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    “Ninguém Quer”: rabinas opinam sobre papel de mulheres judias na série

    Série retrata judaísmo com o protagonista Noah, interpretado por Adam Brody

    Dan Heching and Alli Rosenbloomda CNN

    Alerta de spoiler: o texto a seguir contém spoilers da série “Ninguém Quer”, da Netflix

    Embora não seja novidade que a Netflix capture a essência do momento com suas séries originais, como em “Ninguém Quer” — um seriado ambientado em Los Angeles, nos Estados Unidos —, que se distancia bastante das tramas mais sombrias de títulos como “Round 6” e “Stranger Things”.

    O retorno do público sobre essa série de sucesso, que tem Adam Brody e Kristen Bell como um novo casal lidando com amigos, família e religião, foi rápido e intenso. Isso porque muitas pessoas compartilharam suas opiniões sobre a representação das mulheres judias, a conversão e as “shiksas”.

    Para quem ainda não conhece (atualmente, a série é a mais assistida da plataforma e já ganhou confirmação de uma segunda temporada), Bell interpreta Joanne, uma podcaster sem afiliação religiosa que se apaixona por Noah, o “rabino bonito” (palavras da série), interpretado por Brody — uma figura importante em sua congregação progressista e vem de uma família judaica mais tradicional.

     

    A química inegável entre o casal logo gera conflitos entre as pessoas próximas, que incluem a irmã sarcástica de Joanne, Morgan (Justine Lupe); o irmão de Noah, Sasha (Timothy Simons); a cunhada Esther (Jackie Tohn) — que ainda é amiga da ex de Noah, Rebecca; e a mãe de Noah, Bina (Tovah Feldshuh).

    No episódio, Joanne decide visitar Noah em seu templo, onde ele é cercado por congregantes que o bombardeiam com perguntas e tentativas de apresentá-lo às filhas, agora que ele não está mais com Rebecca.

    No final, vários observadores na sinagoga — incluindo a veterana Tovah Feldshuh — olham surpresos enquanto Noah cumprimenta Joanne calorosamente. Quando Esther pergunta a Bina com quem seu filho está falando, ela responde: “Uma shiksa” (um termo pejorativo para mulher não judia, especialmente em um relacionamento com um parceiro judeu), encerrando o episódio.

    Esse momento, entre outros, gerou reações sobre como certos temas e estereótipos judaicos foram tratados na série. Para a rabina Amanda Greene, da congregação reformista Sinai, em Chicago, nos EUA, algumas representações — mesmo as mais extremas — ressoaram de forma autêntica.

    “Tem uma palavra, ‘yenta’, certo?”, Greene disse, rindo, em uma entrevista recente. “Isso é o melhor que podemos ser? Talvez não. Mas é uma realidade de quem alguns de nós somos? Talvez”.

    Ela também lembrou que se trata apenas de uma série de TV feita para entreter. “Eu imagino que o mesmo se aplicaria se você entrevistasse pessoas do filme ‘Casamento Grego’, certo? Aquilo é uma exageração dos personagens”.

    Adam Brody
    Adam Brody em “Ninguém Quer” • Stefania Rosin/Netflix

    Enquanto a rabina não-denominacional Adina Allen, que fundou a organização sem fins lucrativos Jewish Studio Project, reconheceu que algumas personagens femininas judias na comédia foram retratadas como “manipuladoras, controladoras, duras e exclusivistas”, ela observou que as não judias também não saíram muito bem.

    “Honestamente, as mulheres não-judias também não têm uma boa imagem”, disse. “A série parece retratá-las como superficiais, desatentas, egoístas e rasas. E, ao mesmo tempo, gostei de todas as mulheres. Por exemplo, Esther, que é o estereótipo da mulher judia, é controladora e cruel, mas também leal e amorosa”.

    A rabina Greene também destacou que nem todas as representações de mulheres judias eram imediatamente depreciativas ou caricaturais.

