Ícone da dramaturgia, Nicette Bruno não pensava em se aposentar
Atriz morreu aos 87 anos após contrair o novo coronavírus; ao longo de mais de 70 anos de carreira, estrelou diversas novelas, filmes, peças teatrais
Com mais de 70 anos de carreira, Nicette Bruno era considerada um dos maiores nomes da dramaturgia brasileira – ela morreu neste domingo (20), aos 87 anos, depois de contrair o novo coronavírus.
Nicette teve inúmeros papéis em peças e novelas, como “Rainha da Sucata”, “Mulheres de Areia”, “A Próxima Vítima”, “Sítio do Picapau Amarelo” e “Alma Gêmea”.
Nascida Nicette Xavier Miessa em Niterói, em 7 de janeiro de 1933, ela ainda aprendia a ler e escrever quando iniciou sua carreira artística.
Na casa da avó, a pequena Nice era incentivada pela matriarca: ao lado dos primos, recitava poemas e cantava durante o sarau realizado todo último sábado do mês. Aos 4 anos, já participava do programa infantil de Alberto Manes na Rádio Guanabara.
Aos 14 anos, interpretou Julieta, na tragédia “Romeu e Julieta” escrita por William Shakespeare, no teatro universitário. Sua atuação em “A Filha de Iório”, também aos 14, lhe rendeu o prêmio de Atriz Revelação da Associação Paulista de Críticos de Teatro – o primeiro de muitos que ainda ganharia.
Com 17 anos, fundou o Teatro de Alumínio, na região central de São Paulo, no edifício que sediaria a companhia Teatro Íntimo Nicette Bruno, que fundou em 1953. Fora dos palcos, Nicette foi uma das pioneiras da televisão no Brasil. Ela estreou na TV Tupi assim que foi inaugurada, na década de 1950. Em 1981, foi convidada a trabalhar na TV Globo, onde atuou até 2020, com um papel no remake de “Éramos Seis” – novela em que atuou também na primeira versão.
Ela também teve alguns papéis na telona, onde encenou filmes como “A Guerra dos Rocha”, “A Casa das Horas” e “Doidas e Santas”. No ano passado, a atriz disse em entrevista à revista Quem que, aos 86 anos, não tinha planos de se aposentar.
“Tem muita coisa que eu ainda não fiz e gostaria de fazer. Sempre o próximo trabalho é o mais importante para mim. Eu não sei o que virá”, declarou.
Parceria fora dos palcos
Nicette Bruno conheceu o marido, Paulo Goulart, em 1952, durante a peça “Senhorita Minha Mãe”. A atriz ainda organizava a rotina de peças e atribuições dos funcionários do Teatro de Alumínio.
A jovem fundadora precisava de atores, mais especificamente de um galã. Foi então que o diretor que também trabalhava na TV Paulista (atual Rede Globo São Paulo), sugeriu Goulart, que atuava na novela Helena.
“Foi um teste maravilhoso, foi ótimo”, disse a atriz durante entrevista para o Conversa com Bial, da TV Globo. Nicette relembrou que Abelardo Figueiredo, que era um dos parceiros, afirmou que teria um romance entre a mocinha e o galã da companhia. Ainda revelou que Paulo estaria apaixonado por ela, o que a fez enxergar o jovem com outros olhos.
A parceira rendeu um casamento de seis décadas, três filhos, sete netos, dois bisnetos e muitos prêmios. Ficou viúva em 2014, quando Goulart morreu em decorrência de um câncer. Os dois formavam um dos casais mais queridos da televisão.