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    #FreeBritney: Movimento que mobilizou fãs de Spears pode ter respostas na quarta

    Spears falará pela primeira vez em audiência sobre sua tutela e ativistas pela sua liberação da medida possuem altas expectativas para o momento

    Protesto do movimento Free Britney, em 27 de abril de 2021, em frente ao Tribunal de Los Angeles, durante audiência sobre a tutela de Spears
    Protesto do movimento Free Britney, em 27 de abril de 2021, em frente ao Tribunal de Los Angeles, durante audiência sobre a tutela de Spears Foto: Matt Winkelmeyer/Getty Images

    Rob Picheta,

    da CNN

    Em 2009, a superfã de Britney Spears, Megan Radford, leu um post de blog sobre o novo acordo legal de sua ídola, e algo não parecia certo.

    Então Radford fez um protesto sozinha do lado de fora do show da estrela em Dallas, vestindo uma camiseta que ela mesma havia feito, estampada com um slogan peculiar: “Free Britney” (em português “Liberte a Britney).

    “Eu estava sozinha…Acho que algumas pessoas definitivamente pensaram que eu era maluca”, disse Radford à CNN. “Quando você realmente se preocupa com uma pessoa, não é muito difícil começar a defender seus direitos”.

    Radford, 34, que diz que nunca “superou” seu amor adolescente por Spears, nunca tinha ouvido falar de uma tutela antes. Os fãs de Spears ao seu redor tinham pouca preocupação com a causa, e a frase em suas roupas ainda não era uma hashtag – apenas algumas palavras que ela leu no site de um fã clube.

    “Foi apenas uma forma de tentar transmitir a situação”, disse Jordan Miller, o dono do tal site e o homem que cunhou a expressão “Britney Livre” em uma série de posts sem fôlego para seus leitores no final de 2008. “Eu estava com 19, 20 anos …tudo isso saiu voando de dentro de mim.”

    Hoje, essas duas palavras descrevem a cruzada da cultura pop definidora da era da internet. O movimento #FreeBritney, que afirma que a estrela está sendo mantida contra sua vontade em um estrangulamento legal que lhe nega até as liberdades pessoais mais básicas, tem postos avançados em todo o mundo e atraiu intenso escrutínio da mídia sobre o caso da cantora nos últimos anos.

    Praticamente todas as alegações de seus adeptos – como a de que Spears não administra sua própria mídia social, que ela não tem permissão para dirigir ou possuir um telefone e que foi ameaçada ou proibida de criticar o acordo em público – são fortemente negados por aqueles próximos a Spears ou envolvidos na tutela.

    Britney Spears
    Britney Spears não comentou o assunto de sua tutela nos últimos anos
    Foto: Axelle/Bauer-Griffin/FilmMagic

    Eles dizem que a ordem, que está em vigor desde 2008, existe para a proteção de Spears e tem ajudado a cantora a colocar sua carreira e vida pessoal nos trilhos – enquanto observam que a cantora nunca pediu a um tribunal que ela fosse dissolvida. Nem Spears nem seu assessor responderam ao pedido da CNN para comentar este artigo.

    Mas os detetives da internet e apoiadores assíduos, uma vez geralmente considerados conspiradores marginais, dedicaram muito de suas vidas à causa de “libertá-la”, espalhando suas preocupações online sob a sempre presente hashtag #FreeBritney e conquistando várias celebridades e figuras públicas. Um documentário do jornal americano New York Times, chamado Framing Britney Spears (“Framing Britney Spears: A Vida de uma Estrela” no Brasil), destacou a causa no início deste ano, chamando a atenção para o movimento além da ávida base de fãs de Spears.

    Então, para muitos dos ativistas, quarta-feira (23) – quando Spears deve falar em uma audiência no tribunal da Califórnia, potencialmente encerrando um silêncio de anos sobre o assunto – parece um dia de ajuste de contas.

    “É desesperador, porque finalmente teremos algumas respostas e algumas percepções”, disse o líder do Free Britney, Junior Olivas, que planeja fazer uma manifestação fora do Tribunal Superior de Los Angeles. “Temos ouvido de todos ao redor de Britney, mas não da própria Britney.”

