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    Entenda por que Taylor Swift está regravando seus seis primeiros trabalhos

    A origem da decisão vem de conflito entre a cantora e sua ex-gravadora pelos direitos sobre seus trabalhos mais antigos

    Luana Franzãoda CNN* , São Paulo

    A cantora Taylor Swift lançou a regravação de “Red”, seu quarto álbum de estúdio, originalmente divulgado em 2012. Essa é a segunda regravação lançada em 2021: em abril, ela divulgou a nova versão de “Fearless”, álbum de 2008.

    Para o êxtase dos fãs, ela também divulgou um curta-metragem que serve de clipe para a canção “All Too Well”, uma das favoritas do projeto original. A diferença é que, enquanto a primeira versão da música já era considerada longa, com 5 minutos de duração, a nova conta a história completa do término do relacionamento com o ator Jake Gyllenhaal em detalhados 10 minutos e 11 segundos.

    Essas e outras pequenas diferenças continuam atraindo o público para escutar álbuns que já conhecia há anos: o relançamento de “Fearless” alcançou o topo da parada de 200 álbuns mais ouvidos do momento da Billboard no mesmo dia em que foi lançado, 12 anos depois da primeira estreia.

    Ao olhar além do sucesso das novidades, fica a pergunta: o que faz Taylor Swift regravar seus trabalhos mais antigos? A resposta é repleta de “juridiquês”, mas não é difícil de entender.

    Empire State Building, em Nova York, iluminado em vermelho para o lançamento de Red (Taylor’s Version), em 10 nov. 2021 / Reprodução/Empire State Building

    Troca de gravadora e posse das canções

    Tudo começa no fim do contrato entre Swift e sua primeira gravadora, a Big Machine Records. Em 2018, ela alcançou o fim de um vínculo assinado em 2005 com a empresa, sob a qual produziu seis álbuns: “Taylor Swift” (2006), “Fearless” (2008), “Speak Now” (2010), “Red” (2012), “1989″ (2014) e “Reputation” (2017).

    Para entender a confusão, é preciso esclarecer alguns termos. Os fonogramas, ou “masters”, no termo em inglês, são as gravações em si de uma música – o arquivo que será reproduzido em streamings, CDs, discos de vinil, filmes e séries para os quais pode ser cedido. A letra e composição musical de uma obra, no entanto, podem ser separadas contratualmente dos fonogramas, o que ocorre no caso de Swift.

     

    No contrato com o selo, na época comandado pelo empresário Scott Borchetta, a cantora vendeu os “masters” de suas canções para a Big Machine Records, enquanto suas letras e composições musicais continuariam a pertencer-lhe. Ou seja, as versões das músicas que foram lançadas no passado, e a possibilidade de vendê-las, permitir reproduções, modificações, entre outros processos, não estão nas mãos da cantora.

    Após deixar a primeira casa e assinar em 2019 com a nova, a Universal Music (sob o selo Republic Records), Swift continuou em posse de suas letras e melodias.

    Esse é um procedimento comum em contratos entre grandes gravadoras e artistas de destaque, explica o advogado Walter Vieira Ceneviva, especialista em direitos autorais e propriedade intelectual, e que tende a se tornar mais popular. “A verdade é que a indústria fonográfica impõe esta condição, mas isso facilita muito a vida dos artistas, que se dedicam à criação e aos shows, ao passo que a gravadora se obriga a resolver as questões de mercado, arrecadação de direitos etc”.

    Isso não significa, no entanto, que Swift não veja nenhum lucro dessas gravações, ainda que não as possua. Entram em jogo os “royalties”, que, no caso dos fonogramas, são o valor pago ao detentor do material para reproduzi-lo. 

    Rádios, emissoras de televisão, desenvolvedoras de games, ou qualquer um que quisesse utilizar as músicas da cantora em um produto deveriam pagar um valor à Big Machine Records, que então distribuiria as quantias entre intérpretes, músicos e produtores de acordo com o estabelecido em contrato.

