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    Streaming x ao vivo: qual o futuro dos programas de auditório?

    Apesar do avanço da tecnologia, televisão ainda tem mais de 70% de público no mercado

    Bárbara Carvalhocolaboração para a CNN , São Paulo

    O avanço do consumo sob demanda das plataformas de streaming está ressignificando a forma como o ser humano se comporta diante das telas.

    Antes restrita às televisões aberta e por assinatura, a audiência está cada vez mais fragmentada, dividindo a atenção de um público conectado às mais diversas ferramentas existentes, como YouTube e TikTok, além de serviços como HBO Max e Netflix, com um vasto catálogo de filmes, séries e documentários.

    Evolução e pandemia de Covid-19

    A mudança de hábitos de consumo, que já estava em andamento desde a chegada do YouTube no Brasil, há cerca de 16 anos, foi alavancada por outro fator muito importante: a pandemia de Covid-19. A constatação é de Daniela Pfeiffer Fernandes, mestre em Comunicação Social pela PUC-Rio, diretora-executiva no Centro Cultural Justiça Federal e professora na ESPM e na Facha (Faculdades Integradas Hélio Alonso).

    “Com o isolamento social imposto pelo contexto da pandemia, as pessoas que não tinham o hábito de consumir conteúdo em casa viram nesta uma das únicas opções de lazer disponíveis naquele período. Em virtude disso, houve um crescimento exponencial do streaming com o surgimento de novos canais e plataformas, além da melhoria dos que já existiam”, explica.

    Para Daniela, a evolução no consumo audiovisual possui um impacto direto nas características, modelos de negócio e na própria dinâmica das janelas.

    “Se antes era necessária uma estrutura cara e de logística desafiadora para fazer um filme, com processos complexos envolvendo, por exemplo, transporte de latas, revelação, hoje em dia é possível gravar e editar um produto audiovisual utilizando apenas um aparelho celular e disponibilizá-lo na internet em questão de segundos.”

    Programas de auditório ao vivo

    Mas a TV aberta ainda explora um filão que não existe nos streamings: os programas de auditório ao vivo.

    Esse tipo de atração televisiva está no chamado gênero de variedades, e busca prender a atenção do espectador pela mistura de diferentes formatos e mesclando conteúdos informativos e de entretenimento como games, quadros de realities e apresentações musicais, segundo Renato Tavares Junior, coordenador e professor do curso de Rádio, TV e Internet da Faculdade Cásper Líbero e autor do livro “Programação de TV: conceitos, estratégias, táticas e formatos”.

    Segundo o professor, programas de TV ao vivo se diferenciam dos conteúdos pré-gravados e editados das plataformas de streaming à medida em que as equipes de realização utilizam elementos de tempo real para oferecer ao espectador sensações de frescor e de prontidão, reforçando a impressão de ineditismo do conteúdo e de adaptação às circunstâncias do momento presente.

    “Muitos programas de auditório carregam a temporalidade em suas longevas exibições nos mesmos dias e horários ou até mesmo no nome da atração (por exemplo “Domingo Legal” do SBT e “Domingão com Huck” na Globo) propiciando uma segurança ontológica para que o espectador se reconheça em um sentido de continuidade com os acontecimentos da vida”, diz.

    Questionado sobre qual indivíduo costuma ainda consumir programas televisivos em formato de auditório e ao vivo, Renato enfatiza que é um público bem diversificado, pois sua audiência depende de variáveis como horário de exibição, perfil e nível de segmentação de emissora aberta ou por assinatura e organização das pautas (multitemáticas ou monotemáticas).

    “Não podemos afirmar que o streaming está matando a televisão, pois vivenciamos um momento de convivência das diversas tecnologias para acesso a um vasto ecossistema audiovisual em diferentes telas”, diz o docente.

    Por sua vez, Daniela Pfeiffer explica que o público da televisão está envelhecendo, o que tem motivado os executivos responsáveis pelos canais a buscarem uma renovação de talentos e conteúdos, numa tentativa de atrair (ou pelo menos manter) a audiência, diante da popularização das demais plataformas de conteúdo audiovisual.

