Com vendas em alta, principais editoras do país entregam suas novidades
Entre as apostas da Rocco, Intrinseca e UBU está o realismo fantástico, um best-seller japonês e Mario de Andrade; mercado editorial já acumula 10 milhões de livros vendidos em 2022
Apesar da infinidade de títulos, o lançamento de uma nova obra sempre gera curiosidade e traz um ar de renovação para as prateleiras das livrarias.
E, todos os meses, as editoras costumam trazer novidades literárias que possam gerar essa sensação – e atrair ainda mais leitores.
A jornalista Vitória Merola, de 22 anos, é uma dessas leitoras que aguarda ansiosamente os lançamentos. “Acompanho tanto nas redes sociais quanto nas páginas das editoras para saber quando um novo livro vai chegar”, diz.
Um dos motivos é o valor mais baixo de uma obra em relação ao texto com a língua original. Vitória afirma que os livros em inglês, por exemplo, costumam custar quatro vezes mais que suas versões traduzidas.
Ela lê cerca de 20 livros por ano e conta que, em 2020, gastou aproximadamente R$ 900 na sua biblioteca pessoal. Seu objetivo é ler pelo menos uma obra por semana.
Vitória é apenas uma das leitoras que mostram que as vendas estão em alta no setor. Segundo dados de um levantamento da Nielsen BookScan, nos primeiros meses de 2022, a venda de livros ultrapassou em 16,30% o volume comercializado no mesmo período do ano passado. Até abril, já são 10 milhões de livros vendidos.
Para saber das novidades, a CNN conversou com as editoras Rocco, Intrinseca, UBU, Leya e Martins Fontes sobre as principais indicações do momento.
Rocco
“A Cabeça Cortada de Dona Justa”, de Rosa Amanda Strausz, foi o livro recomendado por Ana Lima, editora da Rocco. A obra já foi lançada e é possível comprar no site da companhia por R$ 59,90.
“O primeiro romance adulto da Rosa-Amanda chegou em um momento em que o interesse pelo realismo fantástico está renovado. De bônus, temos uma linhagem de protagonistas femininas fortes, o Brasil colônia e as injustiças da escravidão, um pouquinho de terror e algumas histórias de amor. Imagético e extremamente comercial”, afirma a editora.
A história gira em torno de uma gigantesca sesmaria, doada por um nobre português a um cirurgião-barbeiro francês, alvo de disputa e maldição.
Ao longo da obra, quando um feitor ambicioso desonra o corpo e a história de uma sacerdotisa escravizada, é à terra quem sofre e, com ela, Dona Justa, a rezadeira que é herdeira por direito.
Seus poderes lhe diziam que aquela terra estava ligada ao seu destino – dela e de seus descendentes. Sete gerações ali viveram, cada uma deixando sua marca. Como é possível quebrar um feitiço escrito na própria alma de um lugar?
“’A cabeça cortada de Dona Justa’ é a nossa aposta nacional do primeiro semestre em ficção”, declara Ana Lima.
Intrinseca
Cristhiane Ruiz, editora da Intrinseca, indicou à CNN, o livro “Trem-Bala”, de Kotaro Isaka. Segundo ela, o interesse por publicar o livro partiu da ideia de apresentar ao leitor brasileiro o autor, “que é sucesso de crítica e público no Japão”.
“Avaliamos esse livro antes mesmo de termos notícias sobre a adaptação para o cinema, e a história nos pegou de primeira: uma viagem em alta velocidade, inventiva e original. É um thriller sensacional que subverte todas as regras do que estamos acostumados a ler e tem os personagens mais malucos e carismáticos dos últimos tempos. Entretenimento dos bons”.
Isaka é autor best-seller no Japão e venceu diversos prêmios internacionais de literatura. Seus livros venderam milhões de exemplares e mais de 10 obras suas já ganharam adaptações audiovisuais. E “Trem-Bala” é o primeiro título do autor publicado no Brasil.
