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    Meme ou Clarice Lispector? Teste seus conhecimentos sobre a obra da escritora

    Em seus 56 anos, escritora construiu um legado de 23 obras e o status de dama da literatura, uma espécie de “Virginia Woolf dos trópicos”

    Juliana Faddul, colaboração para a CNN



     

    Reza a lenda que, em 1943, o prestigioso crítico literário Álvaro Lins deu um enfático conselho a uma jovem de 23 anos: este livro não está pronto para ser publicado. A moça, que não era das mais comedidas, não deu muita bola ao guru da literatura e resolveu publicar uma pequena tiragem numa editora não muito conhecida de ‘Perto do Coração Selvagem’. Em 1944 a obra ganharia o prestigiado prêmio Graça Aranha de romance estreante e se tornaria um sucesso de vendas. Nascia então, na literatura, Clarice Lispector.   

    A autora ucraniana, naturalizada brasileira, completaria 100 anos nesta quinta-feira (10), caso não tivesse morrido devido a um câncer no ovário em 1977. Em seus 56 anos construiu um legado de 23 obras e o status de dama da literatura, uma espécie de “Virginia Woolf dos trópicos”. 

    Exceto por Lins, as obras de Clarice sempre foram bem recebidas pela crítica, caindo no gosto de figurões como Sérgio Milliet e Antonio Candido. No entanto, o que Lins havia tentado dizer era que a escrita de Lispector era “hermenêutica”. Trocando em miúdos, ele procurava um jeito educado de dizer que ela escrevia de um jeito muito complicado e principalmente “muito feminino”. 

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    Retrato da escritora Clarice Lispector
    Retrato da escritora Clarice Lispector
    Foto: Arquivo/Estadão Conteúdo

    O termo “muito feminino” era uma luz ao caminho que Clarice traçava, na contramão de romances modernistas que narravam as mazelas de um Brasil profundo, como “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos, e “Sagarana”, de Guimarães Rosa. O que Lins não havia entendido era que a autora também falava de profundidade: suas obras narram a vastidão do ser. Se analisarmos: tudo é Clarice: desde a barata que você encontra num armário até um paquera que não retorna as suas ligações.

    Não à toa, a onipresença da obra clariciana migrou para onde a vida cotidiana se é mais exposta: as redes sociais. Há pouco mais de dez anos foi moda legendar com frases da escritora, fotos no Instagram ou Facebook. Isso se deu graças a uma movimentação da Editora Rocco, detentora dos direitos autorais das obras de Clarice, em comemoração ao seu 90º aniversário. 

    A estratégia de marketing era soltar frases soltas das obras no Instagram para divulgar as edições comemorativas de aniversário de obras clássicas da autora. Deu tão certo para a Rocco que Clarice se consolidou como segunda autora mais vendida da Rocco – perdendo o primeiro lugar no pódio apenas para J.K. Rowling, autora da saga Harry Potter. 

    Por outro lado, a popularização dos trechos soltos das obras resultou também na proliferação de frases falsas atribuídas à autora. Frases de efeito, das mais cafonas às mais elaboradas, começaram a ganhar assinatura de Clarice Lispector. Isso causou alguns risos online e um mal estar entre os clariceanos (estudiosos das obras de Clarice): há quem não goste dessa reprodução desenfreada, alegando que empobrece o legado da autora, enquanto outros acreditam que o movimento só fortalece o nome. 

    Ponto é: segundo Google Trends, a busca por frases de Clarice Lispector em 2010 ultrapassou a busca por frases do dramaturgo inglês William Shakespeare. E persiste até hoje.  

    Tendo isso em vista, montamos um quiz para você tentar acertar quais frases são realmente de Clarice Lispector e quais vieram de memes. E aí, que tal se arriscar?