Para especialistas, sequência de Pantera Negra deve honrar legado de Boseman
Escritores, acadêmicos e ativistas discutem possibilidades que a Marvel pode explorar em 'Pantera Negra 2', cuja estreia estava marcada para 6 de maio de 2022


Pouco depois do ator Chadwick Boseman, de 43 anos, morrer de câncer na semana passada, milhares de fãs pediram que a Marvel Studios não o substituísse em Pantera Negra 2, criando um dilema para o estúdio que planeja uma sequência para o primeiro grande filme de super-herói de Hollywood com um elenco predominantemente negro.
Ao analisarem o impacto cultural do filme e o desempenho de Boseman, escritores, acadêmicos e ativistas disseram acreditar que a Marvel e sua proprietária, a Walt Disney Co, deveriam honrar o legado do ator com um enredo que escolha um novo Pantera Negra do elenco existente ou em outro lugar do Universo Marvel.
“Eles deveriam realmente considerar seguir o enredo da história em quadrinhos e levar Letitia Wright (que interpreta Shuri, a irmã do personagem de Boseman) para esse papel central”, disse Jamil Smith, um escritor da revista Rolling Stone.
“Nós a vimos em ação. Nós a vimos no meio dessas lutas. Por que não pensaríamos que ela tem a coragem e a força para se tornar a próxima Pantera Negra?”
Essa estratégia pode ser mais bem aceita pelos fãs que teriam dificuldade em ver um ator masculino diferente no papel interpretado por Boseman.
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“Talvez a resposta, para aqueles de nós que ainda não estão prontos para ver alguém naquele uniforme, seja passar as rédeas um pouco mais cedo do que eles esperavam e permitir que Shuri assuma o manto talvez para um Pantera Negra 2”, disse April Reign, criador do #OscarsSoWhite e vice-presidente de estratégia de conteúdo do Ensemble, um estúdio de conteúdo.
Outras abordagens também poderiam celebrar o legado de Boseman. “Será que (seu personagem) pode voltar como o pequeno Pantera Negra?”, disse Nicol Turner Lee, um membro sênior da Brookings Institution. “Será que a Disney honrará a imaginação dos meninos e meninas que o admiravam?”
Disney e Marvel não quiseram comentar seus planos para o futuro de Pantera Negra. A Disney se concentrou em homenagear Boseman, transmitindo o filme e um especial da sobre o ator na ABC News, emissora de sua propriedade nos EUA.
De acordo com reportagem do Hollywood Reporter, os executivos foram pegos de surpresa e poucas pessoas sabiam da batalha de Boseman contra o câncer.
‘Wakanda para sempre’
O filme Pantera Negra foi baseado no personagem pioneiro da Marvel Comics que apareceu pela primeira vez em uma história publicada em 1966.
A produção cinematográfica rendeu US$ 1,35 bilhão em bilheterias (cerca de R$ 7 bilhões), ganhou três Oscars – além de ter concorrido na categoria de melhor filme –, e foi aclamado pela atuação de seu protagonista, que morreu em 28 de agosto.
A Marvel planejava começar a produção de Pantera Negra 2 em março, de acordo com o Hollywood Reporter, com lançamento programado para 6 de maio de 2022.
Embora outros estúdios já tenham passado por situações semelhantes após a morte de protagonistas de suas suas franquias – ou tenham trocado de intérpretes por outras razões, como em Batman e Homem-Aranha – a decisão da Marvel tem mais peso porque Pantera Negra foi um filme de super-heróis negros muito celebrado, além de ser estrelado por um ator amado pelos fãs pela dignidade que trouxe ao papel.
O filme de 2018 inovou com seu elenco predominantemente negro, dirigido por um diretor negro. Boseman interpretou o personagem do rei T’Challa, que dirige a futurística nação africana de Wakanda.
Produzido com orçamento de US$ 200 milhões, foi elogiado por sua diversidade, após anos de críticas sobre a falta de atores e cineastas negros em Hollywood.
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“Naquela época, acabou com o mito de que a Disney não poderia produzir e distribuir filmes com negros como protagonistas”, disse Lee. “Para mim, ‘Pantera Negra’ representa o fato de que a inclusão vende.”
Pantera Negra também chegou aos cinemas em um momento de crescente tensão racial nos Estados Unidos.
Efeito cultural do filme
“O filme ‘Pantera Negra’ foi um grande marco cultural”, disse Alan Jenkins, professor de prática jurídica da Escola de Direito de Harvard.
“Uma parte do que tornou o filme tão importante foi o mundo de Wakanda e a ideia de uma nação africana que se libertou do colonialismo, do comércio de escravos e da exploração. E que tinha dignidade, brilho e tecnologia.”
Hoje, Pantera Negra é ainda mais relevante, já que os negros americanos sofrem desproporcionalmente com a pandemia de Covid-19 e morrem em ações da polícia, dizem os especialistas culturais. A aspiração de Wakanda fornece um antídoto para esse sofrimento.
“O filme certamente não causou o ativismo de hoje – isso se deve ao trágico assassinato de George Floyd e outros negros”, disse Jenkins. “Mas contribuiu para um ambiente onde podemos ver novas realidades e imaginar um mundo mais justo e equitativo do que aquele em que vivemos.”