‘Paulo Gustavo fez o brasileiro ter vontade de ir ao cinema’, diz crítico
"O legado dele para a cultura brasileira é mostrar que não precisa existir um abismo entre o popular e o mais sofisticado", analisa Roberto Sadovski
O principal legado deixado por Paulo Gustavo — que morreu na terça-feira (4), vítima da Covid-19, aos 42 anos –, está visível na imensa mobilização que causou entre atores e diretores do teatro, cinema e televisão brasileiros, segundo analisa o crítico de cinema Roberto Sadovski.
À CNN, especialista diz que o ator teve a habilidade de criar personagens que atendem exatamente o que o público queria ver. “Isso fez com que as pessoas simplesmente fossem ao cinema cada vez mais. O primeiro filme foi um sucesso de bilheteria, o segundo foi maior ainda e o terceiro foi o maior de todos”, diz.
“O Paulo conseguiu uma coisa que poucos artistas conseguem, que é entender exatamente o que o público quer de um personagem.”
Sadovski diz ainda que quase 40 milhões de pessoas assistiram a pelo menos um de seus filmes, por isso, ele se tornou um dos maiores humoristas do Brasil de todos os tempos. “O Paulo Gustavo ele fez com que o brasileiro tivesse vontade de ir ao cinema.”
Graças a Paulo Gustavo, completa, o cinema brasileiro provou que é uma atividade econômica absolutamente rentável e que o incentivo para esta área vai retornar para a sociedade com muito mais vigor.
Papel social
O crítico também coloca como herança deixada por Paulo Gustavo a capacidade de desconstruir preconceitos, o que, para ele, é um importante legado social.
“Ele nunca escondeu sua orientação sexual, brigou com isso da melhor maneira, abraçou todos os clichês na Dona Hermínia e os devolveu com muito carinho no público”, diz. “Isso talvez faça com que a gente se torne um povo um pouco melhor, pois temos em quem nos inspirar”.
Para a arte do cinema, segundo Roberto, sua grande contribuição foi mostrar que o popular e o sofisticado podem andar juntos.
“Ele falava para todo mundo: a quem fosse popular e à massa. E também para quem procurava um cinema com uma construção de personagem com mais detalhe e sofisticação. O legado dele para a cultura brasileira é mostrar que não precisa existir um abismo entre estes dois mundos, entre o popular e o mais sofisticado.”
“O trabalho dele, com certeza, vai inspirar uma nova geração que não precisa ser de um jeito ou de outro jeito, pode ser verdadeiro. Talvez esse seja o legado: seja quem você é”, conclui o crítico.