Além das medalhas: brasileiras deixam Tóquio com quebra de marcas históricas
Participação feminina consolidada crescimento e desafia protagonismo dos homens
No momento em que Rayssa Leal subiu no pódio da Ariake Sports Park em 26 de julho, as mulheres brasileiras iniciaram uma trajetória de quebra de marcas históricas que culminou na melhor campanha feminina do Brasil em Olimpíadas.
Não por acaso, as Olimpíadas de 2020 também renderam ao país seu melhor desempenho, com 21 medalhas no total. Delas, nove foram das mulheres, que superaram o recorde feminino de sete pódios em Pequim-2008. Também de forma inédita, elas conquistaram três medalhas de ouro em uma mesma edição.
Por trás dessa marca geral, estão vitórias, recordes e uma redução cada vez maior do protagonismo masculino, historicamente privilegiado pelas entidades que comandam o esporte do país (e do mundo).
Os nove pódios das brasileiras representaram 42,8% das medalhas do país em Tóquio, o que também é um recorde histórico. Esse número, no entanto, diz pouco na representação do crescimento feminino na equipe olímpica do Brasil.
As mulheres brasileiras só participaram dos Jogos Olímpicos pela primeira vez em 1932, com a nadadora Maria Lenk – a única atleta em uma delegação que contava, também, com 65 atletas homens. Essa representação feminina nunca ultrapassou a marca dos 15% até as Olimpíadas de Seul, em 1988, mais de 50 anos depois.
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Não à toa, os primeiros pódios das brasileiras só aconteceram em 1996: ouro e prata no vôlei de praia, com as duplas Jacqueline Silva/Sandra Pires e Mônica Rodrigues/Adriana Samuel, prata no basquete e bronze no vôlei.
A primeira medalha em um esporte individual aconteceria apenas em Pequim-2008, com o bronze da judoca Ketleyn Quadros. Dias depois, Maurren Maggi venceu o salto em distância na capital chinesa e foi a primeira campeã olímpica brasileira fora dos esportes coletivos.
Da China ao Japão, os últimos quatro Jogos Olímpicos consolidaram a força feminina do Brasil, que se prepara para quebrar mais barreiras de gênero para brilhar ainda mais em Paris, daqui a três anos.
Fada precoce
A estreia do skate nas Olimpíadas 2020 fez o Brasil se deparar com uma possibilidade de, pela primeira vez na história, “fechar” um pódio com três atletas. Isso aconteceu na categoria street entre as mulheres, onde Rayssa Leal, Pâmela Rosa e Letícia Bufoni entraram como candidatas ao ouro.
Rayssa, a “Fadinha”, confirmou as expectativas, ficou com a medalha de prata e se tornou a mais jovem medalhista da história brasileira, com apenas 13 anos.
No dia 29 de julho, Mayra Aguiar foi medalha de bronze pela terceira vez consecutiva na categoria até 78 kg do judô, repetindo os pódios de Londres-2012 e Rio-2016. Assim, a judoca de 29 anos saiu de Tóquio dentro de um seleto grupo de brasileiros que conquistou medalhas em pelo menos três Olimpíadas diferentes, considerando os esportes individuais. Mayra é também a primeira mulher a conseguir esse feito entre os atletas do país.
A cada medalha, uma marca histórica
Nesse mesmo 29 de julho, Rebeca Andrade começou a sua saga em Tóquio. Primeiro, ficou com a medalha de prata no individual geral da ginástica artística feminina, um pódio inédito para o país na prova que premia justamente o ginasta mais completo em quatro aparelhos.
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A consagração definitiva veio no dia 1º de agosto, quando Rebeca conquistou a medalha de ouro na final do salto. O feito veio recheado de marcas históricas: primeiro ouro do Brasil no salto, primeiro ouro de uma brasileira na ginástica artística, primeira vez em que uma mulher do país conquista mais de uma medalha em uma mesma Olimpíada.
Entre os dois títulos de Rebeca, Laura Pigossi e Luisa Stefani alcançaram um feito que parecia impossível. Elas, que são parceiras de tenistas de outros países no circuito profissional de duplas, só descobriram sobre a possibilidade de participação nas Olimpíadas 2020 uma semana antes da abertura dos Jogos.
A dupla improvável venceu quatro de cinco partidas – incluindo uma virada histórica no tie break da disputa pelo terceiro lugar – e conquistou a medalha de bronze. O tênis brasileiro já teve atletas como Gustavo Kuerten e Fernando Meligeni disputando os Jogos, mas coube a Laura e Luisa a honra de conquistar a primeira medalha brasileira na modalidade.
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Supremas
No dia 3 de agosto, a dupla que marcou seu nome na história foi Martine Grael e Kahena Kunze, que repetiram o título na categoria 49erFX conquistado no Rio-2016. As duas velejadoras estão entre os poucos bicampeões olímpicos do Brasil de forma consecutiva: os outros são Adhemar Ferreira da Silva (ouro no salto triplo em Helsinki-1952 e Melbourne-1956) e seis jogadoras da seleção de vôlei que venceu em Pequim-2008 e Londres-2012 (Fabi Oliveira, Jaqueline Carvalho, Fabiana Claudino, Paula Pequeno, Thaísa Menezes e Sheilla Castro).
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O terceiro e último ouro feminino do Brasil ocorreu com Ana Marcela Cunha, uma das maiores atletas da história da maratona aquática e que finalmente confirmou seu favoritismo também em uma final olímpica. A baiana, inclusive, recebeu a medalha de ouro e soltou uma das frases mais emblemáticas sobre a participação feminina na sociedade.
Mulher pode ser o que ela quiser, onde ela quiser, a hora que quiser
Ana Marcela Cunha, medalha de ouro na maratona aquática
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As últimas duas medalhas vieram no dia final das Olimpíadas 2020. Beatriz Ferreira, na categoria até 60 kg do boxe, e a seleção feminina de vôlei ficaram com a prata nas decisões disputadas no domingo. Mesmo com derrotas na final, a boxeadora e a equipe marcaram sua passagem por Tóquio com trajetórias seguras, vencedoras e que asseguraram mais um pódio.