    O pai de Spears, Jamie Spears, foi nomeado pela primeira vez como conservador dos bens de sua filha em 2008, junto com o advogado Andrew Wallet, após uma série de questões pessoais que afetaram publicamente a cantora. Durante a maior parte desse período, ele também supervisionou sua saúde e decisões médicas, e em 2019 ele se tornou o único administrador do patrimônio de 60 milhões de dólares da cantora quando Wallet renunciou.

    O patriarca Spears, se afastou temporariamente da supervisão das decisões médicas de sua filha depois que ele enfrentou seus próprios problemas de saúde em 2019. Jodi Montgomery tem desempenhado a função que a equipe de Jamie Spears espera tornar permanente nas próximas semanas. Em novembro do ano passado, a juíza Brenda Penny nomeou a empresa Bessemer Trust como co-conservadora do espólio da cantora.

    Protesto do movimento Free Britney
    Protesto do movimento Free Britney, em 27 de abril de 2021, em frente ao Tribunal de Los Angeles, durante audiência sobre a tutela de Spears
    Foto: Matt Winkelmeyer/Getty Images

    De acordo com documentos judiciais obtidos pela CNN em dezembro, o advogado de Britney nomeado pelo tribunal, Samuel D. Ingham III, disse que Britney não se apresentaria em shows novamente enquanto seu pai permanecesse no controle de sua fortuna. Ingham disse à CNN que “não pode comentar sobre um caso pendente”. A advogada de Jamie Spears, Vivian Thoreen, não respondeu ao pedido da CNN para comentar, mas já havia dito à CNN que Jamie gostaria que sua filha não precisasse mais de uma tutela.

    Apesar de várias rodadas de audiências no ano passado – nas quais Spears não se pronunciou – não está claro o que Britney Spears dirá quando prestar depoimento remotamente na quarta-feira.

    Mas seja o que for, muitos de seus fãs estarão ouvindo atentamente online depois de inundar o site do tribunal para garantir links de áudio – além da expectativa de manifestações em LA e em cidades distantes como Londres e Colônia, na Alemanha.

    “Eu previ 50 cenários diferentes na minha cabeça”, disse Radford, enquanto olhava para a audiência. “Estou nervoso, mas estou tentando acalmar os nervos…Espero que ela sinta, pela primeira vez, possivelmente, o apoio que tem atrás dela.”

    ‘É como um segundo emprego’

    A última vez que o mundo ouviu publicamente os pensamentos de Spears sobre as restrições de sua vida privada foi em 2008, poucos meses depois de sua tutela, quando ela falou com os cineastas no documentário da MTV “Britney: For the Record”.

    “Se eu não estivesse sob as restrições de que estou agora, com todos os advogados, médicos e pessoas me analisando todos os dias…se isso não estivesse acontecendo, eu me sentiria tão livre”, disse Spears, falando em termos gerais sobre sua vida e comparando sua experiência ao “Dia da Marmota” ou a uma cela de prisão. Ela descreveu sua vida como “muito controlada, não há empolgação, não há paixão”.

    Então, começou um silêncio de 13 anos sobre o assunto de uma das pessoas mais famosas do mundo.

    Ocasionalmente, Spears discute algumas das perguntas de seus fãs em vídeos do Instagram – na semana passada ela disse que não sabia se iria se apresentar novamente; no início deste ano, ela disse que “chorou” depois que o documentário do New York Times sobre seu caso foi lançado, e ela repetidamente garantiu aos seguidores que está feliz – mas evita discutir sua situação legal em público.

    “Por muito tempo pareceu meio estranho para todos. Parecia que ela nunca mais falava sobre o que estava sentindo”, disse Guido Willweber, um discípulo da Free Britney em Colônia, Alemanha, que organizou manifestações para ela na cidade.

    À medida que a questão dos verdadeiros desejos de Spears se transformava em um dos maiores mistérios da cultura pop, seus fãs decidiram falar por ela – “literalmente se tornando investigadores particulares”, como Radford coloca.

    Nos últimos três anos, os apoiadores se organizaram em um movimento de protesto genuíno. Para muitos dos envolvidos, essa busca significou desistir de seu tempo livre para revisar as leis da Califórnia, organizar protestos e buscar cobertura da mídia.

