intensidade nos quais “as unhas podem incorrer em pressão”.

    Ciclista Mathilde Gros, da França, exibe as cores francesas em suas unhas
    Ciclista Mathilde Gros, da França, exibe as cores francesas em suas unhas
    Foto: Christophe Ena/AP

    A ManiMe, uma empresa especializada em unhas de gel adesivas que levam apenas 15 minutos para serem aplicadas, também forneceu produtos semelhantes para a equipe de remo feminino dos Estados Unidos recentemente, com a fundadora, Jooyeon Song, dizendo por e-mail que as atletas “estavam procurando uma solução de unhas que poderia resistir à exaustiva programação de treinamento aquático”.

    Para outras, como Cheng, a manicure se tornou um “ritual pré-corrida” e uma forma de autocuidado em meio a um treinamento intenso.

    “Trabalhamos muito durante a temporada e, para mim, a parte divertida é começar a correr”, disse ela. “Sinto que fazer minhas unhas é como uma sessão de mimos (e uma maneira de) cuidar de si mesma pelo trabalho duro.”

    (Este texto foi traduzido do inglês; leia aqui o original)

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