Jack Johnson revela que tem músicas nunca lançadas com artista brasileiro
Em entrevista à CNN, cantor e surfista havaiano conta suas melhores lembranças do Brasil, detalha ansiedade da volta aos palcos e comenta seu primeiro álbum em cinco anos, “Meet the Moonlight”, lançado nesta sexta (24)
“Agora que falei em voz alta, nós vamos ter que lançar.” O cantor e surfista havaiano Jack Johnson sorri ao revelar à CNN ter canções nunca divulgadas guardadas em sua casa, que foram feitas com um artista brasileiro, o carioca Rogê.
O dono de hits como “Upside Down”, “Sitting, Waiting Wishing” ou “Better Together”, que se destacaram nas rádios brasileiras nos anos 2000, lança, nesta sexta-feira (24), seu primeiro álbum em cinco anos.
“Meet the Moonlight” marca não apenas o retorno produtivo do cantor conhecido pela vibe tranquila e praieira de suas músicas, mas também sua volta aos palcos após a pandemia.
Empolgado por tocar novamente com seus colegas de banda, ele espera conseguir trazer a turnê do novo álbum para o Brasil.
“Não digo isso a todo país que dou entrevistas, mas o Brasil é, você sabe, um dos lugares mais divertidos para se apresentar, porque a plateia se envolve muito”, conta.
Em um quarto de sua casa no Havaí, onde “costuma ir para compor quando as crianças vão dormir”, Jack conversou com a CNN sobre a produção e o lançamento do novo álbum, se questionou se o fato de suas músicas serem calmas é algo bom ou ruim, contou suas melhores lembranças do Brasil e explicou a parceria nunca lançada com o cantor e compositor Rogê.
“Minha música é tão chata que faz crianças dormirem?”
Em “Meet the Moonlight”, Jack Johnson não abandona o violão e os vocais mansos que o deixaram famoso.
Mas mesmo com mais de 20 anos de carreira e chegando ao oitavo disco, ele ainda não sabe ao certo como interpretar quando ouve de alguém que suas músicas passam uma sensação de paz.
“Eu ouço de muitos pais que eles botam as crianças para dormir usando minha música. Tipo, minha música é tão chata que as crianças dormem?”, brinca.
O cantor pontua que não tem como dizer se essa vibe criada em suas músicas é intencional.
“Estaria me gabando se dissesse que estou alcançando minhas intenções. É só algo natural meu.”
“Se minha música consegue acalmar as pessoas, isso me deixa muito feliz, é uma honra saber disso”, acrescenta.
Jack quer que você saia lá fora e observe o luar
Durante a entrevista, Jack explica que o quarto no qual está sentado é onde escreveu boa parte das canções de seu novo álbum.
No manifesto de lançamento de “Meet the Moonlight”, o álbum é descrito como uma abertura para os questionamentos sobre “as estranhas complexidades da natureza humana”.
“É apenas a ideia de que às vezes temos ideias e sonhos tão distantes. Nós temos essas ambições que podem atrapalhar o caminho para apenas nos lembrarmos de estar presentes, e encontrar amor ao seu redor”, disse Jack.
“Às vezes isso é tão fácil quanto atravessar a porta, estar lá fora e observar o luar, onde quer que esteja”, completa.
As reflexões existenciais do cantor foram maturadas ao longo dos últimos anos.
O primeiro single do álbum, “One Step Ahead”, que ganhou um bonito clipe na estética de filme 16mm, mostra o que ele chama de “meditação” sobre algo.
Na música, o cantor se mostra incomodado com a ideia das pessoas acreditarem serem “novas fontes de ideias”, com pensamentos inovadores.
“Como eu posso ter tanta certeza que minhas primeiras impressões são minhas?”, canta Jack.
Claro que é algo natural e bonito querer compartilhar boas ideias. Mas, agora, tudo que alguém precisa fazer é digitar alguma coisa, encontrar algo e eles sentem que de repente são uma nova fonte.
Jack Johnson
“Nunca decido quando fazer um álbum”
“Meet the Moonlight” chega aos ouvidos dos fãs de Jack Johnson cinco anos depois de “All the Light Above It Too”, disco lançado em 2017.
Apesar do hiato criativo de cinco anos ser o maior período que já ficou sem lançar um álbum desde sua estreia com “Brushfire Fairytales”, em 2001, o cantor explica que a decisão de gravar algo novo acontece sob pressão zero.