    “Em algumas semanas chega a ser um segundo emprego de tempo integral. É definitivamente um segundo emprego de meio período”, disse Radford, que relatou madrugadas vasculhando o idioma jurídico enquanto equilibrava sua paixão com seu trabalho na área de marketing em Oklahoma City.

    Protesto do movimento Free Britney
    Protesto do movimento Free Britney, em 27 de abril de 2021, em frente ao Tribunal de Los Angeles, durante audiência sobre a tutela de Spears
    Foto: Matt Winkelmeyer/Getty Images

    Ela viaja para Los Angeles aproximadamente a cada dois meses para participar de protestos e é co-fundadora do braço de LA do movimento Free Britney.

    “Isso afeta sua vida cotidiana – não há um dia em que você, em algum momento, não pense no Free Britney”, acrescentou Olivas. E praticamente todos os fãs que falaram com a CNN apontam para a importância da internet, onde sua comunidade foi construída, onde a notícia foi espalhada, e onde alguns membros acreditam, sem evidências, que a própria Spears está deixando pistas em postagens nas redes sociais.

    A maioria dos fãs percebe que não podem provar muito do que sugerem, mas sua intuição aguçada e unificadora foi a base de um dos fenômenos recentes da mídia social. “Você está se colocando contra pessoas tão poderosas, e se você estiver errado?” disse Olivas.

    Agora, ainda em alta devido ao documentário do New York Times que atraiu mais atenção para o caso de Spears, o movimento tem se espalhado cada vez mais pelas telas dos computadores e pelas ruas das principais cidades do mundo. Na Alemanha, Willweber estará organizando um protesto “Free Britney” no centro de Colônia na quarta-feira, o segundo que ele realiza para a cantora.

    Ele não tem certeza de quantas pessoas irão, mas ele é estóico. “Se formos apenas dez pessoas e aumentarmos a conscientização, estaremos fazendo nosso trabalho da maneira certa”, disse ele. “Sendo um fã de Britney, você realmente se acostuma a ficar frustrado.”

    O organizador da manifestação do Free Britney em Londres no mesmo dia diz que espera uma presença de algumas dezenas de devotos. “Eu tenho uma tonelada de camisetas que tenho enviado para muitas pessoas”, disse o organizador Adam Oliver.

    O plano reflete o comício anterior de Oliver em abril. “Saímos de Westminster, passamos pela Downing Street, pelo Soho cantando ‘Libertem a Britney’ e todos nos apoiaram”, disse ele. À noite, os participantes se reunirão em um bar e ouvirão uma transmissão de áudio ao vivo da audiência.

    Outro comício está programado para acontecer na frente da Embaixada dos Estados Unidos em Oslo, Noruega. E em Paris, o superfã Fabian Harlow compareceu a protestos virtuais locais durante a pandemia, toda vez que uma nova sessão judicial acontecia. Ele supervisiona grupos de fãs franceses no Facebook e Instagram e diz que há “muitos apoiadores franceses do movimento”.
    “Graças à internet, podemos fazer parte desse movimento, mesmo morando na França”, disse Harlow à CNN.

    Britney Spears
    Os últimos shows de Britney foram durante sua residência em Las Vegas, em 2017
    Foto: Gabe Ginsberg/FilmMagic

    “Estou realmente a ajudando?”

    O movimento Free Britney se transformou de um conjunto díspar de fãs online para algo que se assemelha a uma organização ativista tradicional – auxiliado em grande parte por suas associações com grupos que fazem campanha sobre a questão da tutela de forma mais geral.

    Mas os críticos também chamaram a atenção para elementos mais sombrios dentro do movimento. Lou Taylor, ex-gerente de negócios de Spears e alvo frequente dos ativistas da Free Britney, deixou seu cargo no ano passado depois de receber ameaças de morte e se tornar objeto de falsas acusações, disse seu advogado à CNN.

    E mesmo enquanto sua campanha ganha força e apoio, há uma pergunta que incomoda alguns membros: É isso que Britney quer?

    “Eu entendo o paradoxo em que estou – quero que Britney tenha mais privacidade, mas aqui estou contribuindo para esse movimento”, diz Miller, cujo fã clube Breathe Heavy costuma ser creditado por acender o pavio do movimento de volta em 2009.

