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    Os jovens estão se informando principalmente pelo TikTok, diz pesquisa

    A gente sabe desse perigo, e, quando vai pra onde eles estão, fica parecendo um tiozão de pulôver querendo se enturmar numa festa de adolescentes

    Phelipe Siani

    Precisamos parar de achismo. E eu digo isso mesmo quando a constatação parece óbvia. Muitos jovens estão se informando pelas redes sociais – que são tão ou mais jovens que eles. É o caso do TikTok, que apareceu em 2016 e que é a rede que cresce mais rápido no mundo. Essa afirmação não é mais novidade pra ninguém, pra absolutamente nenhum veículo grande de mídia e isso não é de hoje. Então por que a grande mídia não consegue se conectar com a molecada que tá lá?

    Bora pros números, só eles vão fazer a gente entender com mais assertividade o tamanho dessa tretaOs dados que vou te mostrar agora são de um relatório da Reuters Institute Digital News, que mostra o seguinte: de toda a galera que tem entre 18 e 24 anos (saudades dessa minha fase), 1 em cada 5 se informa sobre o que tá acontecendo no mundo única e exclusivamente pelo TikTok.

    O Instituto chegou a uma conclusão que, de novo, é óbvia, mas que com números talvez faça o mercado de mídia acordar mais rápido. Um dos coordenadores da pesquisa, o Rasmus Nielsen, diz que essa geração que é mais jovem tem “pouco interesse em muitas ofertas convencionais de notícias voltadas para os hábitos, interesses e valores das gerações mais velhas e, em vez disso, adota opções mais baseadas em personalidade, participativas e personalizadas oferecidas pelas mídias sociais”. O que significa isso na prática e numa linguagem mais civil? Que o jovem não tolera se informar com quem faz isso de um jeito chato e burocrático.

    São vários os riscos que isso traz pra gente. O primeiro deles é que estamos olhando pra uma nova geração – que tem um quinto da força de trabalho -chegando no mercado com uma noção de mundo baseada no que é mostrado só nos algoritmos de uma rede social voltada, principalmente, pro entretenimento. Enxergar o TikTok como sua única fonte de informação é querer comprar carne na padaria. Você até pode ter um padeiro bem intencionado vendendo bife, mas, se isso acontecer, vai ser gigante a chance de você pagar por picanha e levar coxão duro pra casa.

    E antes de você dizer que isso é coisa de gringo e que não dá pra trazer pra nossa realidade uma pesquisa importada, a Comscore tem um levantamento recente que mostra que a gente é o país que mais consome redes sociais na América Latina e o terceiro do mundo inteiro. E, só pra lembrar, o Brasil, infelizmente, nunca foi uma referência em ensino, principalmente público, o que coloca os nossos jovens numa posição de ainda mais vulnerabilidade no momento de formar o próprio conceito de cidadania com fontes tão pobres de informação. E ainda correndo o risco de interpretar mal o que se lê, porque a IAE, que é a “Associação Internacional de Avaliação de Conquistas Educacionais”, divulgou uma pesquisa nesse ano sobre habilidade de leitura das crianças de 57 países. As nossas ficaram na triste posição 52. Se elas crescerem lendo mal e com acesso a fontes pouco confiáveis, qual o senso crítico que elas vão formar?

    Um caso que tem me chamado a atenção já há alguns anos é o perfil no TikTok do Washington Post. Eu tô falando de um dos jornais americanos mais conhecidos, talvez um dos mais tradicionais do mundo inteiro. O Post foi fundado em 1877, já ganhou quase 50 vezes o Pulitzer, que é o prêmio de jornalismo mais cobiçado do mundo e, acreditem ou não, hoje é uma das maiores referência em linguagem jornalística adaptada ao TikTok. O perfil deles por lá tem sempre MUITA informação. Mas tudo é passado pegando carona em memes, colocando nos vídeos jornalistas mais novos, que sabem como se comunicar na plataforma.

    Esse movimento veio de repente? Definitivamente não. O jornal de quase 150 anos de idade foi vendido há uma década pro Jeff Bezos, o dono da Amazon. De lá pra cá, muita coisa internamente mudou e, coincidência ou não, nas mãos de um dos caras que mais entendem as lógicas de tecnologia no mundo, virou uma potência em comunicação atualizada à realidade de um século 21 já maduro.

    Essa jornada é fácil? Obviamente não. É necessária? Com certeza. Existe uma fórmula clara pra isso? De jeito nenhum. Esse ainda é um movimento com mais perguntas que respostas. Mas, se a gente tá falando de uma rede majoritariamente jovem, comunicadores que vêm de um mercado tradicional e entram ali precisam saber conversar com quem já tava na festa antes deles.

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