“Amo fazer músicas, mas nunca tentaria forçar esse processo”, disse. Ele explica que a iniciativa de começar um novo álbum não tem “nada muito profundo por trás”.
“Às vezes minha esposa me ajuda dizendo: ‘Você deveria listar essas músicas. Acho que já tem suficiente agora’”, contou.
Então, ele junta alguns rascunhos em papéis, uns áudios gravados com o celular, outras gravações feitas em um gravador simples de quatro canais, e de repente, tem um disco.
“Quando sinto que já tenho o suficiente, apenas faço um álbum”, disse.
Álbum caseiro e dupla com produtor do Alabama Shakes
“Meet the Moonlight” foi parcialmente escrito em um dos estúdios mais famosos dos Estados Unidos, o Sound City, em Los Angeles.
O local foi berço de trabalhos bem-sucedidos desde “Rumours”, do Fleetwood Mac, até o “Nevermind”, do Nirvana, por exemplo.
Mas a maior parte do oitavo álbum de Jack Johnson foi gravado em seu estúdio caseiro, no Havaí, o “The Mango Tree Studios”, em uma parceria intimista com o guitarrista e produtor californiano Blake Mills.
“Nós mal nos conhecíamos quando começamos. Quando você passa 12 horas por dia em um quarto juntos, isso se torna mais do que uma amizade”, conta Jack.
Mills já tocou com artistas como Lana Del Rey e produziu trabalhos da cantora Fiona Apple e o álbum “Sound & Color”, da banda Alabama Shakes, por exemplo.
A sonoridade dos instrumentos que acompanham Jack em “Meet the Moonlight” – muitos deles gravados por Mills – trazem, em parte, lembranças dos sons do Alabama Shakes.
Jack sorri quando o trabalho antigo de Mills é citado. “O do Alabama Shakes é um ótimo álbum para se falar. É provavelmente o motivo de eu ter querido trabalhar com ele em primeiro lugar”, disse.
Ele relembra como ficou admirado pelo produtor.
Blake entrava no estúdio todo dia e simplesmente bloqueava o mundo lá fora. Ele simplesmente ama música. Eu também amo, mas às vezes preciso sair, surfar, andar de skate, tirar um tempo. Então eu voltava e ele estava lá testando coisas novas. Simplesmente amava estar no estúdio.
Jack Johnson
“Isso é o que mais sinto falta das turnês”
Apesar de estar à vontade nos estúdios, Jack sentiu falta de olhar para o público de perto.
No início desta semana, ele saiu em uma turnê com mais de vinte apresentações marcadas na América do Norte.
Segundo o cantor, ele e sua banda são muito próximos, e mantiveram contato durante os períodos de isolamento, visando o momento em que poderiam estar juntos nos palcos.
Quando falou à CNN, Jack estava prestes a voltar a reunir-se com os companheiros para ensaiar a nova apresentação.
“Na verdade vamos nos juntar daqui a uns dias, e vamos começar a sair, tocar música, fazer churrascos e nos atualizar da vida, esse tipo de coisa”, disse.
“Sou muito sortudo, porque as três outras pessoas da banda são alguns dos meus melhores amigos”, completou.
Exemplificando o bom clima nos bastidores, Jack ainda revelou que muitas vezes, os instrumentistas deixam de fazer ensaios e passagens de som para aproveitar mais o local onde estão.
Seu lugar favorito, enquanto não pode descansar em casa, é uma pequena sala que monta com os membros de sua banda, com poucos instrumentos, onde fazem música de forma descompromissada.
“Nós temos uma salinha que montamos todas as noites. É bem simples, e normalmente tem uma bateria, um teclado, um baixo e uma guitarra […] Às vezes só tocamos nessa sala pequena, e essa é minha parte favorita da turnê”, explicou.
“Só sentar ali e falar sobre o que cada um fez durante o dia, e tocar. Meus filhos entram, eles tocam com a gente no backstage, e outros amigos também vêm”, acrescentou.
Sempre é divertido em cima do palco, mas minha parte favorita é quando tocamos nos bastidores antes de entrar.
Jack Johnson
“Definitivamente estamos tentando ir para o Brasil”
Jack Johnson já tocou para os brasileiros algumas vezes, tendo a última sido em 2017. Quando perguntado, ele não esconde que sente falta do país.
“Definitivamente estamos tentando ir para o Brasil”, declarou. “O Brasil é um dos lugares mais divertidos para fazer música ao vivo”.
