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    “Só não podemos dar autógrafos”: a ascensão das bandas virtuais de K-pop

    Grupo Eternity é um dos mais recentes construídos com IA e participantes são interpretadas por diferentes atores, cantores e dançarinos gerando habilidades e vantagem significativas sobre homólogas da vida real

    Jake KwonIvan Watsonda CNN

    No videoclipe de seu último single “DTDTGMGN”, membros da banda sul-coreana Eternity dançam no ritmo perfeito ao som de uma batida pop chiclete em uma sala rosa neon decorada com uniformes escolares e pôsteres de celebridades. Os movimentos vertiginosos da câmera e as mudanças rápidas de cena são típicos do gênero K-pop que se tornou um fenômeno global nos últimos anos.

    “Segure-me com força, apoie-se no meu ombro”, canta uma das cantoras.

    Mas os fãs do grupo não podem fazer nenhuma dessas coisas, fisicamente falando – porque nenhuma das 11 companheiras de banda do Eternity é real.

    Construído com tecnologia de inteligência artificial, o grupo Eternity é um dos mais recentes atos sul-coreanos que ultrapassam os limites entre o entretenimento real e virtual. E a empresa criadora e gestora do grupo, Pulse9, acredita que as estrelas geradas por computador têm uma vantagem significativa sobre as suas homólogas da vida real.

    Tal como acontece com a maioria dos grupos populares de K-pop, os membros do Eternity incluem uma líder de grupo, vocalistas, rappers e dançarinas. Mas uma em particular, Zae-in, pode fazer tudo.

    “Zae-in tem (uma combinação de) características que a maioria dos artistas humanos teria dificuldade em obter”, disse o CEO da empresa, Park Ji-eun. “Ela canta muito bem, faz rap muito bem e pode ser criativa como designer (de moda). E ela é uma atriz nata”.

    Com a ajuda da tecnologia de troca de rosto em tempo real e uma voz gerada por IA, Zae-in é interpretada por 10 pessoas diferentes, incluindo atores, cantores e dançarinos, que emprestam seus talentos ao seu avatar conforme necessário.

    Em um vídeo postado na conta do Instagram de Zae-in, por exemplo, ela habilmente anda de longboard ao lado do rio Han, em Seul. Para o vídeo, seus criadores filmaram a façanha com um dublê cujo rosto foi posteriormente trocado por Zae-in.

    Zae-in do Eternity disse à CNN que a “vantagem única” das estrelas virtuais é que elas “podem fazer o que uma pessoa não pode” / Pulse9

    “Existem a Zae-in do pop, a atriz Zae-in, a repórter Zae-in”, disse a estrela virtual à CNN em uma entrevista pelo Zoom, durante a qual ela foi interpretada por um ator (embora Pulse9 tenha dito que seu software de IA pode recriar a voz de Zae-in e gerar fala sem intervenção humana). “Existem várias Zae-ins, então nossa vantagem única é que podemos fazer o que uma pessoa não pode”.

    “A única coisa que não podemos fazer é dar um autógrafo”, acrescentou ela, com os olhos sorrindo.

    A troca de rostos em tempo real e as primeiras formas de tecnologia “deepfake” existem há quase uma década. Nesse período, influenciadores virtuais como Lil Miquela e Rozy, da Coreia do Sul, ganharam grandes seguidores online nos espaços de moda e música.

    Mas os últimos avanços em vídeo e áudio gerados por IA estão tornando mais fácil para empresas como a Pulse9 criar personagens virtuais convincentes, enquanto os avanços em programas generativos de IA como o ChatGPT estão eliminando a necessidade de estrelas como Zae-in serem “interpretadas” por uma pessoa.

    Como elas foram feitas

    A equipe da Pulse9 iniciou o processo de dar “vida” ao Eternity desenhando a aparência de seus membros. A equipe de Park gerou 101 rostos digitais únicos, inspirados em celebridades coreanas existentes, antes de dividi-los em quatro categorias – apelidadas de “sexy”, “fofo”, “inteligente” e “inocente” – e reduzir a seleção para 11 por meio de uma enquete online.

    Usando tecnologia deepfake e captura de movimento, a Pulse9 produziu então o primeiro videoclipe da banda (para acompanhar a faixa ironicamente intitulada “I’m Real”) em 2021. A reação ao vídeo foi mista.

    Participantes do grupo K-pop Eternity, gerado por inteligência artificial / Pulse9

    Muitos usuários nas redes sociais sentiram que as expressões faciais da banda pareciam pouco naturais e separadas de seus corpos, enquanto outros citaram o efeito “uncanny valley”, ou “vale da estranheza”, em que os espectadores ficam desconfortáveis com coisas que se parecem com humanos, mas não são.

    Mas cinco meses depois, quando a Pulse9 lançou o próximo videoclipe do Eternity, “No Filter”, os seguidores notaram que o grupo era quase indistinguível de um grupo real. “Estou surpreso com o quão realistas elas soam e os visuais parecem mais realistas do que a música de estreia”, diz o comentário mais curtido no YouTube.

