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    História falsa de que DiCaprio doou US$ 10 milhões à Ucrânia se espalha pelo mundo

    CNN checou fatos de suposta doação, que viralizou e foi compartilhada por grandes veículos de comunicação após publicação de matéria sem fontes em site da Guiana

    Daniel Daleda CNN

    Uma história falsa de que o ator Leonardo DiCaprio fez uma doação de US$ 10 milhões para a Ucrânia foi repetida esta semana por meios de comunicação de todo o mundo e compartilhada por dezenas de milhares de pessoas nas redes sociais.

    Artigos e postagens de rede social afirmaram que DiCaprio está conectado à Ucrânia porque sua falecida avó materna nasceu na cidade ucraniana de Odessa. Alguns dos artigos afirmavam que a doação de US$ 10 milhões de DiCaprio foi anunciada por uma organização chamada Fundo Internacional de Visegrad.

    Verificação dos fatos: DiCaprio não fez uma doação de US$ 10 milhões para a Ucrânia e não tem um membro da família de Odessa ou de qualquer outro lugar na Ucrânia, disse na quarta-feira (9), à CNN, uma fonte próxima ao ator.

    A fonte disse que DiCaprio “apoia a Ucrânia” e fez doações humanitárias relacionadas à Ucrânia para o CARE, Comitê Internacional de Resgate, Save the Children e a agência de refugiados da ONU – mas que a soma de US$ 10 milhões é falsa, que as alegações de DiCaprio dar dinheiro ao governo ucraniano ou aos militares ucranianos também são falsos, e que as alegações de que DiCaprio tem quaisquer “laços de família” com a Ucrânia também são falsas.

    O Fundo Internacional Visegrad disse à CNN na quarta-feira que, ao contrário das notícias, não anunciou uma doação de US$ 10 milhões de DiCaprio para a Ucrânia e não tem informações relacionadas.

    Então, como essa história falsa se espalhou até agora?

    A saga da doação inexistente de US$ 10 milhões é um estudo de caso de como informações ruins podem transbordar das margens do on-line para os principais meios de comunicação – com mídia após mídia, grandes ou pequenas, simplesmente repetindo a história sem checá-la de forma independente.

    Uma história mal apurada

    No sábado, um site obscuro chamado GSA News, que se concentra em notícias sobre o país sul-americano da Guiana, publicou um pequeno artigo afirmando que “fontes dentro da Ucrânia” disseram que DiCaprio “transferiu dez milhões de dólares para o governo ucraniano”. E acrescentou que DiCaprio “tem raízes ucranianas por meio de sua avó materna”.

    O fundador do GSA News, Patrick Carpen, apoiou o artigo na tarde de quarta-feira, mesmo depois de ter sido informado de que a fonte próxima a DiCaprio havia dito à CNN que seu conteúdo era falso. Carpen disse em um e-mail à CNN: “Eu realmente confio em minha fonte dentro da Ucrânia”.

    Na noite de quarta-feira, porém, Carpen ligou para a CNN para dizer: “peço desculpas profundamente” pela história falsa, que ele “não teve más intenções ao publicar esse artigo” e que iria publicar uma retratação, o que ele fez mais tarde.

    Carpen explicou que sua principal fonte para a suposta doação de US$ 10 milhões de DiCaprio foi uma publicação no Facebook de uma mulher ucraniana cujas postagens sobre a guerra com a Rússia geralmente são precisas. Carpen disse que também viu outros ucranianos no Facebook postando sobre a suposta doação.

    Como seu site na Guiana tem poucos leitores, disse Carpen, ele pensou que, se publicasse um artigo repetindo a história de DiCaprio e estivesse errado, ele poderia deletar o artigo sem ninguém perceber em poucos dias.

    “Eu pensei que não teria muitas consequências se fosse falso”, disse ele.

    Em vez disso, ele disse que assistiu com surpresa e consternação quando a história “virou uma bola de neve e chegou em todas as publicações de notícias do mundo, algumas delas com milhões de seguidores. E isso meio que me preocupa […] que as pessoas simplesmente tomem algo pelo valor nominal e simplesmente publiquem”.

    Ele reconheceu, no entanto, que ele mesmo havia tomado as postagens do Facebook pelo valor nominal.

