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    Filme de ficção sobre a Guerra na Ucrânia estreia no Brasil

    Em "Klondike", que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (5), diretora traz o conflito no país de forma intimista, dentro de um núcleo familiar

    Isabella Fariada CNN

    Retratar no cinema uma história que ainda está sendo escrita não costuma criar os melhores filmes, mas Maryna Er Gorbach não faz qualquer juízo de valor em sua direção.

    Ao contrário, ela apenas posiciona no centro de “Klondike – A Guerra na Ucrânia” o estopim de um conflito que escalou ao longo de quase dez anos.

    São dois gêneros que se completam nessa obra: drama familiar e filme de guerra.

    Dentro de uma casa, cuja parede da sala é destruída por uma bomba nos primeiros minutos do filme, moram Inka (Oksana Cherkashyna) e Tolik (Sergey Shadrin). Enquanto eles esperam seu primeiro filho, se veem no meio do conflito entre separatistas pró-russos e o exército ucraniano.

    No início, a presença dessa guerra se reflete em alguns incômodos diários, como ter que ceder o carro da família por algumas horas aos separatistas. Porém, quando um desastre aéreo acontece no local, a situação muda.

    A diretora baseou o filme no acontecimento de julho de 2014, quando um voo da Malaysia Airlines foi derrubado por separatistas pró-russos na região de Donbass, matando 298 pessoas.

    “Foram anos de investigação até descobrirem os culpados”, diz a diretora Maryna Er. “E o assunto sumiu da mídia rapidamente, o que foi assustador pra mim, então, eu resolvi contar essa história do meu jeito”.

    Mesmo um longa-metragem não documental pode servir como um documento histórico. Para Miguel Chaia, professor da PUC e cientista político, o cinema é uma forma de participação e compreensão da realidade, sendo a Guerra um dos maiores temas do audiovisual, pois afeta a todos; quem produz o filme e quem o assiste.

    “Qual é o grande acontecimento trágico entendido na sociabilidade, no funcionamento e na organização de uma sociedade? É a guerra. Ela é permanente”, diz.

    Os conflitos escalam, mas a essência da guerra não muda. Segundo o professor, “Klondike” não perde força ao retratar uma situação que ainda está em andamento porque o filme é mais uma forma de entrar em contato com o assunto, tornando-o mais elucidativo.

    “Mesmo que os personagens sejam fictícios, nós estamos vendo uma reincenação da história”.

    E Maryna fez questão de mostrá-la, mas refletir sobre ela ao mesmo tempo. Segundo a diretora para fazer um filme anti-guerra é necessário mostrar a guerra de algum jeito. A diretora, porém, deixou de lado a estética clássica de conflitos: explosões a todo momento, jornadas de soldados heroicos, poças de sangue… Ela escolheu o caminho da não-violência e do minimalismo.

    “Eu quis trazer uma experiência imersiva da guerra através dos movimentos de câmera e da fotografia”, diz, “quando eu não crio um ambiente expositivo, eu deixo a imaginação do espectador fluir, acredito que seja melhor do que mostrar absolutamente tudo”.

    Em alguns momentos, ela se emociona durante a entrevista. Diz que o que o mundo vê agora, os ucranianos já previam oito anos atrás.

    “Esse filme é minha criação contra a guerra e contra a violência, e eu espero que ressoe com quem assiste”, afirma.

    Olhar feminino

    A personagem principal do filme é Irka, que resiste, ao máximo, enxergar os horrores da guerra. Como se fosse uma pequena rachadura, Irka insiste ao marido que a parede da sala seja consertada após uma bomba detonar a casa, por exemplo.

    Ao ordenhar sua vaca, lhe faz um carinho e pergunta se ela ficou assustada com o barulho. Não entende, ou ignora, o porquê do seu carro estar sendo usado por separatistas. Irka tenta ao máximo se dissociar da realidade, até que, sem escapatória, é diretamente afetada por ela.

    “Eu vejo muitas “Irkas” por aí, é a clássica mulher ucraniana”, diz a diretora. “São mulheres resistentes, dispostas a proteger sua família e sua própria vida”.

    Irka é uma personagem amável, conciliadora, cujo papel principal é mostrar como a guerra, causada por homens, é sempre estúpida.

    Maryna compara Irka à própria Ucrânia. Segundo a diretora, um país independente, com a criação da própria cultura, mas cuja história é constantemente interrompida por terceiros.

    Ao fim do filme, Maryna dedica-o às mulheres, mas não sem antes mostrar a última cena e a mais emocionante. Na guerra, a destruição também é uma criação.

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