Banheira de gelo para Justin Bieber e mais: conheça os bastidores do Rock in Rio
Em entrevista à CNN, coordenadora de backstage do festival e responsável pelos camarins do palco principal relata preparativos do evento e pedidos dos artistas
“Ih, chegaram as geladeiras, vai lá.”
Se oficialmente o Rock in Rio só começa nesta sexta-feira (2), para Ingrid Berger, coordenadora de backstage e responsável pelos camarins do palco principal, o festival já está a pleno vapor nesta terça-feira (30).
“Hoje é meu dia crucial porque amanhã já tem que estar 100% pronto. Está todo mundo enlouquecido aqui”, contou ela à CNN em uma entrevista feita na tarde desta segunda (29).
Com um olho focado na Cidade do Rock e outro na tela do computador, Ingrid é a produtora responsável por “tudo que tem atrás do palco”.
“Desde a implantação dos camarins, área de catering até os pedidos de cada um dos artistas. Eu participo porque tenho que fazer toda a logística de onde ele chega, onde fica, como que vai pro palco”, explica.
O festival, que está previsto para acontecer no Parque Olímpico da capital fluminense entre os dias 2 e 11 de setembro, será o vigésimo Rock in Rio para Ingrid.
Inclusive, neste momento, já está sendo. “Oficialmente, os trabalhos no Palco Mundo começam nesta terça. Já tem vários ensaios, tem a Orquestra [Sinfônica Brasileira, que tocará com a banda Sepultura], depois o pessoal do Iron Maiden já começa a fazer passagem de som”, contou a produtora.
Até o final do festival, Ingrid passará pela missão de acomodar 28 dos principais artistas do line-up desta edição, o que vai incluir desde o rapper Post Malone e Justin Bieber às bandas Coldplay e Guns N’ Roses.
Os pedidos de artistas e as centenas de toalhas
Esses artistas internacionais muito famosos costumam fazer suas turnês acompanhados de um grande grupo de pessoas – a chamada “entourage” –, que inclui desde a equipe técnica do artista até os convidados. Ingrid explica que é na entourage que as dificuldades costumam morar e onde os pedidos, que parecem absurdos, acontecem.
Por exemplo, ela foi responsável pelo backstage da turnê da Madonna no Brasil na qual a cantora exigia 400 toalhas. “A entourage naquela época vinha 200 gringos. Aí você tem uma toalha pra cada, tem as toalhas de rosto. Quando eu faço um Rolling Stones, um Paul McCartney da vida, que tem 200 pessoas envolvidas, são 300 e poucas toalhas”, comenta.
Pensando nas experiências passadas de Rock in Rio, ela relembra de Rihanna e Beyoncé como artistas cuja produção de backstage é trabalhosa.
Os pedidos dos artistas por produtos que são difíceis de encontrar no Brasil também são outro obstáculo no trabalho.
“Todo mundo tem [na lista de pedidos] aquela água famosa, [da marca] Fiji. Não tem no Brasil. Aí eu ofereço uma opção parecida ou falo “gente, se realmente for necessário, vocês tragam”. Eu lembro uma vez a Whitney Houston, muitos anos atrás, a assistente dela ficava carregando pra lá e pra cá essa água na mão, mas porque ela trouxe lá de fora”, relembra.
Tequilas importadas de Post Malone e balas de goma “em formato de peixinho”
Um exemplo de pedidos difíceis de se encontrar para esta edição é o rapper Post Malone, que retorna ao Brasil depois de já ter encabeçado o festival Lollapalooza de 2019.
Malone encerrará as apresentações do Palco Mundo neste sábado (3), mas Ingrid explicou que sua equipe já está no Brasil nesta terça (30).
“Ele gosta de tequila e pede várias, por exemplo, tequila Casamigos, que é muito difícil encontrar aqui. Ou uma Herradura 1942, que eu já procurei em tudo quanto é lugar”, contou.
O rapper foi uma das principais atrações no Rock in Rio de Lisboa no começo do ano, e a produtora explica que, em Portugal, ela encontrou esses produtos. Ficou acordado que a equipe do artista iria trazer as bebidas para o Brasil.
Entre os pedidos de Post Malone também estão balas de goma “no formato de peixinho”, as “Jelly Belly Fish”.
“Muitas vezes eles fazem isso [pedidos engraçados como o da bala] para ver se você leu o rider. Muita gente não presta essa atenção detalhada”, disse Ingrid.
