Aos 96 anos, morre o sambista Nelson Sargento, vítima da Covid-19
Compositor e presidente de honra da Estação Primeira de Mangueira já havia sido vacinado contra a doença
O sambista Nelson Sargento morreu nesta quinta-feira (27), aos 96 anos, no Rio de Janeiro, em consequência da Covid-19. O artista estava internado desde a sexta-feira (20) no Instituto Nacional de Câncer (Inca). Nesta quarta-feira, ele havia sido transferido para UTI.
Nelson era paciente do Instituto desde 2005, quando foi diagnosticado e tratou um câncer de próstata.
Presidente de honra da Estação Primeira de Mangueira, uma das principais escolas de samba do Rio de Janeiro, Nelson Sargento ocupava a cadeira 11 da lista de baluartes da escola.
Deixa uma extensa obra artística, com foco nas mais de 400 músicas que compôs, além dos livros “Prisioneiro do Mundo” e “Um Certo Geraldo Pereira. Nelson Sargento, nascido Nelson Mattos, se destacou também como pesquisador da música popular brasileira, e também foi artista plástico e ator.
Nascido em 25 de julho de 1924, o artista passou a primeira parte da infância no morro do Salgueiro, no Rio de Janeiro, mas foi no morro da Mangueira, para onde se mudou aos 12 anos, que Nelson tornou-se letrista, tendo composto ainda em 1955 o samba enredo “Primavera”, em parceria com com o letrista Alfredo Português, que o havia adotado.
O “Sargento” no nome veio do período em que essa patente lhe coube no Exército Brasileiro, onde serviu entre 1945 e 1949.
Era 1958 quando Nelson assumiu o comando da Ala de Compositores da Mangueira, onde engatou uma próspera carreira de sambista, fundindo sua biografia à escola do coração. Em 1973, teve um de seus quadros comprados por Paulinho da Viola, um dos maiores cantores e compositores do Brasil. Paulinho da Viola ficou com um dos seis quadros que ficaram expostos na casa de Sérgio Cabral, jornalista e compositor, pai do ex-governador do Rio Sérgio Cabral Filho.
Em 2018, já aos 93 anos, Nelson Sargento esteve ao lado do rapper Criolo em uma série de shows que celebraram os 90 anos da Estadão Primeira de Mangueira, em projeto musical idealizado pela Orquestra Sinfônica Cesgranrio.
Ao longo de sua carreira, Nelson viu muitos dos maiores intérpretes da música brasileira cantarem suas composições. Uma rápida pesquisa no YouTube é suficiente para ver as letras de Nelson Sargento entoadas por Clementina de Jesus, Nara Leão, e Alcione.
Ao completar 96 anos, em 25 de julho de 2020, ganhou uma homenagem em frente à sua casa, no Rio de Janeiro: à distância, já pelas restrições da pandemia, o grupo de samba Saracoteando fez uma apresentação musical, assistida por Nelson a partir de sua janela.
Em 31 de janeiro de 2021, Nelson foi um dos primeiros cariocas a receberem uma dose da Coronavac, vacina contra a Covid-19 feita no Instituto Butantan, em São Paulo. A dose foi aplicada no Palácio da Cidade, e foi comemorada pelo prefeito Eduardo Paes (PSD). A segunda dose foi aplicada em 26 de fevereiro.
Mesmo vacinado, no entanto, Nelson Sargento tornou-se uma das raríssimas vítimas fatais da Covid-19 entre aqueles que já foram totalmente imunizados.