    “Conhecemos a tradição das novelas brasileiras, dos programas jornalísticos e das transmissões esportivas na TV aberta. No entanto, o streaming vem experimentando novos caminhos e ocupando seu espaço, inclusive com a oferta de conteúdos nestes formatos”, comenta.

    Mudanças comportamentais

    Para Pfeiffer, a principal mudança que o streaming trouxe foi nos hábitos de consumo audiovisual. O público, antes acostumado a ser pautado pela programação dos cinemas e canais de televisão, passou a ter o poder de escolher quando e onde assistir ao conteúdo. Devido às novas tecnologias, esse consumo começou a acontecer também em ambientes onde antes isso não seria possível, tais como transporte público, salas de consultas, dentre outros.

    Outra alteração diz respeito à relação do público com a forma de consumo deste conteúdo. O poder de concentração ficou mais curto, e isso acarretou em mudanças no próprio formato dos conteúdos, favorecendo as séries, por exemplo.

    “Para saber que quem não se reinventar ficará para trás, basta observar o comportamento do consumidor e as mudanças que o streaming trouxe”, diz.

    Futuro dos programas de auditório com o avanço dos streaming / Reprodução Pexels

    Duelo pela interação

    Ainda que a televisão tenha sua audiência, as plataformas de streaming começam a explorar formatos que se aproximam daquilo que os programas de televisão oferecem, como transmissões de partidas gamers e jogos de futebol, além de interação ao vivo via chat e redes sociais.

    “Historicamente, a interação com o público tem sido fundamental para atrair e manter a audiência dos canais. No caso das emissoras de TV aberta, quanto mais interação, maior a audiência e, portanto, maior o apelo junto a potenciais anunciantes. Num futuro próximo, as plataformas terão a possibilidade de oferecer tudo o que a TV oferece, e mais um pouco, devido aos avanços tecnológicos”, reforça.

    Este modelo faz com que a criação e sustentabilidade dos canais de televisão tenham relação direta com o público que se interessa por seus conteúdos, uma vez que a perda de audiência para serviços de streaming pode acarretar em diminuição de receita junto aos anunciantes.

    TV aberta x streaming

    Mesmo com o aumento no consumo de mídias em plataformas móveis, um levantamento realizado em setembro deste ano pela “Kantar IBOPE Media”, empresa que atua no segmento de pesquisas de mídia no mercado, revelou que a televisão domina com folga a audiência brasileira, superando os serviços de vídeos sob demanda.

    Com base nos números captados na pesquisa “Share de Audiência – Setembro/2023“, em domicílios nas 15 regiões metropolitanas medidas pela Kantar IBOPE Media, foi possível conferir a participação do consumo de vídeo de todas as telas em uma rede de internet doméstica, desconsiderando o consumo de redes banda larga móvel.

    A amostra de domicílios ocorre nas seguintes regiões: Gde. São Paulo, Gde. Campinas, Gde. Rio de Janeiro, Gde. Belo Horizonte, Gde. Vitória, Gde. Porto Alegre, Gde. Curitiba, Gde. Florianópolis, Gde. Goiânia, Distrito Federal, Gde. Salvador, Gde. Fortaleza, Gde. Recife, Belém e Manaus.

    Para as amostras de audiência, a empresa de pesquisa se utiliza de dois aparelhos eletrônicos: “Peoplemeter”, conectado às TVs dos domicílios que participam de sua amostra e que medem se a televisão está ligada e em qual o canal da TV Aberta ou TV Paga está em sintonia; e “Focal Meter”, instalado na rede de Internet da amostra, que afere todo o consumo de vídeo, em todas as telas do domicílio.

    Números da pesquisa – setembro 2023

    • TV linear – aberta e por assinatura: 70,6% de audiência, com destaque para a TV aberta, com 61,2% de market share; e
    • Vídeos on-line e sob demanda: 29,4%, com a liderança da plataforma “YouTube”, detentora de 17,7% do mercado.
    Reprodução/Kanter Ibope

     

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