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    “Chora, Photoshop!”: conheça o influenciador que faz react de artistas nacionais

    Filipe Grimaldi é artista visual e letrista que virou trend no Instagram com seus vídeos e bordões

    Lyncon Pradellacolaboração para a CNN

    Florianópolis

    Professor de pintura, artista visual e letrista. Essas eram as únicas três qualificações do paulista Filipe Grimaldi, de 38 anos, antes de viralizar nas redes sociais com reações a trabalhos realizados por artistas nacionais. Agora, mais uma qualificação foi adicionada ao seu currículo: a de influenciador.

    Atualmente com 580 mil seguidores no Instagram, sua principal rede social, Grimaldi ganhou visibilidade com vídeos de “react” – formato no qual a pessoa registra suas impressões ao ver um vídeo pela primeira vez.

    Famoso por bordões como “Chora, Photoshop” e “isso é muito esmero e manualidade”, o paulista conquistou o público com a simplicidade em que explica as técnicas empregadas e por uma narração positiva, sempre com elogios aos artistas.

    Mas, quem é Filipe Grimaldi e como ele conseguiu alcançar tanto sucesso? Essas questões o próprio letrista respondeu em entrevista à CNN.

    Amor pela arte

    A trajetória de Grimaldi dentro da arte começou ainda criança, com seu gosto por desenhar e inspirado pela tia.

    “Sempre tive uma vontade artística, apesar de não ser um grande desenhista, tinha amigos que eram bem melhores. Eu meio que nasci com isso. V a minha tia, que era uma ceramista, uma artesã, e vi que existia um lado da arte que não era o da galeria só, que era o das artesanias também, as manualidades”, explicou.

    “Quando eu tinha 18 anos, eu saí da escola. Todos os meus amigos estavam prestando para escola pública, para universidade pública, e nenhum daqueles cursos mais técnicos eu gostava muito. Eu gostava de coisas mais estéticas. A faculdade de arte não era uma coisa bem vista, era uma faculdade de vagabundo na época”, acrescentou.

    Focado em seguir pelo caminho artístico, Grimaldi decidiu unir o “útil ao agradável”.

    “Acabei olhando para o design, que tinha uma utilização da arte como, vamos dizer assim, da estética artística, uma utilização dela por um lado funcional”, disse.

    Um dos trabalhos de Filipe Grimaldi / Divulgação/Felipe Galvão

    “Na época era desenho industrial, e as pessoas falaram ‘olha, tem muita arte dentro dessa faculdade aqui, eu acho que é uma coisa legal que você pode fazer’. Normalmente, nos desenhos industriais, você tem cliente, e aí eu conheci o design gráfico, comecei o meu estudo de tipografia e tudo mais”, revelou.

    Prédio pintado por Filipe Grimaldi / Divulgação/Felipe Galvão

    O professor de pintura, porém, só descobriu mesmo como ganhar a vida com o que verdadeiramente gosta após optar por seguir uma carreira que envolvesse mais liberdade de criação e menos engessamento no resultado.

    “Depois de quase dez anos trabalhando com identidade de outras pessoas, eu comecei a desenvolver a minha própria identidade. A partir da minha própria pesquisa e de muito tempo pintando, comecei a encontrar um lado brasileiro, de letra vernacular, e isso foi surgindo e trazendo uma estética minha, e aí eu desenvolvi meu próprio estilo com muitos anos de trabalho”, afirmou Grimaldi.

    Alunos de pintura durante uma aula de Filipe Grimaldi / Divulgação/Felipe Galvão

    Início e surpresa pelo enorme sucesso

    À CNN, Grimaldi disse que sua jornada pelas redes foi inspirada por um influenciador que nada tem a ver com o mundo das artes: o streamer Casimiro.

    “Em outubro do ano passado, eu estava olhando os novos formatos [de publicação] e percebi que as fotos já não entregavam mais como antes. Na época eu gostava muito de assistir o Casimiro. Eu olhava aqueles vídeos do Casimiro e falava ‘muito legal a maneira como o cara reage organicamente assistindo aquilo pela primeira vez'”, disse o professor de pintura.

    “Comentei isso com a minha companheira e ela, que trabalha nessa área também, falou: ‘olha uma coisa que seria legal talvez já que você é um professor de pintura seria você reagindo a vídeos de pintura explicando técnicas falando coisas’. Fiz um teste, fiz dois testes, fiz três testes, e aí de repente começou a entregar para pessoas”, acrescentou.

    Na época com 20 mil seguidores e já com certo reconhecimento no cenário artístico, o letrista viu sua ideia viralizar rapidamente.

    “Aquilo [a ideia] estourou, de fato, pelo quinto vídeo. Ele foi entregue para um milhão de pessoas. Começou a vir pessoas do Brasil inteiro, de todas as faixa etárias e todos os tipos de pessoa não necessariamente ligada à arte. Foi quando eu percebi que furou a bolha”, explicou Grimaldi.

    O aumento de visualizações dos vídeos criou uma “cadeia de engajamento” que envolveu o agora influenciador, artistas e seguidores.

    “Mantive a constância de fazer três vídeos por dia e isso fez com que os três artistas reagidos gravassem outros vídeos para eu reagir, e isso começou a fazer um círculo de coisas. As pessoas começaram a gravar vídeo para eu reagir. Aquilo começou a converter muitos seguidores para quem era reagido e muitos seguidores para mim”, disse.

    Surpreso com o reconhecimento, o artista visual admite que não esperava tamanho sucesso.

    “Eu não estava preparado para o caminho que isso tomou e, assim, hoje em dia eu perdi completamente o controle da situação. Recebo 120 vídeos por dia [para reagir], sou reconhecido na rua. Às vezes encontro as pessoas na rua e elas me adoram, elas criaram uma afetividade por mim por causa desses vídeos, isso eu não esperava”, afirmou o influenciador.

