Guitarrista brasileiro se apresentará no Grammy com novo projeto de Bruno Mars
Escolhido por Mars para integrar a banda Silk Sonic, Mateus Asato é considerado hoje um dos melhores guitarristas do mundo. À CNN, ele fala sobre sua trajetória e o convite para abrir a maior premiação da música internacional
O Grammy Awards de 2022 acontece, na noite deste domingo (3), na arena MGM Grand Garden, em Las Vegas, nos Estados Unidos.
A banda responsável pela apresentação de abertura da cerimônia será o Silk Sonic, projeto de nostalgia setentista capitaneado por Bruno Mars e Anderson Paak.
Mas, para o Brasil, o destaque vai além da dupla estrelada que divide os vocais.
Quem assume as guitarras grooveadas nas apresentações ao vivo do Silk Sonic é o brasileiro natural de Campo Grande (MS), Mateus Asato.
No quarto de hotel em Las Vegas em que tem morado nas últimas semanas e poucas horas antes de subir ao palco com a banda mais uma vez, Mateus conversou com a CNN sobre sua trajetória, o convite para tocar no Silk Sonic e a expectativa para se apresentar na abertura da maior premiação da música internacional.
Do cover de NX Zero à mudança para os EUA
Aos 28 anos de idade, Mateus vive nos Estados Unidos desde 2013. Ele, inclusive, contou que a apresentação no Grammy coincidirá com o aniversário de 9 anos de mudança para o país.
A ida veio após uma reviravolta porque o guitarrista estava decepcionado com a música em geral.
Em 2010, Mateus costumava publicar vídeos na internet tocando covers das bandas famosas de emo na época, como NX Zero e Fresno.
Um desses vídeos chegou ao guitarrista do NX, Gee Rocha, que mostrou para o produtor Rick Bonadio.
Mateus relembra que houve então um convite para ir a São Paulo e começar a tocar na banda de Manu Gavassi, que estava produzindo seu álbum de estreia.
Mas, ainda menor de idade e cursando o ensino médio, os pais ficaram receosos e acabou ficando em Campo Grande.
Foi então que, ainda meio decepcionado e pensando que tinha perdido sua chance na música, se inscreveu de última hora em um concurso de guitarristas.
Mateus acabou vencendo a disputa, e os idealizadores do concurso o incentivaram a se matricular no conservatório Musicians Institute, em Los Angeles.
A mudança para estudar guitarra veio só três anos depois, em 2013. Deu certo: atualmente, Mateus é considerado um dos maiores guitarristas do planeta.
Em 2019, ele foi eleito pela renomada revista americana “Guitar World” como o 9º guitarrista da década.
Por também ser muito reconhecido pelos vídeos que publica tocando guitarra, a Guitar World o chamou de “mestre das redes sociais”.
“Mateus também tem fãs de alto escalão – entre eles John Mayer, que disse de Asato: ‘Ele é um dos melhores guitarristas do mundo e seu palco é o Instagram’. Como sabemos que Mayer disse isso? Vimos no Instagram de Asato, claro”, escreveu a revista.
Parcerias internacionais e after party na casa do Prince
A primeira parceria internacional após chegar nos EUA foi com a cantora pop Tori Kelly. Mateus fez uma audição e foi chamado para a banda da artista, que era agenciada por Scooter Braun – mesmo empresário de Ariana Grande, Justin Bieber e Demi Lovato, por exemplo.
Ele relembra que essa colaboração abriu portas para experiências “muito doidas”. Uma delas foi quando, ao tocar com Tori Kelly, em 2016, Mateus ficou sabendo que Prince estaria na plateia.
“Prince assistiu umas duas músicas só do show. Ele era um cara muito característico, exótico, autêntico. Ficou um período no show e foi embora, mas me deixou uma mensagem”, conta.
O show era em Minneapolis, cidade natal de Prince, e a mensagem era um convite para toda a banda ir à casa da lenda da música para tocar no estúdio caseiro dele.
“Ele organizava muitas jam sessions. Foi uma experiência muito louca vivenciar isso”, disse Mateus. Pouco tempo depois, Prince acabou falecendo, aos 57 anos, por uma overdose acidental.
Após tocar com Tori Kelly, Mateus também começou a colaborar com a cantora britânica Jessie J. Foi tocando com ela, aliás, em um festival pela Europa em 2018, que o guitarrista brasileiro conheceu a estrela do pop Bruno Mars.
Acabei de assistir ao show que fiz com a Jessie J no Pinkpop. Sei que ela sempre teve excelentes músicos, mas essa banda de 2017/2018 era campeã demais. Teria sido impecável se tivéssemos tocado no RIR em 2019 com ela (e o mesmo repertório também). PS: o vídeo é do TRNSMT. pic.twitter.com/3tAi9W7EMQ
— Mateus Asato (@mateusasato) February 13, 2022
“A gente estava tocando no meio da tarde e o Bruno ia fechar a noite. Eles chegaram mais cedo e tiveram a oportunidade de ver a gente”, conta. Mateus lembra que queria gravar o cantor nos bastidores para mostrar para os amigos no Snapchat.
