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    “Precisamos conhecer os artistas da Amazônia”, diz diretora artística do RiR

    A paraense, responsável pela curadoria dos artistas amazônidas que estarão na Nave durante o festival de música, fala sobre a rica cultura do norte do país

    Thayana Nunesda CNN

    Não é de hoje que o Rock in Rio volta seu olhar para a Amazônia. Desde 1985, quando realizou a primeira edição, o festival participa de diversas ações de sustentabilidade, como o plantio de 3 milhões de árvores por meio do projeto Amazonia Live, ou o investimento de R$ 5 milhões no reflorestamento na região do Rio Xingu.

    Mas desta vez é diferente. O Rock in Rio, que começa no próximo dia 2 de setembro, quer levar a cultura amazônida para dentro da Cidade do Rock.

    Em um espaço completamente imersivo, chamado Nave, mais de 50 artistas de diferentes partes do norte do país, estarão ali, mostrando que há muito para se olhar além da imensidão verde e das questões políticas e sociais que tanto são debatidas sobre a região.

    No comando dessa curadoria está a paraense Roberta Carvalho, convidada para assinar a direção artística. Ao seu lado, a acreana Karla Martins, que ficou responsável pelo argumento do projeto, e a também paraense Aíla, que participa como diretora musical.

    “O público vai se surpreender ao encontrar a rica pluralidade cultural de uma Amazônia contemporânea”, diz Roberta em conversa com a CNN.

    “São artistas completamente conectados com a ideia de se pensar o hoje e o agora”, diz ela. “É uma arte que tem a ver com território, com ser e estar no mundo.”

    rock in rio
    Como será a Nave, espaço imersivo sobre a Amazônia durante o Rock in Rio 2022/ Divulgação

    Segundo Roberta, o maior desafio da escolha dos artistas foi lidar com uma região de dimensões continentais e ela avisa que quem passar pelo espaço encontrará um recorte “muito rico e enriquecedor”, voltado principalmente para a diversidade. “São muitas mulheres, pessoas LGBT, povos originários, a cultura popular do norte.”

    Dentro da Nave, uma instalação audiovisual de 360 graus com projeções que vão do teto ao chão realizada em parceria com a marca Natura, um dos destaques é a estrutura de aparelhagem, “uma grande expressão da cultura periférica da Amazônia”.

    “Aparelhagem são instalações sonoras onde os DJs, que tocam tecnobrega, executam seus sons em festas, que acontecem de uma maneira muito numerosa no Pará. É uma cultura musical muito própria.”

    A instalação terá o formato de um barco típico da região e foi construída por João do Som, figura conhecido por criar as mais tradicionais aparelhagens das festas de tecnobrega no Pará, há mais de 40 anos.

    “É muito inovadora a maneira como se constrói os ritmos do tecnobrega. De certa forma, é uma maneira de renovar a musicalidade brasileira, uma maneira diferente de se pensar a música”.

    Direto de Belém

    Foi em 2013 que Roberta Carvalho fez seu primeiro grande projeto, o Festival Amazônia Mapping. O evento reuniu milhares de pessoas no centro histórico de Belém para assistir às projeções audiovisuais e tecnológicas se misturando com a arquitetura da cidade.

    Para a artista multimídia, que começou nas artes por meio da fotografia e do vídeo, dialogar com os espaços urbanos sempre esteve no seu radar.

    Um dos mais recentes projetos, por exemplo, aconteceu início da pandemia, quando ela buscou transportar os paulistanos para um outro lugar ao projetar o vaivém dos rios da Amazônia nos prédios vizinhos de onde morava em São Paulo.

    Foi uma forma que ela viu de levar “a força dos rios para dentro de uma cidade onde as águas foram desviadas, poluídas, aterradas pelo crescimento urbano desenfreado”.

    Suas intervenções já viajaram para países como Inglaterra, Espanha e Bélgica, e museus como o Museu de Arte do Rio (MAR), possuem obras assinadas por ela em seus acervos. Em novembro, a artista abre mais uma exposição, desta vez em Berlim, na Alemanha. Sempre levando a Amazônia para o mundo.

    Conexão com a Amazônia

    Natural de Belém, para onde voltou após uma temporada em São Paulo, Roberta acredita que a distância colabora para que as pessoas sintam que a Amazônia é um lugar inacessível.

    Mas ela acredita que tudo está mudando. “Tem muita gente, artistas, ativistas, fazendo coisas incríveis para preservar esse lugar”, diz. “Está na hora de tentar olhar para a Amazônia e quebrar as visões estereotipadas que se tem.”

    E isso pode ser aplicado no dia a dia. A artista lembra que é a Amazônia que refresca o Brasil. “Os rios voadores que estão aí agora, no Sudeste, no ar que você está respirando, já é um exemplo de que no fundo essa conexão existe.”

    “A nossa relação com a floresta é diária. Da água que cai do nosso chuveiro até aos ensinamentos das nossas avós, de que chá de andiroba [fruto amazônico muito usado pelos indígenas] é remédio para dor de garganta. É uma conexão muito sutil. Mas no fundo ela é vista, é potente, é muito forte, está no dia a dia.”

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