A trama acompanha uma série de personagens curiosos que dividem o mesmo trem, incluindo um adolescente psicopata, uma dupla de assassinos que tem a missão de resgatar o filho de um chefão do crime e entregar uma mala misteriosa, e um homem contratado para roubar essa mala. Ao longo da viagem, suas histórias se entrelaçam e o enredo cresce em tensão. O livro será lançado no Brasil no dia 24 de maio.
UBU
Florencia Ferrari, diretora editorial da UBU, indicou o livro “Seleta Erótica de Mário de Andrade”, organizado por Elaine Robert Moraes. O lançamento da obra está marcado para 21 de maio.
“Este ano, comemora-se os 100 anos da Semana Moderna de 22, da qual o Mário de Andrade foi um dos destaques literários. A professora e ensaísta Elaine resolveu recortar e apontar uma faceta muito pouco comentada da obra do Mário: a sexualidade”.
O livro traz um trecho censurado do Macunaíma e uma séria de textos publicados e inéditos extraídos da obra de Mário, “para mostrar como sua obra transpirava erotismo”, destacou Florencia.
Esta noite tive um sonho, um sonho muito atrevido: apalpei na minha cama a forma do teu vestido.
Mario de Andrade
A obra de Mário de Andrade é atravessada por uma profunda inquietação em torno do sexo. E foi a partir dessas constatações que Eliane produziu a “Seleta Erótica de Mário de Andrade”.
O trabalho de seleção buscou contemplar tanto a variedade de gêneros por ele praticada quanto as diversas fases de sua obra, sem negligenciar aspectos biográficos ou editorias.
Embora o volume tenha privilegiado os títulos mais representativos em termos de erotismo, com particular atenção aos textos canônicos, considerou-se pertinente apresentar exemplos da “obra imatura”, ainda pouco conhecida, além de amostras da grande massa de manuscritos ainda não publicados.
Leya
Leila Name, direção-geral da LeYa Brasil, recomendou o livro “Governar o mundo sem governo mundial”, de Roberto Mangabeira Unger.
Para ela, “o autor, generosamente, reúne o seu profundo conhecimento e estudo, que o coloca no mais alto grau dos pensadores contemporâneos, a favor da autoestima dos brasileiros”.
“Unger nos provoca para recuperarmos a nossa própria vitalidade, que pode nos retirar do lugar periférico e desgastado dos modelos da Nova Ordem Mundial, devolvendo às nossas mãos as rédeas da nossa história. Ele nos devolve o futuro pela análise do nosso passado e o enfrentamento corajoso do nosso presente”, acrescentou.
Neste livro – de 64 páginas -, escrito originalmente em inglês, Unger explora “coalizões de propósito específico, coalizões de Estados semelhantes e coalizões regionais; trata de uma governança global sem apenas um tomador de decisões e sobre as garantias recíprocas dos interesses de segurança vitais das grandes e pequenas potências”.
O escritor aborda também o desenvolvimento de um direito internacional público comum e afirma que, “apenas pela cooperação internacional poderemos assegurar os bens públicos globais imprescindíveis ao desenvolvimento das sociedades contemporâneas e evitar os males – como a guerra entre as grandes potências e o comprometimento do meio ambiente – que nos ameaçam a todos.
O lançamento está marcado para este mês.
Martins Fontes
O CEO da Martins Fontes, Alexandre Martins, indicou a obra que será lançada em junho: “A queda de Satã”, de Gustavo Piqueira.
“A produção editorial de Gustavo Piqueira oferece uma inigualável contribuição à construção de uma nova estética do livro. A queda de Satã combina com rara beleza e maestria, design, história, arte e literatura. Ao pensar o livro como objeto, o autor, ao mesmo tempo, questiona os limites e reverencia esse produto extraordinário.”
O livro fala sobre a representação do diabo desde a Idade Média, misturando uma pesquisa iconográfica com montagens gráficas.