Spike Lee revisita o legado da Guerra do Vietnã em ‘Destacamento Blood’
Novo filme do diretor de Malcolm X e BlacKkKlansman está disponível na Netflix
Apenas o momento atual dá a Destacamento Blood, de Spike Lee, um ardente senso de urgência, contemplando a desigualdade racial pelo prisma da Guerra do Vietnã. Apesar de momentos poderosos, o filme em si não atinge suas ambições consistentemente, misturando filmes antigos divertidamente enquanto se deixa levar com muitos desvios na rota até seu destino.
Principalmente, o lançamento da Netflix dá forte demonstração de suas estrelas de 60 e poucos anos, como Delroy Lindo (em seu quarto filme com Lee), Clarke Peters e Isiah Whitlock Jr., de The Wire, e Norm Lewis como um quarteto de veteranos negros que viajam de volta ao Vietnã, décadas depois. Eles aparentemente procuram pelos restos mortais de um camarada (Chadwick Boseman, nos flashbacks), mas há um outro prêmio, mais prático: barras de ouro, escondidas quando ele morreu.
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Lee abre o longa (que tem mais de duas horas e meia de duração) com uma montagem que define a fundação histórica, dos anos 1960 até os dias atuais. Paul, interpretado por Lindo, horroriza seus colegas ao usar um boné MAGA (Make America Great Again, bordão de Trump), desencadeando uma das muitas observações críticas ao atual presidente dos Estados Unidos.
Soldados negros, é notado no filme, lutaram e morreram por um país que não cumpriu a promessa que fez a eles quando retornaram. Isso gera várias ideias sobre o que fazer com o tesouro escondido — após, claro, do árduo trajeto para encontrá-lo.
Não surpreendentemente, essa jornada não é tranquila e encontra empecilhos no percurso. Eles incluem uma loucura causada pela ideia da riqueza, em um claro aceno a Tesouro de Sierra Madre — Lindo é basicamente o personagem de Bogart — apesar de vários clássicos, como Apocalypse Now e A Ponte do Rio Kwai, também ganharem referências.
As conexões, no entanto, eram mais claras ali. Parte disso tem a ver com a origem do projeto, uma vez que Lee e seu colaborador em BlacKkKlansman Kevin Willmott basicamente reformaram um roteiro já existente sobre soldados procurando por fortunas, enquanto embarcam em várias tangentes, como o relacionamento de Paul com seu filho adulto (Jonathan Majors), que, inesperadamente, se junta a eles.
Lee tem um jeito que equilibrar várias ideias junto de seus filmes, mas ao usar a metáfora da guerra, ele luta em fronts demais ao tentar avançar a história e seus enredos adjacentes enquanto esmiuça o contexto histórico. Isso não inclui apenas a história desses soldados, mas a imoralidade da guerra, seu impacto sobre a população vietnamita e as injustiças que os negros enfrentaram nos Estados Unidos, naquela época e agora.
A abrangência do filme é admirável, mas teria se beneficiado de um enredo melhor comprimido. Isso posto, algumas sequências atingem uma intensidade estimulante, destacada por Lindo, que entrega um monólogo instigante diretamente para a câmera enquanto marcha pela selva.
Os flashbacks contêm uma escolha enigmática, mal maquiando os atores, de maneira que todos, exceto por Boseman, se parecem praticamente como estão no presente. Mesmo sem o orçamento para uma tecnologia de rejuvenescimento, como a aplicada em O Irlandês (mesmo essa uma ferramenta imperfeita), elencar atores mais jovens nessas cenas teria sido uma opção melhor — ou, no mínimo, que chamasse menos atenção.
Despido a sua essência, Destacamento Blood oferece um lembrete cru que como os conflitos que tomaram a arena pública nas últimas semanas vem borbulhando e, periodicamente, erupcionando, uma consequência de não serem notados ou endereçados por tantas décadas. É outa mensagem pontual e provocante do diretor conhecido por elas, em um filme que empilha tantas coisas que fica aquém do melhor de Lee.
Destacamento Blood estreou em 12 de junho na Netflix e é recomendado para maiores de 16 anos.
(Texto traduzido. Clique aqui para ler o original em inglês)