Post Malone ainda pediu uma mesa para o jogo alcoólico “beer pong”, enquanto a cantora pop Dua Lipa, que vai fechar o último dia do festival, pediu uma mesa de ping-pong.
Na contramão, a ausência completa de álcool é uma exigência no camarim da cantora Demi Lovato, que deixou uma clínica de reabilitação recentemente. Demi é uma das artistas “super tranquilas” nos pedidos, afirmou Ingrid.
Guns N’ Roses volta ao RiR: “Slash sozinho já demanda bastante”
Essa edição do Rock in Rio também servirá de reencontro da produção de backstage com artistas que já tiveram passagens pelo festival – alguns tranquilos de lidar, outros que são motivo de atenção.
“Iron Maiden são super bacanas. Já conheço toda a equipe e é muito mais fácil trabalhar assim. Então a gente está tranquilo”, contou a responsável pelo camarim.
Já o Guns N’ Roses costuma dar mais trabalho. Dos pedidos feitos pela banda, que chega para seu quinto Rock in Rio, Ingrid revela apenas “muita comida pronta”.
A dificuldade maior é lidar com a equipe gigante, que ocupará todos os sete camarins fixos do Palco Mundo e outros cinco, que Ingrid costuma “deixar de stand-by” para bandas como essa.
“Cada um [da banda] vem com seu assistente. Eu tenho que falar com quatro pessoas ao mesmo tempo e cada um pede alguma coisa diferente. Então um quer o jantar, outro quer comida no carro quando for embora, outro quer comida quando chega”, explica.
“O Slash sozinho já é um cara que demanda bastante. Então, assim, é um dia bem peculiar pra gente aqui”, acrescentou.
Banheira de gelo para Justin Bieber
Retomando a turnê mundial após uma pausa inesperada por conta de uma paralisia facial, Justin Bieber costumava ser um artista daqueles “que dá trabalho”.
Ingrid trabalhou com ele em 2011, pouco após o fim do Rock in Rio daquele ano. “Eu terminei o Rock in Rio aqui no domingo, e na segunda-feira entrei no Engenhão com a turnê dele. E foi surreal, cara”, contou.
“Ele era muito novo, então vinha pai, mãe, tios, era um monte de gente demandando um monte de coisa. Eu enlouqueci nessa turnê”, completou.
Mas para essa edição, ela já recebeu sinais otimistas de que talvez as coisas sejam mais tranquilas.
“Dessa vez, eu não sei se ele já está mais maduro e tal, mas não está com tanta demanda. Não tem pedido de nada de outro mundo”, disse.
O cantor vem acompanhado de mais de 70 pessoas e, assim como o Guns N’ Roses e o Coldplay, ocupará 12 camarins do backstage.
Entre as exigências do cantor que chamam a atenção está uma banheira de gelo.
“Hoje em dia está comum. [Quando veio o] Thirty Seconds to Mars, o Jared Leto também pediu isso aqui. Eu peguei uma caixa d’água daquelas de 500 litros e enchi de água e gelo. E o cara fica lá, uns dois minutos lá dentro. Dessa vez o Justin quer uma banheira assim”, revelou a produtora.
Chef de cozinha para Green Day e Coldplay
“Duas pias. Uma pia de louça e outra de mão. Tá ótimo”, fala Ingrid em outra pausa da entrevista.
Ela explica que está montando uma cozinha completa nos bastidores. Algumas banda optam por levar o próprio chef de cozinha.
“Eu tenho três ou quatro chefs esse ano. Green Day vai trazer, Coldplay vai trazer”, conta.
Green Day inclusive fará sua estreia no festival. Perguntada se eles são tranquilos de lidar, Ingrid responde rindo: “Mais ou menos. Não é um Jack Johnson né?”
A comida para os artistas é um quebra-cabeça para a produção. “Esse ano tem muito vegano, muita gente com intolerância alimentar.”
“Na entourage da Demi Lovato, por exemplo, tem um celíaco, três vegetarianos, três pescetarianos”, relata. “Tem um cara intolerante a kiwi, nunca vi isso”, acrescenta.
Entre as exigências alimentares, teve uma que chocou a produtora carioca: “Tem um que não come cebola e alho.”
“Esse não come né? Eu já falei que vou fazer macarrão na água e molho de tomate sem nada [risos]”, relata a produtora.