“Mesmo nos menores lugares, as pessoas estão sempre se envolvendo. Elas entram na percussão, batem palmas sempre no ritmo certo.”
Johnson explica que, no entanto, a logística para fazer shows longe de casa nem sempre é simples de resolver, e pode acabar colocando empecilhos ao encontro: “Foi um momento estranho olhar para um ano à sua frente e tentar descobrir onde você estará. Estamos tentando resolver tudo isso”.
Surfando nas praias brasileiras
As passagens pelo Brasil deixaram mais do que memórias do palco.
Como de costume, Jack não resistiu ao mar brasileiro ao vê-lo de perto, e fez alguns amigos surfando na costa do país.
“Quando vou para algum lugar, gosto de ir para a costa, de conversar com os surfistas e então vê-los mais tarde nos shows. Quando troco olhares com alguém na multidão, e percebo que vi a pessoa mais cedo no surfe, sempre acho algo bonito”, relembrou Johnson.
No Brasil, o artista descobriu novas formas de percussão, que acabou levando para suas músicas.
“Há muitas ótimas lojas nas diferentes cidades, que nosso baterista gosta de nos levar para achar coisas únicas que podemos levar para minha casa e meu estúdio”, conta.
Johnson não deixou de fora de suas lembranças brasileiras o produtor paulista Mario Caldato Jr., com quem fez alguns álbuns.
Segundo o cantor, Caldato não deixou a banda do havaiano passar ilesa das referências nacionais: “Ele trouxe muitos de vocês, e fez com que ouvíssemos muita música brasileira ao longo dos anos. E aprendemos muito só de trabalhar com ele.”
Dueto com Vanessa da Mata e parceria nunca lançada com Rogê
Para além do produtor Mario Caldato Jr., Jack fica feliz em relembrar outras relações com brasileiros que criou através da música.
Por exemplo, quando esteve no Brasil em 2011, no extinto festival Natura Nós, que acontecia na Chácara do Jockey Club de São Paulo, ele fez um dueto com a cantora Vanessa da Mata.
“Tocar com a Vanessa foi um momento marcante. De todos os nossos shows no Brasil, tipo, estar no palco com ela, vinha muita energia da plateia”, relembra.
“Adoraria colaborar com ela [compondo músicas] em algum momento”, levantou a bola.
Outro artista brasileiro que Jack demonstra admiração é Rogê, cantor e compositor de 47 anos conhecido na cena carioca, que já tocou com artistas como Arlindo Cruz, Seu Jorge, João Bosco e Marcelo D2.
Hoje em dia, Rogê também vive nos Estados Unidos, em Los Angeles.
“O engraçado é que não nos vemos há anos, mas já nos encontramos algumas vezes. Uma vez ele veio e na verdade fizemos algumas gravações juntos”, revela.
“Ele traduziu algumas letras para o português, mas nunca encontramos o momento certo para lançá-las”, completou.
Questionado como que esse encontro aconteceu, Jack explicou que os dois se conheceram certa vez no backstage de um show.
“Ele me deu um disco de vinil e eu trouxe para casa. E quando finalmente coloquei pra tocar, eu amei tanto”, relembra.
O disco era “Na Veia”, lançado por Rogê em 2015 em parceria com o sambista Arlindo Cruz.
“Nós mantivemos contato, e mandei para ele algumas músicas. Ele traduziu e cantou alguns versos. Fizemos algumas versões com o Mario [Caldato Jr.] produzindo”, explica Jack.
“Então nós temos elas, apenas nunca achamos o momento certo para lançar. Agora que eu falei em voz alta, nós vamos lançar mais cedo do que tarde”, brinca.
A CNN entrou em contato com a assessoria de Rogê para comentar essa parceria nunca lançada.
Em um depoimento gravado, o carioca relembra que ficou surpreso de ver que Jack tinha gostado de um disco de samba.
“Foi uma surpresa muito grande ele ter se interessado e gostado tanto desse disco. Depois, ele gostou tanto que me mandou duas canções dele para que a gente fizesse uma versão abrasileirada”, conta Rogê.
“Para mim foi uma honra, né? Um cara que é tão bacana, uma pessoa que tem uma carreira tão vencedora”, completou.
O brasileiro relembra que, apesar de não morar nos EUA na época das gravações, a parceria foi facilitada porque ele também já era próximo de Mario.
“Estou a espera de que ele lance essas duas faixas, que gostei bastante do resultado, e acho que em breve vai estar aí nas paradas de sucesso”, brinca Rogê.
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