Van Halen achou que ninguém ouviria música com Michael Jackson; relembre
Guitarrista lendário morreu nesta terça-feira (6), vítima de câncer
Lenda do rock’n’roll, Eddie Van Halen morreu nesta terça-feira (6) aos 65 anos, após uma longa batalha contra um câncer.
Nascido em uma família musical, ele comprou aos 12 anos sua primeira guitarra, que aprendeu a tocar sozinho. No ensino médio, já era o principal guitarrista da banda que leva seu sobrenome, Van Halen.
Ao longo de quatro décadas, o conjunto lançou mais de uma dúzia de álbuns. O auto-intitulado Van Halen, de 1978, vendeu mais de dez milhões de cópias.
É de Eddie um dos riffs mais marcantes da história, o de Beat It, de Michael Jackson. Em entrevista à Denise Quan da CNN em 2012, ele detalhou a colaboração, em homenagem ao 30º aniversário do álbum Thriller, obra-prima do rei do pop. Van Halen conta que fez a participação como um favor e pensou que ninguém fosse saber.
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Leia a entrevista
Eddie Van Halen se senta em um sofá do estúdio em sua casa, fumando um cigarro eletrônico e se lembrando do passado, em homenagem ao 30º aniversário da obra-prima de Michael Jackson, o álbum Thriller.
“Parece ontem, não é mesmo”, diz, suavemente. “Seria divertido trabalhar com ele novamente”.
Van Halen foi um convidado surpresa em Beat It, o terceiro single do disco. O solo intenso de guitarra dura 20 segundos e demorou meia hora para ser gravado.
Ele o fez gratuitamente, como um favor ao produtor Quincy Jones, enquanto o restante dos colegas de banda estavam viajando.
“Eu disse a mim mesmo, ‘quem vai saber que eu toquei no álbum dessa criança, né? Ninguém vai descobrir’. Errado!”, ele ri. “Grande erro. Acabou sendo o Álbum do ano”.
O integrante do Hall da Fama contou à CNN o que aconteceu nos bastidores de sua colaboração icônica com o rei do pop.
CNN: Quando Quincy te ligou, você achou que fosse um trote.
Eddie Van Halen: Eu explodi com ele. Eu falei, “O que é que você quer, seu fulano?”. E ele respondeu, “É o Eddie?”. Eu disse, “Sim, e o que é que você quer?” “Aqui é Quincy.”
E eu penso comigo mesmo, “Eu não conheço ninguém chamado Quincy”. Ele continuou, “Quincy Jones, cara”. Aí, eu fiquei, “Ahhhh, me desculpe!” (risadas)
Eu perguntei, “O que posso fazer por você?”, e ele disse, “Você gostaria de vir e tocar no novo álbum do Michael Jackson?”, e eu estou pensando comigo mesmo, “Ok. ‘ABC, 1, 2, 3’ e eu. Como isso vai funcionar?”
Eu ainda não estava 100% certo de que era ele. Eu disse “Vou te dizer. Eu te encontro no seu estúdio amanhã”. E lá estavam, quando eu cheguei, Quincy, Michael Jackson e os engenheiros. Eles estavam gravando um disco!
CNN: O Quincy te deu alguma direção sobre o que ele gostaria que você fizesse?
VH: Michael saiu para ir em outra sala fazer uma gravação de voz infantil. Eu acho que era E.T. ou algo assim. Então eu perguntei a Quincy, “O que você quer que eu faça?”, e ele disse, “O que você quiser fazer”.
E então, eu fiquei, “Cuidado quando você diz isso. Se você conhece qualquer coisa sobre mim, tenha cuidado quando diz ‘faça o que quiser!'”
Eu ouvi a música e eu, imediatamente, disse, “Posso mudar algumas partes?” Eu virei para o engenheiro e disse “ok, do começo, corte nessa parte, vá até a essa parte, pré-refrão, até o refrão, fim”. Levou talvez dez minutos para juntar. E eu, então, improvisei dois solos em cima disso.
Eu estava terminando o segundo solo quando Michael Jackson entrou. E você sabe que artistas são meio que pessoas doidas. Nós somos todos meio estranhos.
Eu não sabia como ele reagiria ao que eu estava fazendo. Então eu o alertei antes que ele ouvisse. Eu disse “olha, eu mudei a seção do meio da sua música”.
Agora, na minha cabeça, ou ele faria com que seus seguranças me chutassem para fora, ou ele iria gostar. Então, ele ouviu e virou para mim, dizendo, “Uau, muito obrigado por ter a paixão de não só vir aqui e soltar um solo, mas de realmente se importar com a música e torná-la melhor”.
Ele era esse gênio musical com essa inocência quase infantil. Ele era tão profissional e tão doce.
CNN: Essa colaboração pegou muita gente de surpresa.
VH: Eu nunca vou me esquecer de quando a Tower Records ainda era aqui em Sherman Oaks. Eu estava comprando algo e Beat It estava tocando no sistema de som da loja. O solo começa e eu ouço essas crianças na minha frente dizendo, “ouçam esse cara tentando soar como Eddie Van Halen”. Eu o cutuquei e disse, “Esse SOU eu!”. Aquilo foi hilário.
CNN: Como você explicou aos caras do Van Halen o que aconteceu?
VH: Eu só disse, “Você sabe. (encolhe os ombros). Pego no flagra! Dave, você estava fora do país! Al, você não estava por perto!” Eu não podia ligar para ninguém para pedir permissão.
Infelizmente, Thriller impediu que nosso álbum 1984 chegasse ao número um nas paradas. Nosso álbum estava quase no número um quando ele [Michael] queimou o cabelo dele naquele comercial da Pepsi, se você se lembra daquilo. E bum, ele foi direto para o número um de novo!
CNN: Houve um álbum desde então que balançou as coisas da mesma maneira?
VH: Nossa, eu não sei.
CNN: Alguns citam Nevermind, do Nirvana, como um que causou uma mudança na música.
VH: Mas não daquele jeito. Não que tenha atingido uma audiência tão massiva. O Nirvana era enorme, mas não tinha apelo para todos.
Eu tenho muito respeito pelo Michael. Ele vai fazer muita falta. Eu fico curioso com o que ele estaria fazendo agora.
CNN: Eu acho que o Quincy disse que ele te pagou com uma dúzia de cervejas.
VH: É, algo assim. Na verdade, eu acho que eu trouxe as minhas, se me lembro direito.
Eu acho nem que sou creditado no álbum. Só diz, “Solo de guitarra: Ponto de interrogação”, ou “Solo de guitarra: Frankenstein” [é o nome da guitarra de Van Halen].
CNN: Você falou com o Quincy de novo?
VH: Bem no final, Quincy escreveu uma carta de agradecimento para mim. Estava assinado como “Seu fulano”, e eu ainda a tenho. É muito engraçado.
(Texto traduzido, leia o original em inglês)