    “DTDTGMGN”, lançado em outubro passado, representou outro grande salto de qualidade. “Até o ano passado, o rosto era a única parte virtual das artistas, mas hoje podemos fazer imagens de corpo inteiro com base na tecnologia de IA”, disse Park, acrescentando que “No Filter” também foi composto usando IA (embora humanos depois editaram a música e escreveram a letra).

    SM Entertainment, a agência por trás de megastars do K-pop como Super Junior, Girls’ Generation e Exo, entre outros, também tem feito experiências com IA. Em 2020, a empresa estreou o Aespa, grupo formado por quatro artistas humanos e seus homólogos virtuais. Após o lançamento da banda, o fundador da SM, Lee Soo-man, declarou que o futuro do entretenimento é “celebridade e robô”.

    Em outro lugar, a empresa de gestão do BTS, a Hybe, usou IA para ajustar a pronúncia e o tom de um de seus cantores, antes de lançar uma de suas músicas em seis idiomas – coreano, inglês, espanhol, chinês, japonês e vietnamita.

    Grupo de K-pop BTS também usou IA para ajustar a pronúncia e o tom de seus cantores antes de lançar uma de suas músicas em seis idiomas /Steven Ferdman/Getty Images for ESB

    E no início deste ano, a Metaverse Entertainment, uma agência formada pela editora de videogames Netmarble e pela empresa-mãe da SM Entertainment, Kakao Entertainment, estreou um grupo feminino virtual, MAVE. Ao contrário do Eternity, que depende de trocas simples de rostos, as quatro aretistas do MAVE foram geradas do zero usando CGI.

    A Metaverse Entertainment usou tecnologia de IA para gerar rostos, mesclando as características e estilos de cabelo considerados mais desejáveis em quatro personagens finais. A empresa empregou tecnologia de captura de movimento para gravar performances de K-pop da vida real que um programa de aprendizado profundo usou para animar videoclipes.

    Os vacais do grupo são parte humanas e parte geradas por IA, disse o diretor técnico da Metaverse Entertainment, Kang Sung-ku. “Nosso objetivo é criar seres humanos virtuais totalmente orientados por IA (que sejam) realmente verossímeis”, disse ele à CNN.

    O videoclipe do primeiro single do MAVE, “Pandora”, já acumulou 25 milhões de visualizações no YouTube desde seu lançamento em janeiro.

    Futuro do K-pop?

    As popstars virtuais podem desfrutar de uma vantagem sobre as humanas quando se trata de interagir com suas bases de fãs. Os avanços nos programas de linguagem de inteligência artificial poderiam permitir que os fãs “conversassem” – e até mesmo construíssem seu próprio relacionamento pessoal – com seus ídolos, disse Kang.

    “Eles vão se lembrar do que conversamos ontem e poderão continuar falando sobre coisas (de conversas anteriores)”, disse ele, fazendo uma comparação entre as criações de IA de sua empresa e a assistente virtual do iPhone, Siri. “Eles se lembrarão de você e saberão sobre você – e falarão (com você) com base nessas informações”.

    Membros do quarteto feminino de K-pop MAVE podem cantar, dançar e falar vários idiomas – tudo com a ajuda da inteligência artificial / Metaverse Entertainment

    A Metaverse Entertainment já está experimentando essa ideia por meio de aplicativos que permitem aos usuários interagir diretamente com o MAVE. A banda atualmente fala coreano, inglês, francês e indonésio – indicativo das principais bases de fãs e mercados-alvo – embora teoricamente pudessem falar vários idiomas.

    “Há algumas coisas que não posso contar (nem mesmo aos meus melhores amigos), mas talvez eu pudesse contar a uma IA personalizada, que pode me confortar e se preocupar comigo”, disse Kang. “Acho que será bom para todos”.

    O desenvolvimento certamente poderia ser bom para empresas como a de Kang. A indústria do K-pop é sustentada por um laborioso sistema de trainees, no qual os aspirantes são moldados desde jovens, muitas vezes passando por anos de caras aulas de dança e música antes de estrearem.

    De acordo com o Wall Street Journal, a SM Entertainment gastou aproximadamente US$ 3 milhões para levar o Girls’ Generation ao mercado em 2007. As agências devem investir em aulas, espaço de estúdio, estilo e às vezes até procedimentos cosméticos para potenciais membros da banda – custos que não são necessários para talentos virtuais.

    Além disso, as estrelas pop geradas por computador nunca ficarão doentes, envelhecerão ou se envolverão em disputas contratuais ou escândalos de tablóides. Mas há poucas chances de grandes agências substituirem suas bandas da vida real tão cedo, disse Kang, reconhecendo que alguns setores do fandom de K-pop reagiram mal aos grupos de IA.

    “As críticas eram sobre a substituição dos ídolos atuais por ídolos virtuais – eles pensaram que os ídolos atuais poderiam perder seus empregos”, disse Kang, acrescentando que alguns fãs sempre preferirão artistas humanos.

    O criador do Eternity, Park, concordou, comparando o surgimento da IA à invenção da fotografia no século 19: “Muitos pintores tinham medo da (nova) tecnologia, mas hoje ainda temos pintores. Acho que o BTS nunca terá medo de ídolos virtuais – eles são apenas novos conteúdos”.

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