Presa grávida e música sobre menstruação censurada: Ditadura mirou Rita Lee
Artista teve músicas modificadas por causa de ação de censores
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O conjunto musical "Os Mutantes", com seus integrantes originais: Rita Lee (d), Arnaldo Baptista (c) e Sérgio Dias (costas), em 1967 • Arquivo/Estadão Conteúdo
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Gilberto Gil em apresentação junto o grupo "Os Mutantes" e orquestra. À esquerda, Rita Lee observa a performance de Gil • Arquivo/Estadão Conteúdo
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Na TV Tupi, apresentação do grupo "Os Mutantes" em 1968 • Estadão Conteúdo
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Rita Lee no programa "Divino e Maravilhoso", da TV Tupi, em 1968 • Estadão Conteúdo
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Cantora, compositora e instrumentista Rita Lee em apresentação em 1969 • Arquivo/Estadão Conteúdo
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Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias durante apresentação do conjunto musical em 1969 • Arquivo/Estadão Conteúdo
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Retrato dos integrantes dos Mutantes, Arnaldo Baptista (baixista e tecladista) e Rita Lee(vocalista) • Arquivo/Estadão Conteúdo
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Rita Lee durante apresentação no Phono 73, realizado no Anhembi, em São Paulo, em 1973 • Claudine Petroli/Estadão Conteúdo
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Rita Lee durante entrevista no Teatro Aquarius, no bairro da Bela Vista, região central da cidade de São Paulo, para falar de seu show "Entradas e Bandeiras" com o grupo Tutti Frutti, em 1976 • Solano de Freitas/Estadão Conteúdo
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Rita Lee e sua banda Tutti Frutti durante show no Teatro Aquarius, em São Paulo, em 1976 • Oswaldo Luiz Palermo/Estadão Conteúdo
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Rita Lee em 1978 • Arquivo/Estadão Conteúdo
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Retrato de uma descontraída Rita Lee, em 1981 • Claudine Petroli/Estadão Conteúdo
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Rita Lee ficou conhecida por sua personalidade marcante e irreverente • Claudine Petroli/Estadão Conteúdo
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Show da turnê "O Circo", realizada no ginásio do Ibirapuera, na capital paulista, em 1982 • Domicio Pinheiro/Estadão Conteúdo
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Apresentação no Rock in Rio I, realizado no bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, em 1985 • Arquivo/Estadão Conteúdo
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Rita Lee lê partitura da Sinfonia da Floresta Amazônica, de Heitor Villa Lobos, em 1989 • Marcelo Zocchio/Estadão Conteúdo
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Apresentação no Hollywood Rock 95, no estádio do Maracanã. Rita Lee, Barão Vermelho e os norte-americanos Spin Doctors abriram o show dos Rolling Stones • Otávio Magalhães/Estadão Conteúdo
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Atriz Fernanda Montenegro e Rita Lee durante a cerimônia do Prêmio Sharp de 1997, no Teatro Municipal, no Rio de Janeiro • Selmy Yassuda/Estadão Conteúdo/AE
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Tom Zé e Rita Lee se apresentam durante a premiação do Video Music Brasil 1999, da MTV, realizado no Via Funchal, na Zona Sul de São Paulo, em 1999 • Paulo Liebert/Estadão Conteúdo
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Rita Lee recebe beijo do marido, o músico Roberto de Carvalho, ao se apresentar durante show na Praça da Paz, no Parque do Ibirapuera, Zona Sul da capital paulista, em 2001 • Hélvio Romero/Estadão Conteúdo
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Rita Lee canta no no Festival de Verão de Salvador • Arquivo/Photocamera/AE
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Comemoração do Réveillon na Avenida Paulista, na região central de São Paulo, em 2006 • J. F. Diorio/Estadão Conteúdo
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Show no evento "Virada Cultural" no palco Júlio Prestes, realizado na região central da capital paulista, em 2011 • Ernesto Rodrigues/Estadão Conteúdo
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Show "4 Gerações Cantam São Paulo", em comemoração ao aniversário de 459 anos da cidade, no Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo, em 2013 • Epitácio Pessoa/Estadão Conteúdo
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Lançamento do livro "Rita Lee, Uma Autobiografia", no Conjunto Nacional, na cidade de São Paulo, em novembro de 2016 • Gabriela Biló/Estadão Conteúdo
Rita Lee, que morreu na noite de segunda-feira (8) em São Paulo aos 75 anos, foi uma das artistas mais censuradas durante a ditadura militar brasileira, período entre 1964 e 1985, e também chegou a ser presa durante o regime. Era 1976 e ela estava grávida do primeiro filho, Beto Lee. Na época, o Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) legou que ela estava com drogas em casa.
