‘Eternos’ expande o universo Marvel com saga de origem confusa
'Eternos', em última análise, contempla a humanidade, e a maneira como os extraterrestres vêem sua beleza e possibilidades, bem como sua feiúra
Nota do editor: Esta é uma resenha do filme ‘Eternos’, feita pelo crítico especializado Brian Lowry, para a CNN
Adaptando uma história em quadrinhos relativamente obscura em um épico extenso, “Eternos” pode ser a aposta mais ousada da Marvel desde “Guardiões da Galáxia”, e deu certo.
Se este conto milenar de imortais escondidos à vista de todos na Terra poderá repetir o histórico de sucessos da Marvel, servirá como um referendo sobre a força do estúdio, especialmente porque as falhas estruturais do filme são equilibradas por seus visuais impressionantes e performances fortes.
Avaliar “Eternos” requer algumas isenções de responsabilidade, uma vez que parece bastante diferente da maioria dos trabalhos da Marvel. A história representa uma expansão potencial tão significativa de seu “universo cinematográfico” que só pode ser julgada com justiça no futuro, quando houver tempo para ver que frutos essas sementes produziram.
Por esse e outros motivos, o filme é certamente interessante, e vem com o pedigree da diretora e co-roteirista Chloé Zhao, seguindo o vencedor do Oscar “Nomadland”.
No entanto, quaisquer que sejam as sensibilidades do filme independente de Zhao, “Eternos” deve atender às demandas de ação associadas ao gênero, o que habilmente faz, ao mesmo tempo em que apresenta a história desses personagens e o que eles significam.
Essa última tarefa se mostra mais embaraçosa e desajeitada, especialmente durante a longa primeira metade que explica a premissa e remonta a equipe, a mais inclusiva que a Marvel já apresentou.
“Eternos” simplesmente leva muito tempo para chegar às coisas boas, e seus elementos mais complexos e adultos – incluindo um grande romance – poderiam abrigar menos apelo entre as crianças, uma demonstração não por acaso das pretensões dos títulos mais recentes da Marvel.
Baseado em um trabalho menor do supremo artista da Marve,l Jack Kirby (que voltou ao estúdio depois de criar seu épico “Novos Deuses” na DC), “Eternos” se concentra em seres despachados para a Terra há milhares de anos para destruir criaturas horríveis chamadas Deviantes, que ameaçam seus habitantes.
Com poderes extraordinários que variam de voo e supervelocidade, a alteração da matéria e controle de mentes, eles foram compreensivelmente confundidos com deuses por civilizações antigas. Consequentemente, nomes como Ikaris (Richard Madden), Sersi (Gemma Chan), Thena (Angelina Jolie) e Makkari (Lauren Ridloff) encontraram seu caminho em várias mitologias, embora com a grafia mutilada.
Sempre foi um conceito um tanto atrevido, e o filme começa em um passado distante antes de saltar para o presente, com muitos flashbacks de lugares como a Mesopotâmia e a Babilônia.
Depois de relativa calma por milhares de anos, os Deviantes ressurgiram, fazendo com que os Eternos – espalhados por todo o mundo – voltassem à ação, embora isso primeiro requeira reuní-los e se divertir um pouco com a forma como ocuparam sua vida eterna e tempo infinito.
Em seu núcleo estão os amantes Ikaris e Sersi, com Chan, o estrela de “Podres de Ricos” (Crazy Rich Asians, 2018), servindo realmente como o coração do filme. Sersi havia arrumado um namorado humano interpretado por Kit Harington, adicionando ao time de ex-estrelas de “Game of Thrones”, que inclui Madden e o compositor Ramin Djawadi.
Conforme construído, o filme expande toneladas de exposição durante seu primeiro terço, afunda no meio e sobe de forma impressionante durante a etapa final, que é cheia de surpresas e emoção genuína. Além disso, espere para ver as cenas pós-créditos habituais.
Tudo isso chega um pouco tarde, porém, para validar completamente o filme.
“Eternos”, em última análise, contempla a humanidade, e a maneira como esses extraterrestres vêem sua beleza e possibilidades, bem como sua feiúra, de forma muito parecida com o diálogo de Visão com Ultron na primeira sequência de “Vingadores”, ou o Surfista Prateado nos quadrinhos.
Instruídos a não interferir nos assuntos humanos, seu tempo na Terra deixou sua marca neles, assim como eles encontraram seu caminho na mitologia da humanidade.
É possível desfrutar de momentos individuais – das interações de Chan e Madden, ao personagem de Kumail Nanjiani e seus divertidos passatempos –, e ainda sair pensando que “Eternos” exagera ao tentar transformar esse quadrinho pouco conhecido em ouro.
É certo que a beleza do universo interligado da Marvel é que, ao jogar a longo prazo, as peças se constroem umas sobre as outras, de modo que a avaliação pode mudar quando a próxima fase entrar em forma completa. “Eternos” certamente não carece de ambição, mas por enquanto, a Marvel – encorajada por seu sucesso – mirou as estrelas, mas não chegou lá.
Chegará eventualmente? A esperança é a última que morre.
Texto traduzido. Leia o original em inglês.