Agora sóbrio, DJ Fat Tony oferece a trilha sonora das festas de Londres
O DJ estima ter gastado mais de 1 milhão de libras (ou US$ 1,2 milhão, ou mais de R$ 6 milhões) em drogas enquanto alimentava o vício; hoje, ele segue sóbrio
Uma das últimas festas em que o DJ Fat Tony tocou foi o aniversário de 21 anos do jovem Brooklyn Beckham, realizado em uma gigantesca tenda de vidro na casa da família de David e Victoria Beckham, no interior da Inglaterra. Depois, ele se apresentou no lendário Ministry of Sound, em Londres. A cidade entrou em lockdown em seguida.
O DJ Fat Tony – cujo nome verdadeiro é Tony Marnach – é um dos pilares da cena festeira de Londres, fornecendo frequentemente a música (às vezes com a ajuda da amiga e ocasional parceira na cabine, a supermodelo Kate Moss) nas semanas de moda, festas de aniversário de celebridades (ele tocou para Madonna, Prince e Michael Jackson) e inúmeras noites nas casas noturnas.
Apesar do trabalho na vida noturna, Tony segue orgulhosamente sóbrio. Durante o confinamento, ele lançou uma série no YouTube sobre recuperação de dependências químicas, com Kelly Osbourne falando no primeiro episódio. Seu plano é trazer em breve seu velho amigo Boy George e o comediante Russell Brand para o programa.
Tony é muito franco sobre o uso drogas, revelando assustadores detalhes sobre suas próprias experiências. Ele estima ter gastado mais de 1 milhão de libras (ou US$ 1,2 milhão, ou mais de R$ 6 milhões) em drogas enquanto alimentava esse vício.
Um documentário online feito recentemente pela Mixmag, conhecida revista britânica de música eletrônica, captura muitos desses momentos em um vídeo alucinante de 18 minutos, no qual Tony conta ter cheirado sua primeira carreira de cocaína com Freddie Mercury e lembra a vez em que ficou tão chapado a ponto de remover vários dentes usando uma chave de fenda.
Não é fácil assistir, mas o vídeo é um lembrete poderoso de que as pessoas podem ser resgatadas mesmo dos lugares mais sombrios. Durante uma entrevista para a CNN de seu apartamento em Pimlico, Londres, onde ele mora com seu parceiro de longa data e o cachorro de estimação, Tony descreve a recuperação como um “mundo totalmente novo” – no qual ele pode sair de casa com a cabeça erguida, ao invés de ficar “trancado em uma sala querendo se matar”. Na opinião dele, vale a pena compartilhar os detalhes sombrios de seu vício em drogas, porque “quanto mais honesto você é, mais aceitável se torna”.
“Compartilhar minha verdade mostra o poder dela. Não preciso me segurar. Se eu fizer isso, isso fica aqui” – diz, apontando para o próprio peito – “e o que pode acontecer? Vergonha, automutilação, ódio de si mesmo”.
Embora seja um conhecido baladeiro desde os anos 80, a conta no Instagram de Tony coloca–o em sintonia com uma geração mais jovem de fãs. Cheia de memes, a conta não é para quem se sente facilmente ofendido. Algumas piadas mexem com tabus – até mesmo, ironicamente, com o uso de drogas.
“Só posto coisas que entendo ou que já fiz. Tem gente que diz: ‘Você está em recuperação, mas posta memes e outras coisas sobre drogas’, e eu respondo, ‘Sim, eu os posto porque vivi isso’. Já passei por isso e tenho o direito de postar essas coisas”.
No sábado, 13 de junho, Tony estava agendado para tocar em uma festa virtual durante a primeira semana de moda digital de Londres. O evento de três dias se inspira na Men’s Fashion Week, a semana de moda masculina. Desde sexta-feira, dia 12, a programação neutra em termos de gênero traz conversas com estilistas, podcasts e filmes de moda (mas nenhum show ao vivo). Tudo acessível ao público online – uma nova mudança para este evento historicamente fechado e exclusivo.
O DJ ficou empolgado com a ideia de que os estilistas mais jovens e emergentes de Londres possam se beneficiar do evento. “O formato dá a todos os jovens designers a chance de ter uma voz”, opinou. “Ele não será aberto apenas a compradores (e editores), mas para todos, o que é ótimo. A semana de moda nunca foi assim. O elitismo de ter um ingresso para os desfiles e ficar na primeira fila acabou”.
Assim como na semana da moda, as comemorações da Pride (a Parada do Orgulho Gay) na cidade também serão significativamente diferentes. “A Pride de Londres é importante”, disse Tony, listando uma série de eventos de uma semana a que ele normalmente compareceria se não estivéssemos vivendo uma pandemia global.
“Acho bom não termos a Pride neste ano. Precisamos dela mais do que nunca, mas as festas e coisas assim precisam ser suspensas para podermos reavaliar para onde estamos indo”, diz. Para Tony, essa poderia ser uma chance de “recuperar o orgulho”, trazendo-o de volta às raízes e longe da comercialização dos últimos anos.
Tal como outras pessoas em posições privilegiadas em todo o mundo, Tony usou o lockdown para refletir sobre seus hábitos “normais”. Embora viva na sobriedade, ele ainda se entrega a certos excessos – como andar muito de táxi.
“Eu gastava 500 libras (mais de R$ 3 mil) por semana apenas em táxis. Como assim? Eu moro no centro de Londres, posso (facilmente) andar por toda parte em 10 minutos, mas ainda prefiro sentar em um táxi e gastar 40 (libras)! É loucura, mas fazia isso porque podia”, admitiu.
“Isso equivale ao salário de um mês para algumas pessoas agora, e é nojento gastar assim. Foi preciso (o lockwdown) para eu perceber o que estava fazendo, porque simplesmente não valorizava essas coisas”.
Dito isto, Tony é cético quanto ao fato de as pessoas mudarem drasticamente seus caminhos. “Eu adoraria pensar que todos vamos parar de usar plástico e começar a andar de bicicleta. Besteira – isso não vai acontecer.” Mas há um lado esperançoso. “A esperança é uma coisa muito boa de se ter agora”, ressalvou.
O DJ para casamento enfatizou a importância de rever nossos comportamentos individuais. “É uma questão de ver o que você faz dentro do seu quadrado. Em vez de ter todo esse mundo imenso com o qual você precisa se preocupar, pense agora em você mesmo. Faça o que é certo para você e isso levará ao que é bom e certo para os outros”.
(Texto traduzido, clique aqui e leia o original em inglês).