Estudante de Harvard viraliza ao escrever musical de princesa coreana estilo Disney
Julia Riew, de 22 anos, é uma das atuais celebridades do TikTok: ela canta e se transforma em uma personagem inspirada nas princesas da Disney
Depois de perceber que não havia coreanas entre as icônicas princesas da Disney, Julia Riew, de 22 anos, decidiu que ela mesma criaria uma – com direito a musical para acompanhar a personagem.
A estudante da Universidade de Harvard, que cresceu em St. Louis, no estado do Missouri, Estados Unidos, escreve e compõe há anos. Mas com seu sétimo musical completo até hoje, “Shimcheong: A Folktale” (“Shimcheong: Um Conto Popular”, na tradução livre), ela aproveitou suas raízes coreanas e acabou viralizando no TikTok, onde a história e as músicas estão ressoando em pessoas de todo o mundo.
“Pela primeira vez, tive um sentimento tão forte de comunidade e pertencimento, que sempre desejei”, disse Riew em uma videochamada com a CNN. “Nunca imaginei que algo como o TikTok […] pudesse me levar a um lugar onde sinto uma sensação tão calorosa de aceitação”.
A primeira música que levou os fãs a descobrirem Riew no TikTok, “Dive”, conquistou quase um milhão de visualizações, com os fãs realizando suas próprias interpretações em uma versão instrumental. As letras inspiradoras encorajam os ouvintes a serem destemidos e não deixar que nada os impeça.
“Agora todos os peixes no mar não podem me parar”, canta Riew no clipe de 41 segundos, usando um filtro que a transforma em uma personagem animada no estilo Disney. “Todas as ondas do mundo não podem me balançar. Estou em uma missão e, olha, apenas me veja ir!”
@juliariew Presenting a snippet from the very first song I wrote for Shimcheong 🥰🇰🇷✨ #korean #disney #princess ♬ original sound – Julia Riew
O musical de um ato conta a história de uma jovem corajosa chamada Shimcheong que cai nas profundezas do oceano enquanto tenta salvar seu pai. Ela entra no mágico Reino do Dragão, aparentemente sem saída. Dez anos depois, ela planeja uma fuga, arriscando tudo para encontrar o caminho de casa.
É só no final da história que a obstinada Shimcheong ganha o título de princesa e, como qualquer bom conto de fadas, este está repleto de aventuras, um príncipe e uma vilã, a Rainha do Dragão. Riew lançou clipes curtos das músicas do príncipe e da Rainha do Dragão no TikTok, mas os fãs ansiosos terão que esperar para ouvir todas as 16 faixas na íntegra.
O musical é uma adaptação do conto folclórico coreano “The Blind Man’s Daughter” (“A Filha do Homem Cego”, na tradução livre), no qual uma filha sacrifica tudo por seu pai cego, a quem ela ama muito.
Riew é a terceira geração de uma família coreana-americana e começou a trabalhar no musical há mais de um ano para um projeto da sua tese, mas disse que nunca esperava que ele decolasse online. Seu sonho, ela disse, é inspirar outras pessoas com histórias que “contribuem com algo de bom no mundo”.
“Acho que as histórias são tão importantes para as crianças”, acrescentou. “Especialmente como alguém que, quando jovem, nunca se viu representada na mídia, no cinema, na TV ou no palco – isso era algo que eu sempre desejei”.
Fãs aumentando
Quando se trata de musical na era da Covid-19, o TikTok e a Geração Z provaram ser uma combinação poderosa.
Em 2020, os criadores do TikTok uniram forças para produzir “Ratatouille: The Musical”, depois que o vídeo de 15 segundos de um professor sobre o amado rato da Disney Pixar, Remy, viralizou. A produção colaborativa, que aconteceu em questão de semanas, ficou online por 73 horas e foi transmitida por 350 mil pessoas – um número de visualizações igual ao de um ano inteiro em um show esgotado da Broadway.
Outros TikTokers, como Katherine Lynn-Rose, entraram na onda compondo músicas para “Avatar: A Lenda de Aang” e o sucesso da Netflix, “Round 6”, como se fossem musicais.
Para Riew e outros criadores, a plataforma vai muito além de dublagem de vídeos e dancinhas. Os fãs de seu musical totalmente roteirizado também criaram fanarts com seus personagens, e embora Riew tenha inicialmente imaginado o fiel companheiro de Shimcheong, Lotus, como um dragão, ela adorou a sugestão dos fãs de que Lotus poderia ser representado como um “gumiho”, a raposa de nove caudas dos contos populares da Coreia.
