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    Diretor de teatro Aderbal Freire-Filho morre no Rio de Janeiro aos 82 anos

    Ele sofreu AVC em 2020 e desde então estava em hospital; dramaturgo era companheiro de Marieta Severo

    Carolina Fariasda CNN

    São Paulo

    Morreu nesta quarta-feira (9) no Rio de Janeiro o dramaturgo Aderbal Freire-Filho aos 82 anos. Ele estava internado desde 2020, quando sofreu um AVC. Ele era companheiro da atriz Marieta Severo.

    De acordo com o  Hospital Copa Star, ele morreu tarde desta quarta-feira. A causa não foi informada.

    Aderbal Freire Filho nasceu em Fortaleza, no Ceará, em 1941. Foi fundador do Grêmio Dramático Brasileiro, em 1973, e do Centro de Demolição e Construção do Espetáculo (CDCE), em 1989.

    De seus trabalhos mais conhecidos, dirigiu “Apareceu a Margarida”; “A Morte de Danton”; “A Mulher Carioca aos 22 Anos” e “Tiradentes”. Sua marca no teatro foi a busca constante por novas formas de dramaturgia a uma encenação que priorizava o ator como agente principal da linguagem e da comunicação do texto.

    Marieta Severo e Aderbal Freire-Filho, em 2008 / ANDRÉ DURÃO/ESTADÃO

    Se formou em direito em Fortaleza onde, a partir de 1954, entra em grupos amadores e semiprofissionais de teatro. O dramaturgo chegou ao Rio de Janeiro em 1970, e faz sua estreia como ator em “Diário de Um Louco”, de Nikolai Gogol (1809-1852), encenado dentro de um ônibus que percorre as ruas da cidade, de acordo com a Enciclopédia Itaú Cultural.

    Sua primeira direção foi “O Cordão Umbilical”, de Mario Prata,, em 1972. Seu primeiro grande sucesso profissional é a direção do monólogo com Marília Pêra, “Apareceu a Margarida”, de Roberto Athayde em 1973.

    Organizou o Grêmio Dramático Brasileiro para fazer montagens em um cenário único, diversas peças nacionais e mantê-las em cartaz em regime de repertório. A experiência inicial, com “Um Visitante do Alto e Manual de Sobrevivência na Selva”, também de Roberto Athayde, “Pequeno Dicionário da Língua Feminina” e “Reveillon”, de Flávio Márcio, todas em 1974.

    “O Vôo dos Pássaros Selvagens”, de Aldomar Conrado, em 1975, e “Crimes Delicados”, de José Antônio de Souza, de 1976, revelam uma sofisticação visual da sua linguagem, com poética própria, com tendência ao hermetismo.

    Em 1977, montou “A Morte de Danton”, de Georg Büchner, num canteiro subterrâneo da construção do futuro metrô carioca. A ousadia experimental vem acompanhada do fracasso de público e crítica, o que interrompe prematuramente sua carreira.

    A imagem de diretor fora dos esquemas comerciais reaparece nos três espetáculos subseqüentes: Em “Algum Lugar Fora Deste Mundo”, de José Wilker, em 1978, “O Desembestado”, de Ariovaldo Mattos, em 1980, e “Dom Quixote de la Pança”, adaptado da novela de Cervantes pela intérprete e produtora Camilla Amado em, 1980.

    Na década de 1980, realiza experiências com teatro de rua, em grandes montagens de dramas sacros e também com adaptações para Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade.

    Com “Moço em Estado de Sítio”, de 1981, de Oduvaldo Vianna Filho, montado com jovens atores, inicia-se uma fase criativa em que o diretor associa a busca pela teatralidade a um processo de montagem que, com a participação do elenco, toma o texto teatral como eixo da criação.

    Aderbal Freire Filho participa da Mesa “Dramaturgos e Roteiristas: Pontos de Convergência”, durante o 1º Congresso Brasileiro de Dramaturgia, em 2014 / FELIPE RAU/ESTADÃO CONTEÚDO/

    Em 1983, dirige “Besame Mucho”, de Mario Prata, e leva os prêmios “Paulo Pontes” e “Mambembe”. Em 1984 encena “Mão na Luva”, novamente de Oduvaldo Vianna Filho, com Marco Nanini e Juliana Carneiro da Cunha, levando dois “Mambembes” e o “Golfinho de Ouro” de melhor diretor.