    Conflito começou na venda da Big Machine Records de Scott Borchetta (à direita) para a empresa de Scooter Braun (à esquerda) / Divulgação: Big Machine Records

     

    A empresa de Borchetta foi vendida – e com ela, a obra de Taylor Swift, avaliada em 300 milhões de dólares – em 2019 para a Ithaca Holdings, de propriedade de Scooter Braun, empresário de grandes nomes como Justin Bieber, Ariana Grande e Demi Lovato. 

    Seria apenas um procedimento comum da indústria, não fossem os anos de desavenças entre Swift e Braun.

    No dia do negócio, a cantora revelou nas redes sociais, os conflitos que ocorriam nos bastidores. “Estão vendendo meu legado para alguém que um dia tentou destruí-lo”, disse, afirmando que tentou “por anos” comprar seus fonogramas, e não foi permitida. 

    Swift ainda acusou o antigo e o novo proprietário do selo de impedi-la de apresentar suas músicas em um show do American Music Awards (AMA) daquele ano e de usá-las em um documentário sobre sua obra produzido pela Netflix.

    Em nota posterior, a Big Machine Records negou todas as acusações, afirmando que Taylor e seu pai, na época um dos acionistas da gravadora, foram avisados com antecedência do acordo, e que a cantora teve a oportunidade de comprar seus fonogramas, mas recusou-a. 

    A cantora esclareceu que a oferta proposta dependia da gravação de mais seis álbuns com a empresa: a cada novo álbum que lançasse, receberia os fonogramas de um antigo – cláusula que a prenderia no selo por, pelo menos, mais seis trabalhos.

    Logo em seguida, em 2019, a cantora anunciou que regravaria todos os seus trabalhos em posse de Braun, intercalando os lançamentos com os de projetos originais.

    Taylor Swift usou uma camisa com o nome de todos os álbuns retidos pela antiga gravadora em apresentação no American Music Awards (AMA) em 2019, apresentação na qual ela alega ter sido impedida de tocar as canções / Getty Images

    Regravações de Taylor Swift viram realidade

    Taylor Swift cumpriu sua promessa, e rápido. Entre 2019 e novembro de 2021 foram lançados três projetos originais – “Lover” (2019), “Folklore” (2020) e “Evermore” (2020) – e duas regravações. Em 2023, relançou 1989.

    “Eu sei que isso vai diminuir o valor das minhas masters antigas, mas espero que vocês entendam que esta é a única maneira de eu recuperar o senso de orgulho que tive quando ouvia as canções dos meus seis primeiros álbuns, e também permitir que meus fãs possam escutar esses álbuns sem o sentimento de culpa por beneficiar Scooter Braun”, disse a cantora no Twitter.

    As regravações não são uma novidade no mundo da música: artistas como Prince, Frank Sinatra e Def Leppard já o fizeram para recuperar sua obra.

    Uma aposta tão grande quanto a de Swift, no entanto, é ousada. Um volume grande de relançamentos exige tempo de trabalho, mão de obra, planejamento e um risco: o público poderia não comprar a ideia, e as novas canções ficariam juntando pó em uma estante das plataformas de streamings.

    A chegada da “versão de Taylor” – como ela mesma apelidou – de “Fearless” ajudou a apaziguar as especulações. A estreia foi um sucesso, com oito canções ocupando a lista das 100 mais ouvidas da Billboard na semana do lançamento.

    Para alcançar a meta, Swift não poupou recursos. Quinze novas adições, Keith Urban e Ed Sheeran estão entre a artilharia pesada usada pela cantora para chamar os fãs.

    Além de possuir os direitos e a maior parte dos lucros das versões mais recentes de suas músicas, Taylor Swift argumenta que o esforço lhe renderá mais. Em essência, a cantora recuperará o controle criativo de seu trabalho.

    “Eu só quero poder tocar MINHAS PRÓPRIAS músicas”, disse ela nas redes sociais.

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