A artista relembrou o episódio em “Rita Lee: uma autobiografia”, lançada em 2016. Ela contou que a própria polícia espalhou a notícia de sua prisão.
“Me botaram sentada frente ao delegado e sobre a mesa dele uma pilha de cannabis já dixavadinha, pronta para enrolar. Erva de ótima qualidade, aliás. ‘A senhora tem algo a dizer sobre isto aqui que meus homens encontraram na sua residência?’. ‘Isso não é meu, seu delegado. Estou grávida e no momento não uso drogas. Nem Coca-Cola, pro senhor ter uma ideia. Eu vi quando seus homens colocaram isso na minha casa, pode perguntar para minha madrinha que também estava lá”, escreveu a artista sobre o episódio.
Na ocasião, segundo o livro, ela recebeu a visita de Elis Regina (1945 – 1982), que ficou sabendo de sua prisão e foi até o local.
“Elis não representava uma person of interest da ditadura, ao contrário, era reconhecida como a rainha do Olimpo musical e nenhum generaleco se atreveria a mexer com ela. Ficou lá de plantão até eu ser medicada e o sangramento estancado. Ainda mandou vir comidinha de um restaurante porque me achou magrela demais para uma grávida”, contou Rita sobre o episódio.
Ciclo menstrual censurado
Das dezenas de trechos e músicas de Rita Lee censurados durante a Ditadura, uma delas foi “As duas faces de Eva”, de 1981. De acordo com documentos do Arquivo Nacional, os censores acharam impróprio o trecho: “Mulher é um bicho esquisito, todo mês sangra”.
“Poderá também referir-se ao ciclo menstrual da mulher, o que suscitará indagações precoces em torno do assunto”, disseram os censores.
De acordo com o Arquivo, a gravadora de Rita na época, a Sigla, recorreu da decisão. A defesa argumentou que “a existência do ciclo menstrual não é mais motivo de vergonha ou medo”.
“Lembrando ainda da grande quantidade de peças publicitárias, ‘nem sempre de bom gosto’, dedicadas à venda de absorventes internos veiculadas pela televisão, revistas e jornais. Se a ninguém ocorre proibir a propaganda de absorvente ‘aderente à calcinha’ ou que ‘permite todos os movimentos’, ou “rigorosamente invisível’ [um desses, mostrando a foto de uma linda mulher montada em uma bicicleta, com um sumaríssimo short], por que vedar-se a menção da causa dessa propaganda, que é o sangramento mensal?”, argumentou a defesa.
A música, que depois se tornou uma das mais famosas da artista, também contém a frase icônica: “Por isso não provoque, é cor de rosa choque”.
Em entrevista ao jornal “O Estado de S Paulo”, Rita falou sobre a censura que sofreu e que fazia letras com o “que lhe dava na telha”.
Outra canção censurada em parte foi “Banho de Espuma”, que se chamaria “Afrodite”. Com as edições feitas para ser liberada pelos censores, a música ficou com novo título e foi lançada no LP “Saúde”, de 1981.
“Nunca pensei que o que fiz durante 50 anos fosse o que se chama feminismo: eu ligava o foda-se e entrava decidida no mundinho considerado masculino, cantando sobre o que me desse na telha; de menstruação a menopausa, de trepada a orgasmo. Fora o resto”, disse a artista na ocasião.
A cantora morreu aos 75 anos, em São Paulo. A notícia foi confirmada, na manhã desta terça-feira (9), em publicação nas redes sociais oficiais da cantora e de seu marido, Roberto de Carvalho.
“Comunicamos o falecimento de Rita Lee, em sua residência, em São Paulo, capital, no fim da noite de ontem, cercada de todo o amor de sua família, como sempre desejou”, escreve a nota.
O velório acontecerá em cerimônia aberta ao público, no Planetário do Parque Ibirapuera, nesta quarta-feira (10), das 10h às 17h.
“De acordo com a vontade de Rita, seu corpo será cremado. A cerimônia será particular. Nesse momento de profunda tristeza, a família agradece o carinho e o amor de todos”, concluiu o comunicado.