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    “Maior prêmio que recebi”, diz autor de livro que virou enredo na Grande Rio

    Mussa era jurado do Estandarte de Ouro e se afastou do júri em 2024 por conta do enredo da escola de Duque de Caxias (RJ)

    Flávio Ismerimda CNN , São Paulo

    Apesar de já colecionar prêmios literários, o autor Alberto Mussa acredita que a maior honraria que ele já recebeu na carreira foi ter visto um livro seu virar enredo de uma escola de samba. A obra inspirou o samba da Acadêmicos do Grande Rio, uma das maiores escolas do país.

    “Meu destino é ser onça”, escrito por Mussa e publicado em 2009, tardou 15 anos, mas deu o pontapé inicial para a narrativa que a Acadêmicos do Grande Rio, representante de Duque de Caxias no Grupo Especial do Rio de Janeiro, levará para a Sapucaí no Carnaval deste ano.

    Com o enredo “Nosso destino é ser onça”, os carnavalescos Leonardo Bora e Gabriel Haddad abordam o mito tupinambá de criação do mundo apresentado pelo livro de Mussa para trazer a onça como elemento central da cultura nacional e representante ímpar da brasilidade.

    Veja aqui a lista completa de enredos das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro.

    “Esse, para mim, foi o maior prêmio literário que eu já recebi. Virar enredo é uma coisa diferente, é uma coisa muito especial”, declarou Mussa à CNN. “Eu sou apaixonado por essa festa, tenho uma ligação muito antiga, meu tio foi compositor do Salgueiro e da União da Ilha do Governador e eu assisto desfile há quase 50 anos”, contou.

    Namoro com Grande Rio é antigo

    O trabalho dele já havia servido de base para compor o enredo “Fala, Majeté! Sete Chaves De Exu”, do desfile que rendeu o único campeonato da Grande Rio, em 2022. Um dos setores do cortejo foi baseado em um dos contos do livro “Elegbara”, publicado por Mussa em 1997.

    Com o diálogo já aberto, Bora e Haddad levaram à frente a vontade que tinham desde 2017 de transformar “Meu destino é ser onça” em enredo com a autorização e a colaboração do autor.

    “O enredo deles extrapola o próprio texto. Eles vão buscar uma simbologia da onça, inclusive em outras culturas originárias das Américas. Eles trazem a arte armorial do Ariano Suassuna, Guimarães Rosa. O trabalho é deles, a construção é deles, é uma visão deles”, explica Mussa.

    Segundo o autor, os carnavalescos fizeram consultas pontuais sobre como ele representaria elementos e personagens do livro visualmente, por exemplo.

    “O Mussa foi um interlocutor muito parceiro, muito solícito, que em nenhum momento limitou o nosso olhar. Ele sempre estimulou esse olhar criativo sempre, contribuiu com outras leituras, sempre nos estimulou criativamente”, afirmou Bora, em entrevista à CNN.

    Desfile da Grande Rio de 2022
    Desfile da Grande Rio que conquistou o título em 2022 / Marco Antonio Teixeira/Riotur

    “É um desafio, uma responsabilidade grande e uma honra poder estar traduzindo essa obra e dialogando com alguém que é tão responsável pelo seu ofício.”

    Ligação familiar com o samba

    O autor carioca é sobrinho de Didi, compositor responsável por sambas de sucesso da envergadura de “É Hoje”, de 1982, e “O Amanhã”, de 1978, da União da Ilha do Governador. O primeiro chegou a ser regravado por Caetano Veloso e o segundo por Simone.

    Didi chegou, inclusive, a ser homenageado pela agremiação insulana em 1991, com o enredo “De bar em bar, Didi, um poeta”.

    Foi ele quem levou Mussa para a quadra da União da Ilha para ouvir uma bateria de escola de samba pela primeira vez.

    “Aquilo foi uma explosão emocional que eu não esqueço até hoje. Fiquei arrepiado da cabeça aos pés, senti aquele ritmo ali ao vivo. Era uma coisa inexplicável”, contou o autor.

    Afastamento do Estandarte de Ouro

    De 2017 a 2023, o escritor fez parte do júri do Estandarte de Ouro, uma premiação independente da apuração oficial das notas organizada pelo jornal O Globo que celebra os itens que mais se destacam na folia carioca em cada ano. É como se fosse o Oscar do Carnaval do Rio de Janeiro.

    Em 2024, por ser autor do livro que desembocou no enredo da Grande Rio, Mussa não integrará o júri, que conta com nomes como o ator Haroldo Costa, Mestre Odilon e a carnavalesca Maria Augusta.

    “Por uma questão de prudência, de justiça, eu vou ser afastado do julgamento esse ano, apenas”, explicou Mussa.

    Outro jurado relevante é o historiador Luiz Antônio Simas, com quem Mussa escreveu o livro “Samba de enredo: história e arte”, publicado em 2010.

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