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    Arnaldo Baptista se manifesta sobre morte de Rita Lee; relembre a saída conturbada da cantora dos Mutantes

    Antes de se consagrar na carreira solo, Rita foi uma das caras e vozes do trio paulistano que foi pioneiro do rock nacional

    Marcelo Tuvucada CNN

    O músico Arnaldo Baptista, um dos fundadores do grupo Os Mutantes ao lado de Rita Lee, se manifestou momentos depois da confirmação da morte da cantora, nesta terça-feira (9), com uma homenagem à ex-parceira nas redes sociais.

    “Rita Lee trouxe para os Mutantes um lado circense, que envolveu humor, roupas e instrumentos que ela tocava, como o Theremin. Além de nossas parcerias, como na ‘Balada do Louco’, entre tantas outras. Descanse em Paz”, escreveu Arnaldo, com uma foto da cantora e “sua jaguatirica Ziggy Stardust”, segundo o próprio músico.

    Pouco depois, Arnaldo ainda publicou um story no Instagram com uma arte que diz “Rita ‘n’ Roll”.

    Além de parceiro musical de Rita Lee nos Mutantes, Arnaldo também foi casado com Rita Lee nos anos de auge do grupo. Apesar disso, a relação entre eles sofreu abalos que ocasionaram tanto o fim do casamento quanto a saída da cantora do trio, em 1972.

    A trajetória dos Mutantes

    Anos antes de se tornar uma das maiores artistas solo do Brasil, com hits que iam do hard rock ao pop, passando pelas baladas românticas, Rita Lee foi fundadora e integrante dos Mutantes, um pioneiro do rock no país.

    A banda, que teve origem em São Paulo em meados dos anos 1960, surgiu com Rita como vocalista e os irmãos Sérgio Dias na guitarra e Arnaldo Baptista no baixo – ambos também cantavam na banda.

    O primeiro disco, Os Mutantes (1968), foi lançado em junho de 1968, pouco antes do álbum conjunto Tropicália ou Panis et Circensis (1968), onde o trio novato dividiu as atenções com Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Nara Leão e Tom Zé na obra que lançou o movimento tropicalista – e onde o Mutantes apareceu na interpretação de “Panis et Circensis, composta por Caetano e Gil.

    No total, foram cinco discos com essa formação. Além disso, Rita gravou seu primeiro álbum solo, Build Up (1970), com a participação de Arnaldo, e ainda teve toda a banda tocando em Hoje é o Primeiro Dia do Resto de Sua Vida (1972) – um álbum dos Mutantes que, por questões contratuais, foi lançado apenas com o nome da cantora.

    A trajetória do grupo, que logo incorporou o baixista Arnolpho Lima Filho (Liminha) e o baterista Dinho Leme, ao mesmo tempo em que Arnaldo assumiu cada vez mais os teclados, começou calcado no rock psicodélico da década de 1960, influenciado por Beatles e pelo próprio tropicalismo.

    Com o passar dos anos, no entanto, o grupo assumiu uma sonoridade mais próxima do rock progressivo de bandas como Yes e Emerson, Lake and Palmer, que já permeia os últimos lançamentos com Rita Lee ainda na banda.

    Arnaldo Batista e Rita Lee em São Paulo, em 1970, na época dos Mutantes / Arquivo/Estadão Conteúdo

    A saída tumultuada de Rita

    Foi essa inclinação dos Mutantes rumo ao progressivo que, segundo os relatos da cantora, estimularam expulsão de Rita Lee do grupo.

    “Chego ao ensaio e me deparo com um clima tenso/denso. Era um tal de um desviar a cara pra lá, o outro olhar para o teto, firular um instrumento e coisa e tal. Até que Arnaldo quebra o gelo, toma a palavra e me comunica, não nessas palavras, mas o sentido era o mesmo, que naquele velório o defunto era eu”, falou Rita Lee em sua autobiografia, lançada em 2016.

    “A gente resolveu que a partir de agora você está fora dos Mutantes porque nós resolvemos seguir na linha progressiva-virtuose e você não tem calibre como instrumentista”, diz ela.

    “Uma escarrada na cara seria menos humilhante. Em vez de me atirar de joelhos chorando e pedindo perdão por ter nascido mulher, fiz a silenciosa elegante. Me retirei da sala em clima dramático, fiz a mala, peguei [o cachorro] Danny e adiós”, completa ela na obra.

    Arnaldo Baptista confirmou, em entrevista ao site Whiplash em 2007, que foi o responsável pela demissão de Rita Lee. Na época, ele participava de uma reunião dos Mutantes, que incluiu Sérgio Dias, Dinho Leme e Zélia Duncan, como convidada, para o lugar de Rita.

    O conturbado divórcio também foi abordado na autobiografia de Rita, em meio a relatos críticos sobre a relação com Arnaldo.

    “Na estreia do show Entradas e Bandeiras [disco de Rita Lee com o Tutti Frutti de 1976] no teatro Aquarius, o avistei na primeira fila balançando o polegar para baixo e fazendo cara de nojo. Fez questão de ostensivamente se levantar e sair na metade”, contou.

    “Nos encontramos novamente no dia de assinar o divórcio, ou melhor, o desquite. Vendo meu barrigão de grávida, o juiz ficou nervosinho: ‘Absolutamente não,vamos tratar aqui da reconciliação do casal e dessa inocente criança que vai nascer…’.Blá-blá-blá. Em um minuto expliquei que o filho não era do meu ‘marido’ e que a nova ‘esposa’ dele também estava grávida. Assinou rapidinho a papelada e nos dispensou”, relatou ela.

    Liminha também se manifesta

    Outro ex-companheiro de Rita Lee nos Mutantes que lamentou a morte da cantora foi o produtor musical Liminha, ex-baixista da banda.

    “Minha parceira em músicas e no humor. Tínhamos personagens, ela o “Anibal” (Niba o mecânico) e eu o “Sidinêi”, irmão da Miria… vivíamos zoando.. Rita, além do talento, da imagem, do nome, era quem trazia o bom humor pra banda. Rita querida, sentiremos muito sua falta, descanse em paz…”, escreveu.

    *Colaborou Marina Toledo, da CNN

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