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    À CNN, Woody Allen fala sobre novo filme e superstição: “cortava banana em 7 pedaços”

    Em entrevista exclusiva à CNN para o lançamento de "Golpe de Sorte em Paris" no Brasil, Allen conta planos para o futuro e fala da experiência de fazer um filme em francês

    Marina Motomurada CNN

    Woody Allen está de volta aos cinemas brasileiros com “Golpe de Sorte em Paris”, que estreia em 19 de setembro. 

    É o primeiro longa do premiado diretor americano desde “O Festival do Amor”, de 2022, e seu 50º na carreira. E Allen volta em grande estilo, trazendo os mais exuberantes cenários de Paris, elenco totalmente francês e uma trilha sonora de jazz que embala a história de amor, traição e crime.  

    Allen recupera a marca já consagrada em filmes como “Match Point” e “Vicky Cristina Barcelona” e leva seus elementos clássicos – personagens da alta sociedade, belos casais, exposições de arte – para Paris, com elenco local.  

    Golpe de Sorte em Paris” conta a história de Fanny (Lou de Laâge), casada com Jean (Melvil Poupaud).  

    Fanny reencontra, ao acaso, um antigo amigo da infância, Alain (Niels Schneider). E temos, então, de volta o destino a um roteiro de Allen. Assim como a sorte foi personagem definidora da trama em “Match Point”, o elemento reaparece com força – está até no título de “Golpe de Sorte em Paris”.  

    Veja fotos do filme

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    Em entrevista exclusiva à CNN para o lançamento do longa no Brasil, Allen falou sobre sua relação com o acaso. “Gostamos de pensar que controlamos tudo, mas não, controlamos um pouco, mas a maior parte é apenas aleatório, acaso e sorte”, diz. 

    Questionado se tem alguma superstição, Allen conta que, até pouco tempo atrás, cortava suas bananas no café da manhã de uma maneira bem específica.

    Eu costumava ter uma superstição de que, quando eu comia meu café da manhã, cortava minha banana em sete pedaços, nem mais nem menos. E eu sempre fazia isso, por anos.

    Woody Allen

    “Eu sou muito racional, queria ser cientista quando eu era pequeno. Mas mesmo com tudo isso, eu ainda desenvolvo essas pequenas superstições. E uma vez que começo, tenho medo de parar, porque tenho medo de que, se eu parar, algo ruim vai acontecer”.  

    O diretor falou ainda de planos para o futuro, sobre como foi filmar em francês e qual foi a recepção do filme nos Estados Unidos. A pedido de sua assessoria, não foram feitas perguntas sobre a vida pessoal do diretor, alvo de acusações de assédio por sua filha adotiva. Em diversas ocasiões, Allen negou ter praticado o crime. 

    Leia abaixo a íntegra da entrevista: 

    CNN: Gostaria de fazer algumas perguntas sobre o seu filme mais recente, “Golpe de Sorte em Paris”.  A primeira pergunta: é claro que o acaso desempenha um papel decisivo em seus filmes, como “Match Point” e “Golpe de Sorte em Paris”. Eu gostaria de saber se o senhor, pessoalmente, acredita em destino? Qual é a sua relação com o destino? 

    Woody Allen: Eu acredito que grande parte da nossa vida, muito mais do que gostaríamos de admitir, é baseada na sorte. Gostamos de pensar que controlamos tudo, mas não, controlamos um pouco, mas a maior parte é apenas aleatório, acaso e sorte. 

    E eu tive muita sorte a minha vida inteira. 

    Tive boa sorte. Eu vim de uma boa família. Eu tive boa sorte com meu trabalho. Tive boa sorte com minha saúde até agora, sabe? Mas depende muito. Se eu tivesse tido má sorte com minha família originalmente, ou má sorte com minha esposa, ou má sorte com minha saúde ou qualquer coisa, eu teria tido uma vida completamente diferente e muito menos agradável. Mas eu fui afortunado por ter tido sorte. Eu não fiz tudo acontecer. Fiz algumas coisas acontecerem. Consegui fazer algumas coisas que aconteceram para mim bem, porque trabalhei duro, mas muitas das coisas estavam fora do meu controle.

    Em “Golpe de Sorte em Paris”, também aprendemos que a sorte pode ser tanto boa quanto, às vezes, ruim. Você tem alguma superstição para evitar má sorte? 

    Não mais. Eu costumava ter uma superstição de que, quando eu comia meu café da manhã, cortava minha banana em sete pedaços, nem mais nem menos. E eu sempre fazia isso por anos.

    Por que parou? 

    Eu parei porque parei de comer bananas no café da manhã. 

    Eu desenvolvi essas pequenas superstições ao longo dos anos e, claro, não acredito em nada disso. Mas, mesmo assim, eu sempre tenho medo, por exemplo, que algo ruim vai acontecer se eu não cortar minha banana em sete pedaços. É difícil se livrar de alguns hábitos, como esse. 

    Às vezes, é difícil para nós deixarmos alguns hábitos antigos. 

    Sim, eu concordo. Exatamente. E eu não sou uma pessoa religiosa ou alguém que acredita em astrologia ou em qualquer tipo de cultos ou coisa do gênero… Eu sou muito, muito racional. Eu queria ser cientista quando eu era pequeno. Mas, mesmo com tudo isso, eu ainda desenvolvo essas pequenas superstições. 

    E uma vez que começo com elas, tenho medo de parar, porque tenho medo de que, se eu parar, algo ruim vai acontecer. Claro, isso é muito bobo.

    Você filmou em cidades muito diferentes como Nova York, Paris, Londres, Barcelona. Quão universais você acha que são as histórias de amor em todas essas diferentes culturas? 

