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    Diretores brasileiros tentam contornar impactos da pandemia no cinema nacional

    Diante da crise do audiovisual, os serviços de streaming se tornaram o principal refúgio de diretores premiados, que lançam material exclusivo online

    Aeroporto Central Tempelhof, na Alemanha, personagem central do documentário brasileiro "Aeroporto Central"
    Aeroporto Central Tempelhof, na Alemanha, personagem central do documentário brasileiro "Aeroporto Central" Foto: Divulgação/Juan Sarmiento

    Júlia Carvalho,

    da CNN, em São Paulo

    Se os anos 2000 representaram um período de ascensão para o cinema brasileiro, 2020 e os anos que seguirem exigirão que ele se reinvente. Com as salas de cinema fechadas e as produções paralisadas por causa da pandemia, a indústria cinematográfica brasileira está precisando encontrar alternativas para contornar os impactos gerados pela pandemia do novo coronavírus.

    O vírus foi mais um fator negativo em um cenário que já não era muito animador para o cinema nacional. Segundo dados da Ancine, apesar do número de lançamentos de filmes brasileiros ter crescido de 79 para 185 entre 2008 e 2018, a quantidade de público nessas produções se manteve praticamente estável. O espectador prefere os longas estrangeiros, o que se reverte na renda de bilheteria: os filmes nacionais arrecadam cerca de 7,5% do que faturam as produções estrangeiras no Brasil. 

    Esse cenário é agravado pela impossibilidade da exibição e produção de filmes enquanto durarem as restrições impostas devido à pandemia, e tem feito com que produtoras, distribuidoras e diretores brasileiros busquem alternativas para manter vivo o cinema nacional. Diversos filmes que estavam previstos para entrar em cartaz este ano, por exemplo, tiveram que ter suas datas de lançamento adiadas.

    É o caso do filme “Turma da Mônica – Lições”, o mais novo trabalho do diretor Daniel Rezende. A segunda adaptação em live action dos personagens de Mauricio de Sousa estava prevista para estrear no dia 10 de dezembro, mas a data será alterada em consequência do coronavírus. O primeiro longa da série,”Turma da Mônica – Laços” (2019), também dirigido por Daniel, alcançou 2 milhões de espectadores.

    Bastidores filme Turma da Mônica
    Bastidores da gravação do filme “Turma da Mônica – Lições”, dirigido por Daniel Rezende
    Foto: Divulgação/Serendipity Inc

    Uma das alternativas encontradas para promover o filme em tempos de pandemia foi através de lives com o diretor e com os atores principais. “Falamos sobre o filme, mas conversamos muito sobre o momento que estamos vivendo. Muito legal as crianças poderem falar para outras crianças sobre a importância da quarentena nesse momento”, disse Rezende, que também dirigiu “Bingo – O rei das manhãs” (2016), à CNN.

    O diretor afirma não acreditar que a opção do lançamento apenas em plataformas de streaming seja a saída para o “Turma da Mônica – Lições”. Segundo ele, “o filme ainda está em processo de montagem. Quando ele estiver pronto, talvez a gente tenha uma visão mais clara do mundo. Vamos ter que nos adaptar ao que o futuro nos reserva. Só não sabemos exatamente qual futuro será esse”.

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    Já no caso do documentário brasileiro “Aeroporto Central”, do diretor Karim Aïnouz, a saída encontrada foi justamente o lançamento apenas nas plataformas de streaming.

    “Esse processo de lançamento direto no streaming ainda é muito novo para mim, estou descobrindo como será a experiência do espectador. Quanto mais enxergava os paralelos presentes entre o filme e o contexto que estamos vivendo, percebia a importância do lançamento do filme nesse momento, e por isso decidimos pela estreia direto nas plataformas digitais”, disse Aïnouz à CNN.

    Personagens de "Aeroporto Central"
    Ibrahim Al Hussein e Qutaiba Nafea, protagonistas do documentário “Aeroporto Central”
    Foto: Divulgação/Juan Sarmiento

    Estreia do diretor de “A Vida Invisível” (2019) no gênero, o documentário acompanha a história de refugiados no Aeroporto de Tempelhof, em Berlim, um dos maiores abrigos para aqueles buscavam asilo. Aïnouz fala, ainda, sobre a semelhança do filme com o período atual.

    “Os solicitantes de asilo eram vistos como vírus nocivos à comunidade europeia, um pouco do que estamos vendo agora. Eu gosto imaginar um futuro que seja melhor do que falar do passado. Fala-se em ‘voltar ao normal’. Mas o normal não era normal. Temos que pensar nas possibilidades de um mundo mais coletivo, com mais igualdade e respeito”.

    Em relação ao futuro do cinema no Brasil e no mundo, os dois diretores têm visões semelhantes.

    “Eu acredito em um boom do cinema depois que tudo passar. É claro que nesse momento estamos em uma crise grave, mas quando houver a volta, sou otimista em relação a isso. Como estaríamos vivendo a quarentena sem o cinema e a cultura como um todo?”, diz Karim Aïnouz.

    Para Daniel Rezende, “a saída está em adaptar o conteúdo para essas novas demandas e criar histórias que possam ser produzidas nesse mundo pós-pandemia. O único fato que não vai mudar é a necessidade da humanidade por histórias. Pelo menos tem sido assim desde o início da nossa existência”.