    Grimaldi também disse acreditar que os usuários se identificaram com seu vídeo pela naturalidade e leveza que reage ao trabalho alheio, além, é claro, de seus bordões.

    O surgimento do “Chora, Photoshop!”

    Os bordões, inclusive, conferiram identidade aos vídeos de Grimaldi e o ajudaram a alavancar o alcance das publicações. O principal deles é o “Chora, Photoshop!”, sempre dito ao final dos vídeos, quando os artistas dão o famoso “zoom out” e mostram seu trabalho em câmera aberta.

    A frase, porém, foi pronunciada a primeira vez de forma natural ou era algo que já fazia parte do vocabulário do professor de pintura?

    “Antes de ser artista fui designer e quando eu me formei em design gráfico, o Photoshop era a galinha dos ovos de ouro. Todo mundo queria dominar aquela ferramenta para poder vender o melhor Photoshop possível para as pessoas. E eu fiz o caminho inverso”, explicou Grimaldi.

    “Eu encarei aquilo como uma ferramenta e comecei a ir para o lado analógico. Comecei a estudar caligrafia, comecei a estudar fotografia, comecei a ver, estudar vídeo, filme, essas coisas, e fui para um lado mais manual, de artesão, de pintor, de letrista. Enquanto narrava um vídeo, eu estava naquela coisa do ‘chora com isso’, ‘chora com aquilo’, e um dia eu olhei e o cara fez um trabalho que tinha um resultado muito próximo a uma ilustração digital, e eu lancei um ‘Chora Photoshop'”, continuou.

    A frase foi bem recebida pelos usuários e muitos começaram a comentar as publicações utilizando ela e outras frases também ditas com frequência por Grimaldi nos vídeos.

    “As pessoas falaram ‘meu, Chora Photoshop é incrível, incrível, incrível’. Fui percebendo que as pessoas pensavam algumas coisas que eu falava e jogavam no meu colo, assim, tipo, ‘muito legal você falar esmero e manualidade’, ‘muito legal você falar, vou copiar’. E eu falava isso organicamente, as pessoas começavam a repetir e aquilo acabava entrando na narração. Hoje em dia todas as narrações saem com um bordãozinho porque ela foi construída assim”, completou.

    A divulgação de artistas brasileiros desconhecidos: objetivo ou casualidade?

    O reconhecimento do seu trabalho de divulgação no Instagram transformou Grimaldi em uma figura importante para o meio artístico brasileiro. Isso porque seus vídeos alcançam milhares de usuários que nunca tiveram acesso ao processo de produção de uma arte, seja ela visual ou não.

    Além do público, os próprios artistas brasileiros, muitos deles desconhecidos, aproveitam o sucesso do professor de pintura para divulgar seus trabalhos.

    Questionado se a intenção sempre foi essa, Grimaldi explicou que descobriu que poderia seguir por esse caminho conforme publicava as reações.

    “Comecei reagindo em vídeos dos amigos e de pessoas que eu conhecia, não necessariamente brasileiros, mas de todo o mundo. Conforme fui evoluindo, eu vi que o meu estilo de narração era um estilo de elogiar, que é diferente de outros reacts por aí. O meu react era para fortalecer a comunidade [artística], como eu já fortaleço sendo professor e letrista”, disse.

    Em seguida, o artista visual decidiu manter o estilo de gravação.

    “[Eu pensei] ‘vou elogiar o trabalho dessa pessoa, os vídeos que eu achar ruim, eu não vou fazer, eu vou começar a fazer só trabalho legal’. Quando você abre o Instagram todos os dias e vê um vídeo legal com uma pessoa narrando, elogiando, isso te dá um conforto. Você fala ‘pô, que negócio legal isso aqui’, e as pessoas realmente interagem comigo e se identificam comigo porque elas também gostariam de elogiar aquilo que estão vendo”, acrescentou.

    Foi nesse momento que ele percebeu que poderia ajudar os artistas brasileiros de uma maneira mais direta.

    “A partir do momento que começou a converter [financeiramente] para os artistas, eu priorizei a arte brasileira. Pensei ‘vou priorizar pessoas que moram aqui num país subdesenvolvido que tem a arte muitas vezes marginalizada’. Então tinham pessoas, por exemplo, cartazistas de supermercados, que são pessoas que ganham um salário mínimo por mês e fazem uma tonelada de trabalhos. Comecei a olhar para aquilo e falei ‘bom, se eu reagir a um cartazista, o cara vai pegar uma encomenda, o cara vai ficar grato a mim, o cara vai fortalecer. E isso realmente aconteceu”, assegurou o professor de pintura.

    “Quando eu comecei a reagir a pessoas que não tinham mil seguidores, aquilo começou a ir para um lugar onde meus seguidores olhavam e falavam ‘pô, esse cara é um artista, um artista marginal’. Isso porque o cara está à margem da sociedade, o cara está numa fresta em que ninguém enxerga. Muitas vezes são artistas que estão em trabalhos invisíveis. O cara fazendo a faixa de pedestre, o cara pintando cartaz de supermercado, o cara fazendo uma faixa que você vê na rua. E essas pessoas começaram a brilhar no lugares de grandes artistas, ao lado de grandes artistas. Então, eu percebi que se a gente colocasse todo mundo naquele mesmo lugar, as pessoas iam reagir de forma igual para todo mundo, e isso deu voz às pessoas, deu voz às pessoas irem lá e comentar ‘muito legal o trabalho dele, vou contratar ele’. E converteu realmente, né?”, finalizou.