Netflix irá fazer série sobre jogo do bicho
Produção será criada por Heitor Dhalia, responsável pelo sucesso "DNA do Crime"; jogo de azar é uma prática ilegal, mas é popular e tem envolvimento de figuras influentes no Brasil
Após sucesso de “DNA do Crime”, a Netflix irá investir em mais uma série de ficção inspirada pelo crime brasileiro. Ainda sem nome, a produção irá abordar o jogo do bicho.
O seriado será criado por Heitor Dhalia, que também assinou “DNA do Crime”. Dhalia é cineasta e já fez os filmes “Serra Pelada”, “O Cheiro do Ralo”, “Tungstênio” e “12 Horas”, que foi estrelado por Amanda Seyfried.
A assessoria da Netflix confirmou a informação à CNN, mas não deu mais detalhes.
O jogo do bicho surgiu como uma rifa em um zoológico no Rio de Janeiro em 1892 e acabou por se tornar um dos jogos de azar mais populares do país. Apesar de ser ilegal, as apostas são comuns no Brasil e principalmente no Rio de Janeiro.
Segundo artigo feito por Felipe Santa Cruz, ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Rio de Janeiro, e por Pedro Trengrouse, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o impacto do jogo do bicho na economia brasileira é espantoso. Segundo os pesquisadores, a estimativa é que o jogo de azar movimente cerca de R$ 3 bilhões por ano.
Além disso, um número alarmante de personalidades políticas e influentes do Rio de Janeiro estão envolvidas com o esquema do jogo do bicho. O ex-secretário de Polícia Civil e delegado Allan Turnowski, por exemplo, foi denunciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro em novembro de 2022 por suspeita de envolvimento com o jogo do bicho e uma organização criminosa. Já em setembro de 2022 a Procuradoria Regional Eleitoral do Rio de Janeiro abriu procedimentos preparatórios eleitorais para investigar as campanhas de quatro candidatos a deputado federal e dois a estadual, suspeitos de conexões com o tráfico de drogas, milícias e o jogo do bicho.
O envolvimento é tão profundo no crime organizado no Rio de Janeiro que, em delação premiada, o ex-policial militar do Rio de Janeiro, Élcio Vieira de Queiroz, apontou a participação do grupo liderado pelo contraventor Bernardo Bello no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e do motorista Anderson Gomes. Bello foi denunciado por ser um dos chefes do jogo do bicho na capital fluminense.
Apesar de ser mais popular no estado fluminense, a atuação de milícias envolvidas com jogo do bicho também ocorre em outros estados. Em 07 de setembro deste ano, a Polícia Federal deflagrou uma operação que resultou na prisão do deputado Kleber Cristian Escolano de Almeida, o Binho Galinha (Patriota), apontado como chefe da milícia de Feira de Santana, na Bahia. Policiais que seriam da escolta do deputado também foram alvo da operação por suspeita da prática ilegal de jogo do bicho, agiotagem, extorsão e receptação qualificada.