    “A rabina do acampamento… acho que ela é ótima. É uma boa representação. Ela acolhe Joanne. É uma personagem interessante”, comentou, referindo-se a um episódio hilariante em que Noah apresenta Joanne a uma colega rabina, interpretada por Leslie Grossman.

    “Talvez o que seja tão legal na série é a quantidade de personagens interessantes”, acrescentou Greene, defendendo a personagem de Esther “porque ela é feita para ser odiada, mas também, se sua melhor amiga fosse a ex-noiva… Ela (Esther) é humana também!”.

    Outros momentos soaram bastante autênticos para as rabinas da vida real. “Quando eu comecei na Sinai, muitas pessoas queriam me apresentar a alguém”, disse Greene. “Há uma verdade na qual a congregação quer saber o que está acontecendo na vida pessoal do rabino”, acrescentou.

    A rabina Allen comentou que a série “retrata bem o quão invasivo isso pode ser, especialmente para um rabino de púlpito, e ainda mais para um rabino jovem e solteiro (com base nas experiências dos meus amigos),” acrescentando: “Na cena da sinagoga, quando todas as mulheres se aglomeram ao redor dele para apresentar suas filhas, isso foi bem real”.

    Tanto Allen quanto Greene veem Noah, interpretado por Brody, como um personagem com o qual é fácil se identificar em sua jornada espiritual, em contraste com a imagem de um líder religioso hipócrita ou qualquer outro estereótipo preconcebido sobre como um rabino deve ser.

    “Ele era uma pessoa em um bar (ou festa) que talvez não se parecesse com o rabino que Joanne imaginava que um rabino deveria parecer”, disse Greene.

    “Somos humanos, e acho que, às vezes, as pessoas presumem ou esperam que um rabino tenha uma aparência ou comportamento específico: que só fale sobre a Torá, que só mantenha o Kashrut, que só use uma kippah em todo lugar, que só vista um tallit (xale de oração), que só faça o que seja ‘apenas isso’. Mas somos seres humanos e eu apreciei esse nível de representação do rabino”.

    Uma cena mais adiante na série, na qual Noah celebra o Shabat em um bar, é algo com o qual Greene se identificou, tendo vivido uma experiência semelhante. “Quando me mudei para Chicago, tentei fazer Shabat em um bar para jovens profissionais”, lembrou.

    “Noah é legal”, observou Allen. “Ele vive no mundo, vai a festas, é engraçado, tem roupas estilosas (exceto pelo equipamento de basquete), pratica esportes, tem amigos e uma vida social. Tudo isso foi ótimo de ver retratado na TV”.

    “Conforme a primeira temporada avança, Noah e Joanne começam a imaginar um futuro juntos. Rapidamente fica claro, conforme dito na série, que se Noah se tornasse o rabino principal de sua congregação, seria problemático para ele ter uma parceira não judia”, disse.

    E continuou: “Isso revela a questão da conversão para Joanne, algo com que ela luta até o final da temporada. Noah, por sua vez, também lida com a possibilidade de ter que escolher entre avançar em sua carreira rabínica ou buscar um compromisso mais profundo com Joanne, mesmo que ela não esteja disposta a se converter”.

    A rabina Greene teve sentimentos conflitantes sobre o final e espera que a escolha simplificada de Noah seja apenas uma preparação para a continuidade da história na próxima temporada.

    “Amei a série, mas odiei o final. Acho que é uma dicotomia falsa”, disse. “Minha esperança é que a segunda temporada se desenrole de uma maneira diferente e que ele não tenha que escolher entre a vida pessoal e profissional”.

    “Claro, há momentos em que você tem que escolher, mas prefiro o ambos, então minha previsão — e talvez seja apenas uma esperança — é que na segunda temporada ele consiga, de alguma forma, lidar com as duas áreas… Talvez isso seja apenas um gancho para a próxima temporada”.

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