    Para o Twitter, depois para sites obscuros, depois para os principais meios de comunicação

    Seja por causa do artigo do GSA News, por causa das postagens dos ucranianos no Facebook ou por algum outro motivo, a história sobre DiCaprio começou a se espalhar mais amplamente no domingo.

    Uma conta no Twitter chamada Visegrád 24, que twitta atualizações de notícias focadas nos países do Grupo Visegrad da Hungria, Polônia, Eslováquia e República Tcheca para mais de 196 mil seguidores, fez uma postagem – sem citar fontes – que afirmava que “Leonardo DiCaprio doou 10 milhões de dólares para a Ucrânia. Sua avó materna era natural de Odessa, na Ucrânia!”

    As alegações de que a avó materna de DiCaprio, Helene Indenbirken, nasceu na Ucrânia ou, mais especificamente, em Odessa, circulam na internet há anos. No entanto, essas alegações nunca foram atribuídas a uma fonte sólida. Indenbirken morreu em 2008 na Alemanha, onde morava; não ficou claro na quinta-feira onde ela realmente nasceu, e a fonte próxima a DiCaprio também não disse.

    Mais de 10 mil retuítes

    Depois de se espalhar pelo Twitter, importantes veículos publicaram a história / REUTERS/Kacper Pempel/Illustration

    Independentemente disso, a postagem de Visegrád 24 foi retuitada mais de 10 mil vezes. Ela foi excluída na tarde de quarta-feira, depois que a CNN informou à conta que a história sobre a doação de US$ 10 milhões era falsa.

    “Parece que nós mesmos fomos vítimas de uma história falsa. Acontece com os melhores de nós!”, um representante da conta disse em uma mensagem à CNN na quarta-feira.

    Então, onde a conta obteve suas informações? “Vimos a história twittada por várias pequenas contas de notícias, citando uma fonte anônima”, disse o representante.

    Principais veículos publicam a história

    Na segunda-feira, um dia após a publicação do tweet de Visegrad 24, a história realmente decolou.

    Um artigo em outro site obscuro, “Polish News”, relatou que DiCaprio “alocou até US$ 10 milhões para apoiar a Ucrânia e não planejava anunciar isso para o mundo inteiro” – mas que, no domingo, a doação havia sido informada pelo Fundo Internacional de Visegrad, que é uma organização internacional de doação criada pelos governos dos países do Grupo Visegrad (Polônia, Hungria, Eslováquia e República Checa).

    Novamente, não é verdade. A gerente de relações públicas do fundo, Lucia Becová, disse à CNN por e-mail, na quarta-feira, que o fundo não havia feito tal anúncio.

    É possível que o Polish News tenha confundido o Fundo Internacional de Visegrad com a conta do Twitter do Visegrád 24. Na quarta-feira, o artigo do Polish News foi editado para remover a referência ao Fundo Internacional de Visegrad – e o site não expressou forte confiança no resto da história.

    Um representante do Polish News, Artur Salamonczyk, disse por e-mail que, se a CNN estiver ciente de que DiCaprio não fez a doação de US$ 10 milhões, “ficaremos felizes em remover o conteúdo”.

    Na quinta-feira, ele havia excluído o artigo e publicado outro artigo dizendo que a reportagem sobre uma doação de US$ 10 milhões de DiCaprio estava incorreta. A essa altura, porém, o trem já estava desgovernado.

    Agências de notícias após a agências de notícias citaram a Polish News como a principal fonte por trás de suas histórias de que DiCaprio fez uma doação de US $ 10 milhões para a Ucrânia.

    Notícias sobre a doação de US$ 10 milhões foram publicadas por – entre outros – os ingleses The Independent (que eventualmente alterou sua história) e The Daily Mail (que excluiu sua história), The Hindustan Times, da Índia (cuja história permaneceu online até sexta-feira), Novinky, da República Tcheca (que acabou publicando uma nova história desmascarando a original), Euronews, na França (que eventualmente alterou a história) e, nos EUA, o site de entretenimento ET Online (que excluiu DiCaprio de sua história sobre doações de celebridades na Ucrânia), além dos sites políticos conservadores The Washington Examiner e The Daily Caller (ambos os quais alteraram suas histórias).

    A CNN começou a investigar a suposta doação de US$ 10 milhões depois que Jane Lytvynenko, pesquisadora sênior do Centro Shorenstein de Mídia, Política e Políticas Públicas da Universidade de Harvard, levantou questões sobre a precisão da história viral no Twitter na quarta-feira.

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