“Chegou uma hora que ele veio se aproximando de mim. Falei: ‘Ferrou, o cara viu que eu o filmei.’ Mas ele contou que viu o show, me deu parabéns, disse que já tinha ouvido falar de mim pelos meninos da banda, que viram meus vídeos no Instagram. Eu fiquei muito surpreso com isso”, relembra.
Convite de Bruno Mars e o Silk Sonic
Um ano após se conhecerem, a banda The Hooligans, que costuma acompanhar Bruno Mars, ficou sem guitarrista. “O guitarrista deles acabou virando pai e teve que dar um ‘break’. Aí, por intermédio do Bruno, eles chegaram a um consenso e me chamaram para tocar”, disse Mateus.
Desde então, o laço foi se consolidando. No ano passado, o guitarrista do Hooligans, que já tinha se ausentado por um tempo, acabou deixando a banda de vez.
“Os meninos falaram: ‘Cara, vem tocar com a gente e já fica ligado para o calendário porque muitas coisas vão acontecer”, acrescentou o brasileiro.
O que aconteceu nesse meio tempo foi o lançamento do projeto Silk Sonic. A banda que abraça todas as referências da música americana dos anos 1970 lançou, em março de 2021, o single “Leave The Door Open”, com um clipe em tons de sépia que acompanha toda a concepção estética da banda.
A música ficou duas semanas consecutivas no top 1 da Billboard Hot 100, e 18 semanas consecutivas no top 10 do ranking. Embora Mateus não tenha participado da gravação do álbum “An Evening With Silk Sonic”, lançado em novembro do ano passado, ele foi oficializado como o guitarrista do projeto para as apresentações ao vivo.
No dia 25 de fevereiro, Mateus fez o anúncio no Twitter de sua entrada para o projeto, e de que participaria de uma residência (série de shows fixos no mesmo local) em Las Vegas.
Hoje começam os shows de um dos trabalhos mais especiais da minha carreira (até então). Ainda diante da liquidez dos nossos tempos modernos, creio que este projeto deixará uma marca significativa na história da Música. Que Deus nos abençoe! #SilkSonic #70s
— Mateus Asato (@mateusasato) February 25, 2022
“Eles perguntaram se eu topava entrar e eu falei: ‘Mano, pra ontem’. Então organizei meu calendário para estar aqui e está sendo muito legal. É um projeto muito especial, sou suspeito para falar, mas é muito prazeroso participar de algo que você admira”’, contou à CNN.
Expectativa para o Grammy
As apresentações no hotel Park MGM de Las Vegas vêm acontecendo com a proibição de aparelhos celulares durante os shows – uma estratégia para tentar fazer a plateia ter a melhor experiência sem distrações.
A performance em premiações musicais, como será a abertura do Grammy, é o máximo que os brasileiros terão para provar um pouco de como é o Silk Sonic com Mateus na guitarra.
Mas é isso aí gente. Hoje tem mais um show do Silk Sonic em LV. Infelizmente nem câmeras nem celulares são permitidos, o que é uma pena porque está bem legal. Eu tiro a camiseta no meio do show, dou mosh e depois faço um solo só de cueca. Se é verdade ou não só o tempo irá dizer.
— Mateus Asato (@mateusasato) March 2, 2022
O Silk Sonic já se apresentou no Grammy de 2021, quando a premiação aconteceu em formato híbrido por conta da pandemia. Além desta ser a primeira edição completamente presencial para o grupo, será a primeira vez que eles vão concorrer a prêmios.
São quatro categorias no total: Gravação do Ano, Música do Ano, Melhor Performance de R&B e Melhor Música de R&B. Todas para o single “Leave the Door Open”.
O Grammy só considera lançamentos para o fim de setembro, então o álbum da banda que saiu no fim de 2021 só estará elegível para a premiação de 2023.
“Estamos muito felizes. Geralmente quem abre a cerimônia é realmente algo muito importante. O Bruno [que já tem 11 Grammys] nunca abriu uma cerimônia. A gente precisa proporcionar algo que vai dar esse impacto”, disse Mateus.
O guitarrista já se apresentou em todos os outros principais prêmios da música internacional, mas no Grammy será sua primeira vez.
Mas parece que a ansiedade do brasileiro estará dividida neste domingo (3).
Palmeirense “roxo”, Mateus só terá olhos para a final do Campeonato Paulista até o momento de ir para a premiação. Jogando em casa, o Palmeiras precisa vencer o São Paulo com dois gols de vantagem para pelo menos levar a partida para os pênaltis.
“Meu coração está bem dividido: enquanto o Grammy não chega, a gente deposita a ansiedade e nervosismo em outra coisa. Se conseguirmos [o título], vou chegar com sorriso de orelha a orelha”, disse.