    “As pessoas querem respostas, mas elas precisam delas?” pergunta Perez Hilton, jornalista cujo blog foi o epicentro online da cobertura sensacionalista de celebridades no início dos anos 2000. “Eles as merecem? Eles deveriam conhecer os registros médicos e todos os detalhes que os cercam?”

    Fã de Britney em protesto em Los Angeles
    Leanne Simmons, fã de Britney, em protesto em Los Angeles, no dia 22 de julho de 2020
    Foto: Frazer Harrison/Getty Images

    Hilton entende o fascínio mais do que a maioria, dados seus anos acompanhado as reviravoltas dos problemas pessoais de Spears. “Britney é tão envolvente para tantas pessoas”, disse ele. “Ela transcende gerações. O mundo a viu, em grande escala, crescer diante de nossos olhos…é quase como se ela fosse um membro da família.”

    Ele agora diz à CNN que tem “toneladas de arrependimento” sobre sua cobertura descarada da vida privada de celebridades. “Há tantas coisas que eu faria de forma diferente”. Mas ele vê uma sede semelhante em alguns elementos do movimento dos fãs; “para alguns deles, tornou-se entretenimento. Para alguns deles, o movimento é um hobby, mas na verdade é a vida dessa mulher.”

    Miller diz que se sentiu “vingado” nos últimos meses, após as medidas de Spears, por meio de seu advogado, para ajustar os elementos da tutela. Mas ele passou “mais de 10 anos duvidando de mim mesmo e se perguntando: estou fazendo mais mal do que bem? Estou realmente a ajudando?”

    Afinal, não há precedente na cultura pop para a situação de Spears ou para a campanha de sua base de fãs.

    “[Spears] era muito famosa antes de você pular no Instagram e ver seu artista favorito todos os dias”, observa Miller, que diz que seu site centrado em Britney agora atrai centenas de milhares de telespectadores a cada mês. “Ela sempre teve esse tipo de mistério em torno dela.”

    E especialistas dizem que o mistério é difícil de replicar na cultura das celebridades hoje. “Nossa imagem e relacionamento com as celebridades modernas…é diferente até de algumas décadas atrás”, disse Amber Melville-Brown, especialista em direito de mídia e gestão de reputação no escritório de advocacia internacional Withers.

    “A internet e as mídias sociais deram poder e emanciparam o público” para sentir “propriedade” sobre as estrelas, acrescentou ela. “E como a mídia social tomou conta de nossas vidas, as celebridades tiveram que gerenciar seus relacionamentos com fãs e detratores, e administrar suas personas públicas 24 horas por dia.”

    “O que significa ser uma celebridade é diferente” agora do que quando Spears alcançou o estrelato global, Hilton diz, uma mudança que ele atribui em grande parte ao surgimento das mídias sociais e ao aumento da visibilidade das celebridades.

    E essa mesma tecnologia encorajou e unificou fanbases. “Isso pode mobilizar [os fãs]…mas eles também podem intimidar as pessoas”, disse Hilton.

    Miller pede calma após a data do julgamento na quarta-feira, especialmente se os comentários de Spears forem diferentes de suas próprias esperanças. “Se ela vai tomar uma decisão, quem somos nós para dizer: ‘Você não pode dizer isso’?” ele disse. “Acho que o movimento deve apoiar o que Britney deseja.”

    Alguns apoiadores têm um objetivo mais ambicioso: eles querem ver Spears liberada de sua tutela. Mas independentemente do que aconteça no tribunal, os ativistas do Free Britney esperam que a recém-descoberta visibilidade de seu movimento tenha um efeito cascata além de LA, mudando a forma como as celebridades são tratadas e dando mais credibilidade a seus fãs.

    “Assim que acabarmos com isso, isso vai atrapalhar todo o sistema”, disse Radford, insistindo que a campanha pode ter um impacto tangível tanto no uso de tutelas quanto na indústria da música.

    “Eu realmente acredito que isso vai acontecer. Só não sei quantos anos terei quando isso acontecer.”

    (Texto traduzido. Leia o original em inglês).