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    A importância de usar as suas redes sociais como currículo e cartão de visitas

    Phelipe Siani defende que internet pode ser um lugar com menos dancinha e mais conteúdos relevantes

    Phelipe Siani

    O ano é 2023. E eu ainda ouço o tempo todo pessoas aqui e ali dizendo que não ligam pras redes sociais porque isso é besteira, distração, coisa de gente desocupada. Tudo bem que, se usadas do jeito errado, as redes sociais podem sim ser um grande milkshake de futilidades batidas com opiniões baseadas em vozes da cabeça de quem posta e cobertura cremosa de um grande vazio existencial. Mas elas podem ser muito, muito mais que isso. E eu tô aqui pra te dizer algo que talvez seja um pouco duro de ouvir.

    O que aparece no seu feed é um reflexo daquilo que você busca. Duvida? Então clica aí na lupinha do seu Instagram e olha o que de cara aparece como sugestão ali na aba “explorar”. Agora pede pro seu amigo ou sua amiga aí do lado fazer a mesma coisa. Você vai perceber que as sugestões que pipocam pra vocês são completamente diferentes. Os algoritmos, entre outras coisas, funcionam pra te dar sugestões de conteúdos que podem te interessar. E no que eles se baseiam pra dar essas sugestões? Naquilo que você consome. No fundo, é você quem treina o algoritmo sobre o que você vai ver no app. Simples assim.

    Dito isso, reclamar do que o Instagram te mostra como se você não tivesse responsabilidade nisso é o mesmo que só reclamar dos políticos que a gente tem, fingindo que não fomos nós mesmos que elegemos essa galera, entende?! É claro que as plataformas, em muitos casos, são problemáticas e os processos precisam sempre ser discutidos e atualizados. É assim também com o sistema político brasileiro.

    Mas você consegue entender que, no fundo, tá sempre na nossa mão? Quem reclama das redes sociais, normalmente, é quem mais usa, quem mais se vicia e, quase sempre, só busca na tela do celular um meme bobo ou o endosso de uma opinião extrema sem muito fundamento. Repito… você só recebe o que diz pro algoritmo que “gosta”. Quer que seja diferente? É só pedir outras coisas. Quer ter políticos melhores? Não elege sempre os mesmos. É simplista, mas é meio que isso aí mesmo. Lembrando aqui que o conceito de melhor ou pior é muito pessoal. Pensa nisso.

    Você pode participar dessa revolução produzindo bons conteúdos. E não me vem com essa história de que não tem o que dizer que hoje em dia isso não cola mais. Olhar pras suas redes é, por exemplo, olhar pra uma baita oportunidade de divulgar o que você faz profissionalmente, mesmo que seja uma função dentro de uma empresa privada. Sempre vai ter alguém que pode se interessar por isso. Sempre pode ter algum recrutador que tá de olho em alguém com as tuas habilidades profissionais.

    E é assim principalmente no Brasil. Porque se a gente olhar pra América Latina, a gente é o povo que mais usa as redes sociais pra procurar emprego. São números da consultoria Page Outsourcing, que analisou mais de 7300 candidatos de seis países da nossa região. A galera ouvida até entende que as mídias sociais trazem uma visibilidade maior pra quem tá procurando entrar num processo seletivo, mas são raros os casos em que o feed reflete esse interesse.

    Eu bati um papo com a Thaís Pegoraro, sócia da Exec, uma das maiores empresas de busca e seleção de altos executivos do país, e ela me disse o seguinte: “O headhunter, que é quem busca esses profissionais no mercado, olha sim as redes sociais deles. O problema é que a maioria dos executivos ainda não entendeu a importância do cuidado que precisam ter com a própria identidade digital. Não entenderam o impacto que isso tem na comunidade, no ecossistema, pra que eles se tornem referência e autoridade nos assuntos que eles dominam. A maioria absoluta ainda não percebeu que as plataformas digitais são o veículo perfeito pra que, de um jeito escalável, a voz deles seja ouvida pela massa. E eles só perdem com isso”. Se a gente tá falando desse comportamento dos altos executivos, imagina com a galera que tá nos cargos mais abaixo?!

    Tá, mas como fazer isso? De um jeito simples, mas chato… encarando as próprias redes sociais um pouco também como trabalho. Os seus feeds podem sim ser, na real, grandes currículos, onde você pode (e na minha opinião deve) postar o que você pensa sobre assuntos da área em que atua. Eu, por exemplo, adoro dar meus pitacos sobre comunicação no meu insta. Isso vai, cada vez mais, reforçando a imagem que as pessoas têm de mim como alguém que fala sobre a área.

    É assim que, pra mim, a boa influência nasce. É com esse tipo de comportamento que a gente pode fazer das redes sociais lugares com menos dancinha e mais conteúdos que pode trazer coisas legais pras pessoas. Nada contra as dancinhas, eu acho legal, é que não dá pra ser só isso, entende?!

    E por que é importante bater nessa tecla? Porque enquanto seguirmos acreditando que rede social é coisa de gente fútil a desinformação vai continuar reinando. Vou dar um exemplo muito claro. Há pouco tempo eu fui diagnosticado com um TDAH severo e isso fez boa parte dos meus muitos problemas históricos ganhar um sentido enorme. Pra quem não sabe, TDAH é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade e é um saco conviver com isso.

    Eu passei a estudar bastante sobre o assunto e descobri que existe uma Associação Brasileira de Déficit de Atenção. No site deles tem um artigo bem interessante sobre qual comunicação a gente tem feito nas redes sociais que me preocupou. Um jornal de psiquiatria do Canadá analisou em detalhes os 100 vídeos mais populares do tiktok falando sobre TDAH. Desses 100, 52 tinham conteúdo errado… CINQUENTA E DOIS!

    Eram postagens de influencers, pessoas que só achavam que tinham o transtorno ou que simplesmente falavam dele, mas não tinha consistência nenhuma sobre o assunto. Entendeu a gravidade disso? Enquanto quem entende de verdade sobre o transtorno pode estar achando que as redes sociais são besteira, no caso desse assunto mais da metade das postagens tão falando merda. Aí não adianta absolutamente nada o especialista dizer que não tem o reconhecimento que deveria e que as pessoas se informam do jeito errado.

    Ele precisa estar no TikTok pra combater esse tipo de desinformação. Isso é sério. Aí eu finalizo te fazendo as seguintes perguntas: você tem no topo do seu feed do Instagram uma bolinha de destaque dizendo quem você é? O que você faz da vida? Quais habilidades você tem? Do que você gosta? Tudo bem tratar o seu feed como um grande depósito de conteúdos aleatórios sem nenhuma coerência, talvez você pense que só seus amigos estão vendo.

    Mas faz o seguinte exercício: mostra o seu feed pra alguém que você acabou de conhecer e pergunta quem é você. Será que as suas postagens contam alguma história que faça algum sentido? Ali tá claro qual o seu propósito de vida? O que você quer conquistar pessoalmente ou profissionalmente?

    Se a resposta for não, você entende a chance que você tá perdendo de se mostrar inclusive pra quem pode te tirar do emprego que talvez você já não queira mais? Você entende que o caminho pra conseguir um emprego melhor, talvez, já exista? A tecnologia tá aí e já faz tempo… cada um usa do jeito que quer.

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