“Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa” administra expectativas com maestria
A CNN assistiu ao filme, que estreia nesta quinta-feira (16), e traz uma crítica sem spoilers
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Tom Holland completa sua trilogia como Homem-Aranha • Matt Kennedy/Sony
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O herói estrela o longa mais aguardado da Marvel desde Vingadores:Ultimato • Divulgação/Sony
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Homem-Aranha conta com a ajuda do Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) • Matt Kennedy/Sony
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Homem-Aranha segue ao lado de MJ, interpretada por Zendaya, companheira de Holland na vida real • Divulgação/Sony
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O filme conta com vilões clássicos, como o Doutor Octopus (Alfred Molina) • Divulgação/Sony
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O Duende Verde (Willem Dafoe) também volta a causar problemas ao Homem-Aranha • Divulgação/Sony
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** Texto sem spoilers
Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa nem precisaria ser bom para fazer história. Felizmente ele é ótimo – talvez o melhor da trilogia no universo cinemático da Marvel (MCU).
O longa será mais lembrado por tudo o que veio antes do lançamento, com direito a centenas de teorias e debates acalorados na internet, reações incendiárias aos trailers e recorde de vendas para a pré-estreia.
A experiência do filme não começa no apagar das luzes do cinema, mas nos lançamentos dos trailers, que sugeriam que os mesmos vilões da trilogia do Homem-Aranha de Sam Raimi (iniciada no longínquo 2002) e os dois filmes de Mark Webb estariam de volta graças ao multiverso operado por Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch).
Afinal, se os vilões (e seus respectivos atores) estariam de volta, isso significa que os fãs poderiam matar as saudades das versões do Teioso interpretadas por Tobey Maguire e Andrew Garfield?
A expectativa pelo “será que…” é magistralmente utilizada pelo diretor Jon Watts para conduzir um primeiro ato frenético, com a premissa que já havia sido apresentada nos trailers: após ter a identidade revelada por Mysterio, Peter Parker é perseguido pela fama e apela a Doutor Estranho para tentar fazer o mundo esquecer quem ele é.
O feitiço, no entanto, dá errado e vilões de diferentes universos começam a aparecer.
Grandes poderes
O que se segue é, finalmente, uma jornada de amadurecimento para o Peter Parker de Tom Holland.
Este é o filme com maior carga dramática da trilogia – finalmente nosso melhor amigo da vizinhança sente o peso de saber que, com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades. Em certa medida, é como ele se tornasse o Homem-Aranha só agora.
A carga dramática poderia soar clichê não fosse o talento do elenco.
Tom Holland está em seu auge e mostra que, de fato, é um dos atores com maior futuro em Hollywood.
No entanto, a MJ (Zendaya, que também forma casal com Holland na vida real) consegue superá-lo e roubar a cena facilmente; Ned Leeds (Jacob Batalon), o melhor amigo de Parker e principal alívio cômico, está mais engraçado do que nunca.
Já em relação a outros coadjuvantes, alguns como Doutor Octopus (Alfred Molina) e Duende Verde (Willem Dafoe) estão excelentes, enquanto outros estão completamente no piloto automático, apesar do apelo e a reverência a seus personagens.
Em momento algum, a maior carga dramática se traduz em menos humor – muito pelo contrário.
O timing de comédia que a Marvel aperfeiçoou em seus mais de dez anos de universo cinemático é bem empregado para que o Homem-Aranha continue sendo o herói mais engraçado de todos, mas sem soar artificial.
Artificial mesmo é o excesso de CGs aplicados a fundos verdes, algo padrão no universo Marvel e que, a essa altura do campeonato, soa como um truque velho de mágica: sabemos como funciona, mas diverte (ainda que sem fazer os olhos brilharem). Em nenhum momento as várias cenas de ação cansam.
O mesmo não pode ser dito do roteiro: mesmo com tantas expectativas sendo gerenciadas no primeiro ato, o segundo ato cansa, principalmente pela preguiça do roteiro que, com pressa de chegar nos finalmentes, apela para soluções sem sentido e mal desenvolvidas.
A mágica de verdade apare no terceiro ato, que combina ação, drama e surpresas suficientes para surpreender qualquer espectador, apesar de ainda apelar para clichês como o da solidão do herói.
Grandes responsabilidades
No fim do dia, há muita semelhança entre Sem Volta Para Casa e Vingadores: Ultimato, o último grande fenômeno da Marvel nos cinemas.
Ambos são prova de como a Casa das Ideias é autoconsciente do seu tamanho e adora se autorreferenciar.
Se em Ultimato, a viagem no tempo era a desculpa para a Marvel homenagear sua década de sucessos no cinema, em De Volta Para Casa, o multiverso é o gancho para apelar para a nostalgia de quase 20 anos de filmes do Homem-Aranha.
Sem Volta Para Casa seria só mais um razoavelmente bom filme de super-heróis não fosse a nostalgia por trás dele.
Tal qual uma criança rica que ostenta seus brinquedos, Marvel e Sony fazem questão de desfilar uma enxurrada de referências (ou fan services) para quem acompanhou os filmes do Homem-Aranha.
É na nostalgia cuidadosamente administrada pelos fan services que De Volta Pra Casa se apoia para poder driblar furos de roteiro, saídas clichê ou qualquer outro defeito e transformar um filme bom-porém-imperfeito em um fenômeno que vai ser discutido por anos pelos fãs de cultura nerd.
Mais uma vez, a Marvel conseguiu – com estratégia dentro e fora das telas – guiar os sentimentos do espectador para onde ela quiser.