Resenha: ‘Sex and the City’ finalmente enfrenta a realidade
Nova versão do sucesso traz mais diversidade e mostra que mulheres mais velhas também são sensuais
Jill Filipovic é jornalista residente em Nova York e autora do livro “OK Boomer, Let’s Talk: How My Generation Got Left Behind” (sem edição em português). Siga-a no Twitter. As opiniões expressas neste comentário são exclusivamente dela. Veja mais artigos de opinião na CNN.
“Sex and the City” – um programa clássico para milhões de pessoas excitadas pela sexualidade que desafia os limites (de algum tempo atrás) e fascinadas pela moda inovadora e às vezes bizarra – está voltando.
E desta vez, muito mais velho e um pouco menos branco. Em outras palavras, mais perto da realidade – finalmente.
A HBO Max diz que lançará o reboot de “Sex and the City”, intitulado “And Just Like That…” (sem título em português), em algum momento nos próximos meses, e parece que a personagem de Kim Cattrall, Samantha Jones, está sendo substituída pela atriz Nicole Ari Parker, que é negra e quem fará o papel da documentarista Lisa Todd Wexley, a nova quarta amiga do grupo de Carrie Bradshaw (Sarah Jessica Parker), Charlotte York Goldenblatt (Kristin Davis) e Miranda Hobbes (Cynthia Nixon).
As quatro aparecerão ao lado de um elenco de apoio que inclui uma diversidade maior de personagens e papéis: o apresentador de podcast queer não-binário e comediante Che Diaz (Sara Ramírez), a corretora de imóveis Seema Patel (interpretada por Sarita Choudhury), e a professora de direito Nya Wallace (Karen Pittman).
É uma mudança que vale a pena. O “Sex and the City” original – que estreou há 23 anos (!) e durou seis temporadas (com duas adaptações para o cinema) – definiu Nova York para uma parcela da população: mulheres brancas mais velhas da geração Millennial, das quais eu sou parte. Essa ideia de cidade nunca se alinhou totalmente com a Nova York do mundo real, ou pelo menos não com a Nova York em que já morei.
Claro, muitos nova-iorquinos brancos, especialmente em bairros elegantes como o Upper East Side de Carrie, se cercam de outros brancos. Mas em uma cidade em que menos da metade da população é branca, é improvável que todos os círculos sociais sejam tão homogêneos.
É uma escolha fazer um programa de televisão que imagine Nova York como uma cidade branca. E é louvável, embora ridiculamente atrasado, que as pessoas por trás da nova encenação de “Sex and the City” tenham reconhecido essa loucura inicial e estejam, pelo menos em algumas pequenas coisas, corrigindo o curso.
Esse ainda não é um programa com um elenco tão diverso quanto a cidade em que se passa, mas é um ponto de conversão importante, porque essas mudanças de elenco em um ativo tão valioso quanto “Sex and the City” refletem como as expectativas dos espectadores e críticos mudaram.
Os Estados Unidos continuam a se tornar mais racial e etnicamente diversificados, com as gerações mais jovens, em particular, tornando-se menos brancas na nova década. O público-alvo de programas de televisão como “Sex and the City” são os americanos mais jovens…que em 2021 não são mais predominantemente brancos. Essas audiências esperam que os programas e filmes que assistem reflitam suas próprias realidades.
Esses espectadores mais diversificados do que nunca, também têm mais voz do que nunca, crescendo e agarrando megafones metafóricos, seja nas redes sociais ou em empregos na mídia.
À medida que os espectadores se tornaram mais diversificados, também o fizeram os críticos (os oficiais e os das mídias sociais) e eles são rápidos em notar onde os programas de televisão não são representativos.
Os críticos e os locutores são tão diversos quanto a América? Não. Eles são mais diversos do que eram há uma geração? Como o resto da América, um sistema lento na mudança e imperfeito, mas ainda sim mudando e exigindo mais.
Um grupo que permanece radicalmente sub-representado na televisão é o de mulheres com mais de 50 anos. E aí, a renovação de “Sex and the City” é especialmente revigorante. Nicole Ari Parker, que tem 50 anos, será a atriz mais jovem do show. Uma direção de elenco pior teria simplesmente substituído as quatro mulheres por outras mais jovens. O programa parece apresentar o argumento de que as mulheres de meia-idade também têm vida sexual – não, como é o caso em tantos programas de televisão, que as mulheres com mais de 40 anos são mães sem sexo ou solteiras frustradas e patéticas.
Desde o seu início, “Sex and the City” parece ter inspirado mais críticas sobre o impacto de um programa de televisão nas mulheres, na solidão e no sexo do que qualquer outro (apenas atrás de “Girls” de Lena Dunham, que gerou um poço sem fundo de críticas).
Foi radical em sua discussão aberta sobre a vida sexual das mulheres ou heteronormativo em seu enfoque em mulheres heterossexuais com homens bonitos na cama? Foi feminista com suas personagens femininas que trabalham duro e divertido…ou dissimuladamente tradicional na busca por homens de cada personagem e, acima de tudo, em seu desejo por um parceiro?
Meu palpite é que a reinicialização não terá exatamente a relevância cultural do original. As mudanças de elenco me parecem improváveis de fazer um show (mesmo que amado) com uma premissa datada parecer fresco e novo.
Entretanto, do ponto de vista cultural, as mudanças nessa leitura de “Sex and the City” são boas. Eles refletem para uma nação insatisfeita com um status quo racista e um crescente reconhecimento de que as mulheres continuam a existir como seres humanos plenos depois dos 40.
Não é tão radical, e a televisão continua longe da realidade de um mundo mais diverso, mas é um progresso.
(Texto traduzido. Leia o original em inglês.)