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    Quem é Pagu? Curadoras querem mostrar face literária de escritora na Flip 2023

    A 21ª Festa Literária Internacional de Paraty acontece entre os dias  22 e 26 de novembro; a escritora, poetisa, diretora, tradutora, desenhista, cartunista e jornalista brasileira Pagu foi escolhida como homenageada

    Fernanda Pinottida CNN , em São Paulo

    A autora homenageada da 21ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) neste ano é a escritora, poetisa, diretora, tradutora, desenhista, cartunista e jornalista brasileira Patrícia Rehder Galvão, conhecida como Pagu.

    A Flip 2023 acontece entre os dias  22 e 26 de novembro, na cidade de Paraty, litoral sul do Rio de Janeiro.

    A imagem de Pagu se tornou sinônimo de mulher moderna e emancipada. Ela nasceu em 9 de junho de 1910, em Santos, litoral de São Paulo, e morreu em 12 de dezembro de 1962. E é frequentemente referenciada como alguém que estava à frente de seu tempo.

    Mesmo sendo mais jovem que seus pares, Pagu se destacou no movimento modernista, embora não tenha participado da Semana de Arte Moderna, pois tinha apenas 12 anos em 1922.

    Mais conhecida por sua militância contra o fascismo e por ter se tornado um dos símbolos do movimento feminista, as curadoras desta edição da Flip, Fernanda Bastos e Milena Britto, falaram à CNN que pretendem divulgar a face literária de Pagu.

    As palavras

    “Ela é uma autora muito abraçada por vários campos, mas não necessariamente pelo campo literário”, disse Fernanda Bastos.

    Aos 15 anos de idade, quando se mudou com a família para a capital paulista, Pagu conseguiu seu primeiro emprego como redatora, escrevendo críticas contra o governo e as injustiças sociais em uma coluna do “Brás Jornal”, assinando com o pseudônimo de Patsy.

    Fez parte do Movimento Antropofágico, sob a influência de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, depois de completar 18 anos.

    Em 1931, Pagu ingressou no então Partido Comunista do Brasil (PCB). E publicou em 1933 o romance “Parque Industrial”, com o pseudônimo de Mara Lobo, considerado o primeiro romance brasileiro cuja trama estava focada na vida do proletariado.

    Em 1945, publicou “A Famosa Revista” em colaboração com Geraldo Ferraz.

    / Divulgação/ Flip

    Sob o pseudônimo King Shelter, lançou diversos contos policiais, reunidos posteriormente no volume “Safra Macabra”. Para o teatro, traduziu grandes autores, muitos deles até então inéditos no Brasil, como James Joyce, Eugène Ionesco, Fernando Arrabal e Octavio Paz.

    “A Pagu era leitora do tempo dela em todos os sentidos”, disse Milena Britto. “É interessante voltar e ver como ela lia o tempo dela através das críticas que ela fazia de escritores, de poetas, suas reflexões sobre os movimentos.”

    “A gente vai cruzando muitas pontas interessantes. A Pagu aclamada por todos, que é a Pagu militante, a Pagu que está ali dentro desse Modernismo mais conhecido, e a Pagu ainda invisibilizada, que é a Pagu de sua própria obra, de sua própria produção”, acrescentou Britto.

    A mulher

    Mesmo com uma origem familiar tradicional e conservadora, Pagu é lembrada como uma mulher à frente de sua época, com um comportamento considerado extravagante. Defendia causas feministas, fumava e bebia em público, usava cabelos curtos, costumava falar palavrões e manteve diversos relacionamentos amorosos.

    O apelido Pagu foi dado pelo poeta Raul Bopp, que escreveu um poema sobre a amiga, pensando que ela se chamava Patrícia Goulart.

    Ela se casou com Oswald de Andrade em abril de 1930, depois que ele se separou de Tarsila, e tiveram um filho, Rudá de Andrade, antes de se desquitarem em 1934.

    A maternidade também não foi vivida por Pagu da maneira que seria esperada na época, o filho erava deixado aos cuidados do pai durante longas e frequentes viagens motivadas pela militância no Partido Comunista ou pelo trabalho como jornalista. E também durante as 23 vezes nas quais ela foi presa ao longo da vida por conta do ativismo.

    Em 1940, após ter saído da prisão, onde chegou a ser torturada durante o Estado Novo de Vargas, Pagu iniciou um relacionamento com Geraldo Ferraz, com quem teve o seu segundo filho, Geraldo Galvão Ferraz.

    / Divulgação/ Flip

    Mesmo que sua imagem esteja tão fortemente atrelada ao movimento feminista, as curadoras ressaltaram que Pagu não deve ser inspiração apenas para as mulheres.

    “É importante situar ela como alguém que nos inspira a todos. Mulheres, homens, todo mundo que quer pensar uma outra possibilidade de Brasil, que quer pensar uma sociedade mais justa para todos”, disse Bastos.

    As duas falaram sobre como a obra de autores homens é vista como literatura universal, enquanto autoras mulheres, muitas vezes, parecem ser consumidas apenas por mulheres. “A gente convoca eles para essa missão, que se juntem nesse movimento. Leiam mulheres. Leiam Pagu, conheçam a obra”, acrescentou Bastos.

    O símbolo

    Pagu morreu em 1962 sem o reconhecimento que seus contemporâneos modernistas tiveram. Somente a partir década de 80 sua imagem passou a ser resgatada como aquela da mulher moderna e emancipada.

    Nesta edição da Flip, as curadoras disseram ter a oportunidade de “fazer justiça”, de uma certa forma.

    “Olhar para essas trajetórias e perceber que elas fizeram o caminho para que hoje se possa pensar de outra forma. E poder colocar elas no seu devido lugar”, segundo falou Fernanda Bastos.

    *Com informações da Agência Brasil 

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