@juliariew Reply to @cc_evans00 Pls send me ur art, I can’t wait to see it!!!!! #disney #shimcheong #korean #disneyprincess ♬ original sound – Julia Riew
Os fãs de Riew – que incluem pais, filhos e entusiastas da Disney em todo o mundo – dizem que gostariam de ver a história nas telonas.
“[O burburinho] iniciou nos Estados Unidos e depois começou a entrar nos tópicos mais comentados do Twitter coreano”, disse Riew, acrescentando: “Até mesmo antes de os produtores entrarem em contato, é quando os pais me dizem: ‘Eu tenho um filho de 5 anos, 3 anos, ou 9 anos de idade – eu sei que eles adorariam ver este filme na tela, e estamos ouvindo suas músicas’. Isso é realmente o que mais aquece meu coração”.
Embora tenha começado a escrever musicais aos 15 anos, Riew não tinha certeza se seguiria como carreira, e inicialmente se matriculou como estudante de medicina.
“Eu tinha medo de ser artista. Eu tinha medo de seguir uma carreira que não parecia sustentável”, disse ela. “Acho que muito disso veio do meu desejo de me encaixar na comunidade asiática-americana. Eu não estava realmente vendo que muitos outros estudantes asiáticos faziam teatro na época, mas muita coisa mudou ao longo dos anos”.
Durante seu primeiro ano de faculdade, Riew participou do “Musical do Primeiro Ano” da Harvard, que dá aos calouros a oportunidade de criar e produzir um musical. Nas audições para o show, no entanto, ela ficou desanimada com a falta de representação asiática.
“Isso me fez pensar: ‘Ah, talvez isso não seja a coisa certa para mim, mas, ao mesmo tempo, alimentou meu desejo de querer criar mais espaço para os estudantes asiáticos no campus, que podem não ter descoberto o teatro ainda”.
Riew mudou a opção do curso para teatro musical no verão, após seu segundo ano na universidade e, desde então, seus shows já foram encenados no American Repertory Theatre, no Farkas Hall da Universidade de Harvard e no Agassiz Theatre, na UNC-Greensboro School of Theatre, entre outros palcos.
Busque por pertencimento
O processo de escrever “Shimcheong: A Folktale” foi desafiador, mas significativo, disse Riew, pois permitiu que ela confrontasse muitos aspectos de sua identidade. Depois de perder o avô e a avó ter ido morar com ela, Riew se viu querendo entrar mais em contato com sua herança coreana.
“Minha inspiração definitivamente veio de muitos lugares diferentes”, disse ela. “Eu diria que, acima de tudo, veio da minha jornada em busca de pertencimento. Recentemente, tenho pensado muito sobre identidade e como isso se cruza com a arte e as histórias que escolhemos contar. Fui muito inspirada pelos meus avós, e minha experiência na faculdade – e foi assim que encontrei meu caminho para ‘Shimcheong’”.
Quando fez sua primeira viagem a Seul, na Coreia do Sul, aos 18 anos, ela descobriu coisas sobre si mesma e sua própria história que a ajudaram a moldar o musical.
“Foi um momento emocionante. Mas, de muitas maneiras, foi um momento que me abriu os olhos, onde percebi que este lugar que eu sempre olhei e me imaginei pertencendo era muito mais diferente do que eu esperava”, disse ela. “E eu era muito mais uma forasteira do que eu esperava”.
Embora Riew e sua família celebrem as tradições coreanas e americanas, ela não foi cercada por uma grande comunidade coreana enquanto crescia. Nos últimos anos, se esforçou para aprender mais sobre suas raízes asiáticas, seja por meio de aulas de coreano na escola ou por meio de sua música. Agora, ela espera que pessoas de todas as idades possam se inspirar na história de Shimcheong.
“Sempre foi meu sonho estar andando na rua e ouvir uma criança cantando minha música”, disse Riew. “Eu sinto que estou quase vivendo esse sonho agora, vendo os duetos de todos os tipos diferentes de pessoas cantando a música. Tem sido incrível”.
A Disney pode ainda não ter escolhido o roteiro, mas Riew já ouviu de produtores e cineastas interessados em levar a história para um público maior. Por enquanto, ela está trabalhando com um agente para tentar entender o que vem a seguir.
“Provavelmente foram as três semanas mais loucas da minha vida, mas é um momento muito, muito emocionante”, disse ela. “E, honestamente, estou muito agradecida”.