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    Silvio, a fábrica de sonhos e as colegas de trabalho

    Todos nós, brasileiros, estivemos de alguma forma na fábrica de sonhos do Silvio, e alguns dos nossos sonhos vieram de lá, dos programas dele

    Ellen Nogueirada CNN

    Como típica criança nos anos 80, Silvio Santos fazia parte da minha casa. Aos domingos, o “lá, lá, lá, lá” era o hino do dia e o apresentador, com seu jeito irreverente, informal e carismático, era a visita onipresente na nossa sala.

    Dar risada com as pegadinhas, torcer nas brincadeiras e até ficar treinando algumas, como o 1, 2, “pi”, 4, 5, “pi”…. “Quem quer dinheiro?” era a frase que fazia todo mundo prestar atenção ao que viria. Opinar sobre a apresentação de um calouro, não concordar com a nota dos jurados… É tanta coisa na memória afetiva que não há como não levar isso para a vida inteira. Ele fez parte e sempre fará.

    Já na faculdade de jornalismo, tínhamos que fazer um trabalho sobre estudo de audiência. E, claro, eu e meus colegas, entre eles o Fernando Nakagawa, escolhemos analisar como era a relação de Silvio Santos com a sua plateia.

    Conseguimos, como estudantes, participar de um programa do Silvio. Era o “Qual é a música”. Os meninos deveriam ficar escondidos nos bastidores. As meninas, entra elas eu, poderiam ficar na plateia. Jovem e roqueira, achei que fosse achar muito estranho estar lá. Que engano…

    Eu e a amiga Denise Bellintani, hoje também jornalista, ficamos esperando Silvio aparecer. E, de surpresa, quando ainda estávamos nos ajeitando na plateia, ele entra. Começa um discurso que nunca vou esquecer na vida: queria falar para todas as mulheres lá como aquilo tudo era a sua “fábrica de sonhos”.

    Cada detalhe, cada invenção para o programa, todo o SBT, tudo era a vida dele. E ele falava com emoção, com o brilho nos olhos de quem sonhou e montou tudo aquilo. Ver o ícone da TV, o homem que estava na minha sala todo domingo, contando como era o seu sonho e como isso se tornou realidade era emocionante demais.

    Ele terminava dizendo que os programas só existiam e ele só poderia continuar com a ajuda das “colegas de trabalho”, apontando para a plateia, com a câmera mostrando as mulheres de lá. Dizia que elas eram a alma do trabalho dele e agradecia. Soube que fazia isso a cada início de programa, na época.

    As “colegas de trabalho”, como eu e Denise naquele momento, nos sentíamos parte de tudo. Cada aplauso, cada reação, eram muito verdadeiros. E a gente entrava em outro mundo, o da emoção.

    Esqueci que era uma estudante analisando a audiência. Fiz parte dela. Fui para a fila tentar falar o nome de uma música no programa. Errei, claro. Mas Silvio ainda me deu outra chance: “Como é que é?”. Falei de novo errado, quase acertei. E isso nem importou. Fiz a fábrica de sonhos funcionar com ele naqueles segundos. Inesquecível.

    Alguns dias depois, num ponto de ônibus, uma pessoa ainda me perguntou: “Você não é a menina que errou no ‘Qual é a música’”? Disse, meio que envergonhada, que sim. Mas hoje tenho o maior orgulho disso. Todos nós, brasileiros, estivemos de alguma forma na fábrica de sonhos.

    E alguns dos nossos sonhos vieram de lá, dos programas do Silvio. A visita de domingo sempre terá as portas abertas. Fará falta, mas estará, sempre, com a gente, nas nossas lembranças.

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