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    Saiba a hora de dizer não a um chefe que te quer disponível 24 horas por dia

    Crescer na carreira e ocupar cargos de liderança não significa necessariamente estar sempre à disposição do empregador. Mas o mercado entende isso?

    Mulheres depressivas podem ser mais suscetíveis a doenças cardiovasculares do que homens, segundo estudo
    Mulheres depressivas podem ser mais suscetíveis a doenças cardiovasculares do que homens, segundo estudo Getty Images

    Phelipe Siani

    Qual o conceito de ascensão profissional? É crescer na carreira, certo?! É ganhar promoções, aumentos, virar chefe, liderar equipes, ganhar a confiança dos gerentes, diretores, do CEO, do dono da empresa, virar sócio e por aí vai. Mas o quanto do seu tempo e da sua saúde tão disponíveis como moeda de troca pra conseguir tudo isso? Se você não sabe responder a essa pergunta de bate pronto, talvez seja uma doença ocupacional que te mostre quanto custa o seu bem estar.

    Desde o começo de 2022 o burnout é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde como uma doença diretamente relacionada com o trabalho. É a síndrome do esgotamento profissional, quando pipocam na gente sintomas de exaustão extrema, esgotamento físico e mental que fazem a gente simplesmente bugar. É tela azul do windows na nossa cabeça. Eu não sei se você já passou por isso, mas eu posso te dizer com conhecimento de causa… é uma das piores sensações que você vai sentir na vida.

    A Way Minder, uma plataforma online de resiliência emocional, fez um levantamento com 600 pessoas e conseguiu comprovar em dados o que a gente já desconfiava olhando o dia a dia recente das empresas… estão mais sujeitas a ter burnout as pessoas mais experientes em cargos de liderança, nascidas entre os anos 60 até o começo dos anos 80 (detalhe que quem tá escrevendo tudo isso é um cara que já teve episódios de burnout e nasceu em 1984).

    Os segmentos com mais probabilidade são, pela ordem, recursos humanos, vendas e educação. As gerações mais antigas tendem a carregar com mais força essa crença de que precisam trabalhar mais que os liderados, que ser o primeiro a chegar e o último a sair é dar exemplo, mas existem pesquisas que mostram que quantidade de horas trabalhadas não tem necessariamente a ver com eficiência desse trabalho.

    A Gartner, que é uma gigante americana em pesquisa e consultoria na área de tecnologia da informação, levantou números no mínimo interessantes. Um total de 77% dos líderes de RH acreditam nessa máxima que eu acabei de dizer… que a galera que trabalha em alta performance dedica mais horas do que os funcionários com resultados piores. Mas os estudos da mesma consultoria também mostram que não existe uma relação lógica entre trabalhar mais horas e ter resultados melhores.

    Um funcionário exausto rende menos. Não precisa ser nenhum gênio pra analisar esses números e entender que a eficiência e o resultado precisam levar em consideração a importância do descanso, de uma mente minimamente saudável. Acreditem… salário nenhum paga a dedicação integral da sua vida a um emprego.

    É claro que há fases e fases. Momentos em que você quer se envolver muito mais num determinado projeto que você tá liderando e vai ser bastante importante no seu desenvolvimento profissional. Uma empresa que acabou de te contratar pra uma posição que vai projetar o seu nome no mercado ou algo do tipo. Mas essa rotina de muitas horas trabalhadas precisa ter um objetivo e um prazo definido por você e só por você. Por mais que o coatch das suas redes sociais insista nisso, não é e nunca vai ser sustentável trabalhar 16, 18 horas por dia durante muito tempo.

    Mais uma vez são os números que mostram isso. A mesma Gartner que trouxe os números que mostrei também sugeriu no estudo que as empresas incentivassem dentro de alguns parâmetros momentos de descanso pros funcionários, que iam poder relaxar durante o dia sem culpa. Nas empresas em que essa técnica foi implantada, a melhora no desempenho dos funcionários foi de 26%. Deu pra entender? 26% de melhoria no desempenho não trabalhando mais, mas só incentivando o descanso sem culpa.

    Isso vai totalmente contra o que muitas empresas fazem. Quantas vezes você já presenciou situações onde líderes entraram em contato com pessoas durante um período de férias? Podem existir exceções à regra? Sim, mas entrar em contato com um funcionário durante o tempo dele de descanso precisa ser em caso de tragédia corporativa… se a informação que só o funcionário de folga tem for suficiente pra salvar o contrato, não perder o cliente chave ou algo do tipo.

    Mas, pela minha experiência empreendendo e entrevistando líderes de empresas das mais tradicionais às mais modernas, se existe um problema dentro de uma empresa que só um único funcionário(a) consegue resolver é muito provável que isso revele muito mais um problema de falta de fluxos e processos dentro da própria empresa do que sobre o(a) funcionário(a) em si. Estar de folga ou de férias significa ter o direito de abrir mão de ter o celular sempre à mão e visitar lugares onde nem sinal de celular tem.

    Cada vez mais as pesquisas mostram que trabalhar melhor não é necessariamente trabalhar mais. Uma rotina com mais horas trabalhadas não tem relação direta com uma rotina obrigatoriamente mais produtiva. Os dados mostram que descansar é preciso… pro bem da saúde dos seus funcionários e, consequentemente, pro bem da saúde do seu negócio.