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    O que mais chocou pesquisadores ao se debruçarem sobre a história do Brasil

    Três historiadores com livros recém-lançados sobre a Independência citam o silenciamento de lideranças negras e indígenas, assim como o combate a políticas que poderiam diminuir a desigualdade do país

    Da CNN Brasil

    Para celebrar os 200 anos da Independência do Brasil, as livrarias nunca estiveram com tantas novidades sobre o tema como agora. São títulos que se debruçam sobre a história do país e o contexto desse marco histórico nacional, celebrado nesta quarta-feira, 7 de setembro. 

    Entre os livros recém-lançados estão “Várias faces da independência do Brasil” (Editora Contexto), de Bruno Leal e José Inaldo Chaves, professores titulares da Universidade de Brasília (UNB); “Independência do Brasil” (Editora Contexto), do historiador e professor da Universidade de São Paulo (USP), João Paulo Pimenta; e “Ideias em Confronto: Embates pelo Poder na Independência do Brasil (1808-1825)” (Editora Todavia), de Cecilia Helena de Salles Oliveira, professora ligada ao Museu do Ipiranga, do qual foi diretora de 2008 a 2012.

    A pedido da CNN, esses três pesquisadores discorrem sobre o que mais os chocou ao longo de suas trajetórias de pesquisa sobre os grandes acontecimentos que fazem parte da história do Brasil desde, e principalmente, o Dia da Independência, proclamada em 1822. 

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    “Várias Faces da Independência do Brasil” (Contexto)/ Divulgação

    “O que me choca que é a capacidade de silenciamento que nós temos da nossa história. Nós somos muito habituados a ouvir que a história do Brasil é pacífica, sem eventos muito significativos e que aceitamos tudo de bom grado. O que não é verdade. Eventos marcantes do nosso passado como a colonização pelos portugueses, o processo da Independência, a proclamação da República e abolição da escravidão são repletos de protagonismos de pessoas que muitas vezes não são consideradas por uma leitura mais tradicional.

    O fim da escravidão e a República não foram eventos protagonizados por uma elite branca encastelada em seus palácios e sem conexão nenhuma com as ruas, mas sim processos do qual fizeram parte um amplo movimento social, com lideranças negras e pelos próprios escravizados. População que esperava não somente trazer a liberdade formal, mas também uma ordem que pusesse por fim àquele sistema senhorial e baseado na violência, no mando e na desigualdade social. A Independência de 1822 também é um momento em que expectativas são elaboradas por populações indígenas, por escravizados que lutam esperando receber a liberdade.  

    A historiografia profissional vem se ocupando em romper esse silenciamento nos últimos 30, 40 anos. Falta a gente comunicar isso para um público mais amplo, de um modo que as pessoas olhem para o passado e encontrem não necessariamente exemplos e modelos de lutas a serem seguidas, mas histórias de pessoas que lutaram em seu próprio tempo contra a desigualdade e a exclusão, contra essa ordem latifundiária que existe até hoje.”

    José Inaldo Chaves, professor da Universidade de Brasília (UNB)

     

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    “Independência do Brasil” (Contexto)/ Divulgação

    “O que mais me chocou e ainda choca é a constatação de como, em momentos em que foram desenvolvidas políticas nacionais de redução ou pelo menos de enfrentamento da brutal desigualdade social do nosso país, essas políticas foram virulentamente combatidas por setores interessados na manutenção dessas hierarquias, dessas desigualdades sociais.

    Essas políticas foram consideradas por esses setores como se fossem malefícios, quando na verdade deveriam ser consideradas benefícios para o nosso país. Nós temos vários exemplos disso nas últimas décadas. Essa constatação diz respeito basicamente à história do nosso Brasil republicano e incide, por exemplo, sobre as políticas trabalhistas do governo de Getúlio Vargas, as reformas de João Goulart e às políticas de combate à desigualdade social do Lula. Isso me chocou e continua a chocar.

    Como políticas que deveriam ser consideradas de desenvolvimento nacional pela promoção de uma diminuição de desigualdades foram violentamente combatidas e criminalizadas por setores poderosos, organizados, como se esses setores tivessem promovendo o bem do Brasil. No meu entender, promovem o mal do nosso país.” 

    João Paulo Pimenta, professor de história da Universidade de São Paulo (USP) 

     

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    “Ideias em Confronto: Embates pelo Poder na Independência do Brasil (1808-1825)” (Todavia)/ Divulgação

    “São dois pontos que merecem ser levantados: em primeiro lugar, de que o processo de Independência foi muito mais longo do que a gente imagina. Podemos situá-lo no final do século 18 e começo do século 19, portanto 1822 é um marco, um símbolo apenas. E não significou o desfecho do processo, ao contrário, é mais uma situação que permite a continuidade e aprofundamento do processo de Independência, uma vez que a Independência não é apenas sinônimo de separação de Portugal, mas sinônimo da organização de um governo autônomo representativo e constitucional.

    O segundo movimento é que, por intermédio da imprensa, dos estudos a respeito da profusão de periódicos e publicações avulsas daquele momento, é possível perceber que havia divergentes projetos políticos em debate e que havia uma enorme participação de inúmeros segmentos da sociedade.

    Esse dois pontos geralmente não são conhecidos ou não são valorizados nos relatos a respeito da Independência ou no que a gente aprende na escola, ou por meio de obras, redes sociais e veículos de comunicação.”

    Cecilia Helena de Salles Oliveira, professora no Museu Paulista da Universidade de SP

    Saiba também por que 7 de setembro foi a data escolhida para o Dia da Independência do Brasil

    *Publicado por Thayana Nunes.

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