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    Biografia mostra como Gilberto Braga ‘traduziu’ elites nas novelas brasileiras

    Livro conta história pouco conhecida dos avós do autor de novelas

    Mylene Guerrada CNN

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    Após três anos da morte do autor de novelas Gilberto Braga, sua biografia será lançada. “Gilberto Braga, O Balzac da Globo: vida e obra do autor que revolucionou as novelas brasileiras”, dos jornalistas e escritores Artur Xexéo e Mauricio Stycer, chega às livrarias em janeiro, dando um pontapé inicial no mercado editorial de biografias de 2024. 

    A dupla autoria da obra ocorreu de maneira inesperada. Após a morte de Artur Xexéo em 2021, vítima de um linfoma, Maurício Stycer assumiu o livro. O convite veio do próprio Gilberto Braga.  Stycer conta que viu na tarefa de continuar e finalizar a pesquisa iniciada por Xexéo, uma maneira de homenagear o jornalista morto. Desejo que descobriu, na primeira reunião, ser o mesmo de Gilberto Braga. O novelista morreu quatro meses depois. 

    A CNN conversou com Maurício Stycer sobre a biografia que traz novos aspectos e fatos sobre a vida e a obra  do autor. 

    Gilberto Braga era professor de francês e crítico de teatro do jornal O Globo quando começou a escrever para a TV Globo.  Ele procurava uma atividade que pagasse melhor e viu num encontro com o diretor Daniel Filho a chance de mudar de carreira. Era 1972 e seu primeiro trabalho foi uma adaptação do romance de Alexandre Dumas Filho, “A Dama da Camélias”. A partir daí foram grandes sucessos que entraram para a história da TV brasileira; as novelas “Dancin’ Days”,1978,  “Vale Tudo”, 1988, e  “Paraíso Tropical”, 2007, e a minissérie “Anos Dourados”,1986.  

    Stycer pontua que, desde os primeiros trabalhos, é possível enxergar o que Gilberto Braga traria de novo para as novelas. “Tem um primeiro momento do Gilberto Braga com cinco casos especiais e novelas do horário das seis, que é como uma fase de preparação para o que ainda virá, um processo de aprendizado do ofício. Ele não tinha nenhuma experiência com dramaturgia. Mas era possível ver insights de como ele iria retratar e fazer um diagnóstico das classes média e alta.” 

    Para o jornalista, é com “Dancing Days”, de 1978,  que fica clara a contribuição do novelista para tornar as  telenovelas em um produto altamente rentável. “Ele tinha uma capacidade de retratar um universo que conhecia  muito bem,  a classe média de Copacabana, que é universal ao mesmo tempo. E sobretudo a maneira como ele retrata a classe alta, vilões e não vilões ricos na novela”. Assim, o autor atraiu  para as novelas um público A e B, o que era muito importante para o projeto da TV Globo, naquele momento, segundo o autor.  

    As novelas de Braga passaram a ser discutidas nos jornais e nos ambientes de elite.  Ele trouxe para suas histórias temas importantes. “Em mais de uma novela, ele trata de racismo, homofobia, machismo violência entre homem e mulher, trata de um jeito bastante crítico e progressista”, reforça Maurício Stycer. 

    A biografia também revela a história dos avós paternos de Gilberto Braga,  Rosa Quarterolo e Raul Tumscitz. Após 25 anos de casados, Raul assassinou Rosa. Braga pouco contava sobre o crime até falar abertamente sobre o fato para Artur Xexéo. A biografia conta que mesmo sem a ter conhecido, Braga a via como uma heroína do século XIX.  É possível ver Rosa em muitas das mulheres criadas por Braga. 

    Um fato inédito que está no livro é a intenção de Gilberto Braga de se candidatar à Academia Brasileira de Letras (ABL). Pesquisando o minucioso clipping que o novelista mantinha, Maurício Stycer encontrou notas de jornais que falavam de uma possível campanha a uma vaga na ABL. 

    Em 2010, Braga escreveu  “Anos Rebeldes: os bastidores da criação de uma minissérie.” 

    Com o lançamento do livro, que marcou a maioridade da série da Rede Globo, Braga participou ativamente da divulgação. Reuniu a imprensa, conversou com acadêmicos e esteve em um seminário “Telenovelas, séries televisivas e literaturas”, com a participação de atores, do novelista Walcyr Carrasco, do diretor Ignácio Coqueiro e do professor Muniz Sodré. 

    Stycer considera o texto da palestra surpreendente ao levantar a categoria do que ele faz. “Novela é tão importante quanto ficção, quanto teatro. Aí, fica claro que quando ele diz que é ‘apenas’ autor de folhetim é um pouco de charme. ” Braga nunca explicou por que desistiu da ideia, mas especula-se que naquele momento avaliou que não teria o apoio necessário para se tornar um imortal. 

    “Certamente hoje ele entraria para a Academia Brasileira de Letras”, sinaliza Maurício Stycer.   

    Ao morrer em 2021, aos 75 anos, por causa de complicações de uma infecção sistêmica, deixou projetos que não foram aprovados pela Rede Globo. Uma nova versão da novela “Brilhante”(1981) que teria o nome de “Intolerância”  e uma adaptação de “Feira das Vaidades” , uma sátira à sociedade britânica do século 19. Maurício Stycer acredita que estas obras “navegariam muito bem nas plataformas de streaming.” 

    “Gilberto Braga, O Balzac da Globo: vida e obra do autor que revolucionou as novelas brasileiras”, chega às livrarias no dia 10 de janeiro.

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