    Sempre fiquei surpreso que meus filmes fossem universais. Eu pensava, quando comecei, que eu era um verdadeiro cineasta de Nova York. E os meus interesses eram os interesses de Nova York e para as pessoas de Nova York. Minhas piadas eram para Nova York, minhas referências eram de Nova York e, então, eu descobri que não eram apenas para Nova York. Descobri que eles estavam fazendo sucesso na Califórnia e no Texas.

    E, então, fazendo sucesso em Londres, Paris, Roma. E depois estavam fazendo sucesso na Argentina e estavam fazendo sucesso no Japão. 

    E eu não tinha ideia do porquê, não esperava isso. Mas eu acho que a única coisa que você pode aprender com isso é que você faz o que faz e, se você o faz honestamente, e tem algum significado, vai significar algo para as pessoas ao redor do mundo. Se for honesto, também significará que diz algo sobre os seres humanos, ou algo real. Vai ressoar em Tóquio ou na Cidade do México. 

    Como foi a sua experiência de viver em Paris para filmar “Golpe de Sorte”? Como foi sua vida parisiense? É muito diferente da sua vida em Nova York? 

    Sim, é diferente. São duas cidades diferentes. Elas são semelhantes em certos aspectos. Mas Paris é muito mais bonita e tem um ritmo mais lento. Tudo em Nova York é muito rápido, e eu estou acostumado a isso. Eu cresci com isso a minha vida inteira. Energia nervosa, ruas barulhentas, tudo acontecendo o tempo todo, dia e noite, e algumas pessoas gostam disso, e outras, não. 

    Paris é mais relaxada do que Nova York. As pessoas fazem um almoço mais longo, sabe… É simplesmente mais relaxado. Mas é muito bonita, e era um prazer sair andando por lá. 

    Eu gosto de andar por aí, e é um prazer andar por aí. É um jeito encantador de viver. Você olha pela janela e tudo é tão bonito. Você come tão bem e vive tão bem que os parisienses realmente transformaram viver em uma forma de arte por muitos anos. 

    Como foi a experiência de filmar com um elenco francês? 

    Foi fácil. Eles pegaram meu roteiro, que eu escrevi em inglês, claro, e traduziram para o francês. Os atores, quase todos eles falam inglês, porque todo mundo na Europa parece falar inglês, e então eu pude dirigi-los em inglês, dizer o que eu queria, e eles faziam e filmavam. E eu sabia o que eles estavam dizendo porque eu escrevi, então, sei o que estão dizendo uns para os outros, mesmo que eu não fale a língua, e você pode perceber quem são os bons atores em uma língua estrangeira. 

    Tenho certeza de que quando você vai ver um filme japonês, você consegue perceber qual é uma grande performance de alguém. Mesmo que você não fale a língua, provavelmente você consegue perceber. E eu podia perceber que alguém estava sendo muito barulhento, ou muito rápido, ou não doce o suficiente, muito zangado, seja o que for. 

    Eu só conversava com eles em inglês, e eles mudavam. Eram muito bons atores e atrizes, e eles me davam o que eu precisava em inglês. 

    E como foi a recepção de “Golpe de Sorte em Paris” nos Estados Unidos? O filme é falado apenas em francês, e os espectadores americanos não estão tão acostumados a assistir filmes legendados e em línguas estrangeiras. 

     A recepção foi boa. Isso vem da época dos grandes cineastas franceses: [Jean] Renoir, [François] Truffaut, [Jean-Luc] Godard e René [Clair]. Com todos esses cineastas, se você faz um filme em uma língua estrangeira nos Estados Unidos, se tem legendas, você sempre vai ter um público muito menor. 

    Mesmo com esses mestres, como Ingmar Bergman, [Akira] Kurosawa e [Federico] Fellini, você tem um público menor, porque a maioria das pessoas quer ir ao cinema e ver um filme em sua própria língua. Tem um público seleto nas grandes cidades, que são mais cosmopolitas, onde você consegue um público mais agradável ou maior.

    Sabíamos disso desde o início, que se eu fizesse o mesmo filme em inglês, com atores americanos, arrecadaria mais dinheiro. Porque os americanos não querem ler legendas, eles querem ver o filme. 

    Mas eu queria fazer um filme francês novo, e ele foi bem em todo o mundo até agora, onde quer que tenha sido exibido. Fez sucesso porque eu acho que é uma história interessante para as pessoas, e os atores são muito bons. 

    Mas nunca fará o mesmo tipo de bilheteira em países de língua inglesa, como EUA ou Canadá ou Austrália, que um filme em inglês faria. 

    Eu gostaria de saber mais sobre seus planos para o futuro. Depois de 50 filmes, existem histórias que você ainda quer contar aos espectadores? 

    Eu pretendia ficar em casa e escrever para o teatro, talvez escrever alguns livros… 

    Se alguém me ligar e disser que vai me dar o dinheiro para fazer um novo filme, e for fácil para mim, então, eu faria.

    Geralmente, na minha vida inteira, eu tive problemas para levantar o dinheiro do financiamento dos filmes. Não quero ter que ir a reuniões e almoços e jantares, e conseguir um pouco de dinheiro aqui, um pouco ali. E, você sabe, é um processo. Eu não quero fazer isso. Se alguém vier e disser que “temos o dinheiro, se você quiser fazer um filme, vamos financiá-lo”, e eu não tiver que fazer nada além de fazer o filme, isso seria  ótimo.  

    Caso contrário, eu ficaria muito feliz em ficar em casa e escrever para o teatro e escrever prosa. Para mim, está perfeito. Cinquenta filmes é o suficiente para mim. Mas eu tenho algumas ideias muito boas, e poderia provavelmente fazer mais 10 ou 12 filmes, se minha saúde permitir, e se as pessoas quiserem financiá-los.

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