    Em 1979 dirige “Crimes Delicados”, de José Antônio de Souza, em Buenos Aires, quando inicia uma série de trabalhos que realiza periodicamente em países da América Latina – entre eles, “Mefisto”, de Klaus Mann-Arianne Mnouchkine; com a Comédia Nacional do Uruguai entre 1985 e 1986, resulta numa das suas encenações mais complexas.

    Montou “Egor Bulichov y otros”, de Máximo Gorki, com El Galpón, de Montevidéu, entre 1987 e 1988; a ópera “Simon Boccanera”, de Verdi, também em Montevidéu, também em 1988.

    Na Holanda, dirige “Soroco, Sua Mãe, Sua Filha”, adaptado de Guimarães Rosa com o Teatro Munganga de Amsterdã, em 1989.

    Participou de festivais e mostras internacionais de teatro no Uruguai e na Colômbia, onde apresentou espetáculos e orientou oficinas de direção.

    Seis dos seus espetáculos receberam o Prêmio Inacen de melhor espetáculo do ano, entre eles “Mão na Luva”, que recebe no Uruguai o Prêmio Florencio de melhor espetáculo estrangeiro de 1985. No mesmo ano, em Montevidéu, dirige “Mefisto”, com o elenco oficial da Comédia Nacional de Uruguai.

    Os diretores José Celso Martinez e Aderbal Freire Filho em São Pualo em 2008 / Tiago Queiroz/Estadão

    Participa com espetáculos e oficinas em festivais e mostras de diversos países da América Latina. Mantém-se atento à realidade continental e à necessidade de uma aproximação entre o teatro brasileiro e os dos países vizinhos.

    No final da década de 1980, Aderbal retoma um antigo projeto de constituir uma companhia de teatro e se estabelece no Teatro Glaucio Gill, desativado e destruído. Em menos de um ano, o Centro de Construção e Demolição do Espetáculo reabre o espaço e estreia, em 1990, “A Mulher Carioca aos 22 Anos”, um dos seus espetáculos mais elaborados.

    Utilizando-se de um romance na íntegra, mesclava os gêneros dramático e épico em uma linguagem inovadora: oito atores se revezam em mais de trinta personagens, cada personagem assumindo os trechos narrativos referentes a si mesmo e ditos enquanto atua, de maneira a, de um lado, pessoalizar o narrador e, de outro, pluralizá-lo. O êxito desse espetáculo rendeu a ele o Prêmio Shell do ano, e pode ser considerado um dos fatores de estímulo à série de espetáculos que, na década de 1990, investigam o gênero épico.

    No início da década de 1990, dedica-se a personagens históricos, realizando: “Lampião”, de autoria própria, voltado ao herói do cangaço, em 1991; “O Tiro Que Mudou a História”, dele e de Carlos Eduardo Novaes, sobre Getúlio Vargas, em 1991; “Tiradentes, Inconfidência no Rio”, dos mesmos autores, em 1992. Esse último lhe vale uma encenação ímpar no teatro brasileiro.

    Em “Tiradentes”, o público é distribuído em seis ônibus, visitando separadamente seis diferentes locações no centro da cidade do Rio de Janeiro, para reencontrarem-se todos na Praça Tiradentes, cenário final do espetáculo.

    O investimento na sede, no entanto, se perde quatro anos depois, quando o governo do Estado expulsa a companhia do local. Os atores seguem o diretor na sua nova sede – o Teatro Carlos Gomes, onde realizam, entre outros espetáculos e eventos, “Senhora dos Afogados”, de Nelson Rodrigues, em 1994. A companhia encerra suas atividades com a montagem de um musical “No Verão de 1996”,, na qual o diretor parte dos quadros de Rubens Gershman para criar uma dramaturgia fragmentada que comenta e critica os fatos sociais e políticos da cidade, como uma revista moderna.

    Em 1995, encena “Lima Barreto, ao Terceiro Dia”, obra de Luís Alberto de Abreu escrita dez anos antes; e “Kean”, adaptação de Jean-Paul Sartre da obra de Alexandre Dumas, novamente com o ator Marco Nanini. Em 1997, dirige “O Carteiro e O Poeta”, de Antônio Skármeta, sobre Pablo Neruda. A partir de então, passa a ser convocado para dirigir espetáculos com artistas globais.

    (Com informações de Vinícius Bernardes)