Como "previu" Rita Lee, velório reúne fãs e artistas em despedida da rainha do rock em SP

“Os fãs, esses sinceros, empunharão capas dos meus discos e entoarão 'Ovelha Negra'". A própria Rita Lee, rainha do rock brasileiro, previu o que ocorreria em seu velório, como escreveu em “Rita Lee, uma Autobiografia”.

De forma bem-humorada ela escreveu como acreditava que seriam os momentos após a sua partida. A artista morreu na noite de segunda-feira (9), aos 75 anos, e, como ela imaginou, fãs fizeram fila para se despedir dela nesta quarta-feira (10) no planetário do Parque Ibirapuera, na zona sul de São Paulo.

Com fotos, capas de discos, perucas vermelhas - Rita Lee adotou o ruivo como sua marca registrada -, óculos escuros de armações de formas diversas, cores e com muita emoção os admiradores da artista foram prestar a última homenagem à ela.

Artistas e personalidades como Xuxa, Sergio Groisman, Astrid Fontenele, Walter Casagrande, também estiveram no Planetário.

De peruca vermelha, com franja e óculos redondos  Foi assim que a estudante Lorena Martins, de apenas 12 anos, decidiu ir ao velório para se despedir de Rita Lee. E foi a inusitada paixão por cobras da estudante que a levou a conhecer o que, mais tarde, se tornaria sua grande ídolo musical.

"Eu estava no carro e aí começou a tocar 'Erva venenosa'. E como sempre fui obcecada por cobras quando ouvi a parte 'pior q cobra cascavel' pedi para meu par repetir. Foi a partir daí que comecei a ir atrás da Rita. Ela é uma ótima inspiração, mulher, feminista, ousada", disse a jovem fã.

Os fãs que enfrentaram fila para se despedir de Rita também pegaram chuva pela manhã para dar adeus à cantora.

Diferentemente dos velórios tradicionais, a cerimônia não teve velas ou flores a volta de seu caixão. As coroas que lhe prestaram homenagens, muitas de artistas, como Jorge Ben Jor, ou mesmo do Corinthians, seu time do coração, ficaram do lado de fora do local onde ocorreu o velório. 

As velas foram substituídas por castiçais com luzes de led, a pedido da família, por orientação da própria artista. O local foi escolhido pela relação que Rita Lee tinha com Planetário, o tendo visitado semanalmente em uma época de sua vida. 

Rita Lee é a primeira pessoa a ser velada no Planetário. O caixão da artista ficou fechado durante a cerimônia de despedidas. No teto do planetário foi projetada o céu do dia 31 de dezembro de 1947, dia de nascimento da cantora.

Segundo o Nelson Pereira Neto, diretor estratégico de funerais especiais do Grupo Bom Pastor, desde a cerimônia até a cor usada no caixão, tudo foi feito como a cantora pediu.

"Para o caixão ela escolheu uma roupa roxa, a cor predileta dela. Fora isso, um lenço envolvendo o pescoço. A pedido também de Rita, não houve muitas flores perto do caixão. As velas serão também substituídas por castiçais com luzes de led", explicou.

Luto oficial

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lamentou a morte da artista e decretou luto oficial no Brasil por três dias.

"Rita Lee Jones é um dos maiores e mais geniais nomes da música brasileira. Cantora, compositora, atriz e multi-instrumentista. Uma artista a frente do seu tempo. Julgava inapropriado o título de rainha do rock, mas o apelido faz jus a sua trajetória", disse o presidente em um tweet. "Rita, agora falta você".

O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) também decretou luto oficial de três dias.

No Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes (PSD) anunciou que irá batizar uma praça no município com o nome da cantora.

Um dos maiores nomes da música brasileira

Maior cantora da história do rock brasileiro e um dos nomes fundamentais da música nacional em qualquer época, Rita Lee se destacou como uma compositora de mão-cheia.

Desde o seu surgimento, com os Mutantes, passando pelo Tutti-Frutti e por sua carreira solo, a cantora acumulou dezenas de sucessos do Rock e da MPB. Ela deixa um legado inestimável para toda a cultura brasileira.

Repercussão internacional

Ícone da música, Rita teve sua morte repercutida na imprensa do mundo inteiro. The Washington Post, o Clarin, Le Parisien, Independent, BBC News foram alguns dos veículos de comunicação que noticiaram a morte da artista.

"Não me levem a sério"

Na era do digital, Rita não deixou de ser icônica e destilou humor ácido também na internet, marcando as redes sociais com suas publicações sinceras e desbocadas. Presente no Twitter, por exemplo, desde 2010, a cantora mostrou sua língua afiada.

Em um dos tweets escreveu: "Já disse e repito: não me levem a sério, sou falsa, manipuladora, mentirosa e filha da put*. Escrevo o que vem na cabeça, só futilidades".

Em outro texto, não perdeu o humor: "Não tenho preconceitos, eu odeio todo mundo igualmente".