De escola pública, brasileira aluna de Harvard dá conselhos sobre preparação
“Comecei a me preparar no início do ensino médio”, diz mineira que cursa ciências políticas e economia em Harvard, nos Estados Unidos
“Agarrar as oportunidades quando elas aparecem”, é o que mineira Sofia Santos de Oliveira, 20, fez quando visualizou a possibilidade de estudar em uma das mais prestigiadas universidades do mundo: Harvard, nos Estados Unidos.
Não só agarrar, ela se preparou, consciente também da realidade social em que estava inserida. Oriunda de escola pública em Belo Horizonte (MG) e autodidata no inglês, a educação trouxe um salto transformador na vida dela e dos familiares.
“No ensino médio, recebi bolsa de um programa para estudar em um colégio de excelência, influenciando inclusive meu pai a finalizar os estudos, já que havia abandonado quando jovem pois precisava trabalhar”, contou, em entrevista à CNN.
“A educação não só me permitiu expandir meus horizontes de maneiras inimagináveis, como também ajudar minha família”, acrescentou a jovem, hoje estudante do curso de ciências políticas e economia, com ênfase em educação e América Latina, na Universidade Harvard.
Com interesse nas áreas de políticas públicas, política comparativa e desenvolvimento internacional, Sofia já se engajou em pelo menos dois projetos de pesquisa em dois anos de graduação.
“Atualmente estou fazendo uma pesquisa sobre relações raciais e o movimento trabalhista no Brasil entre 1945 e 1980, focando em líderes sindicalistas negros e em como o mito da democracia racial afetou políticas trabalhistas e vice-versa”, exemplificou.
Sobre a experiência de intercâmbio nos Estados Unidos, ela destaca a “possibilidade de conhecer pessoas do mundo inteiro e engajar em discussões estimulantes sobre todos os assuntos possíveis”.
“As aulas [em Harvard] são cativantes e participativas, e os professores são, na maioria das vezes, os maiores especialistas das suas respectivas áreas”, comentou.
A universidade detém o número mais alto de laureados com o Nobel — são 150 ganhadores que já foram docentes por lá — além de ser a quarta melhor universidade do mundo, segundo o último QS World University Ranking.
Preparação para estudar em Harvard
Embora o sonho já existisse desde a infância, foi no ensino médio que Sofia começou a se preparar para entrar na Ivy League desejada.
“O primeiro passo foi trabalhar o inglês, a fim de alcançar fluência a nível de conversação, escuta, leitura e escrita, e fazer o teste de proficiência. Em seguida, foquei em me engajar em atividades extracurriculares”, detalhou.
- As atividades extracurriculares são pontos essenciais no currículo, já que mostram os interesses do aluno em temas que impactam sua própria comunidade.
“Participei de projetos de pesquisa, trabalho voluntário na área de educação e programas de empoderamento feminino. Também participei de olimpíadas científicas e programas de verão internacionais.”
Além disso, Sofia mantinha boas notas na escola e cultivava bons relacionamentos com os professores e orientadores. Durante o processo de candidatura em Harvard no último ano do ensino médio, ela também recebeu apoio de um programa gratuito que a orientava até ser aprovada.
E qual o primeiro passo para estudar no exterior?
De acordo com Sofia, o primeiro passo para estudar no exterior é desenvolver o autoconhecimento e “entender quais os seus objetivos a curto e longo prazo”.
“O processo exige muita compreensão dos seus propósitos de vida e trajetória acadêmica e pessoal, além de ser necessário conseguir articular os motivos de querer ir para faculdades específicas”, disse.
Para os avaliadores, é importante saber como o aluno vai contribuir com o mundo no futuro, em qualquer carreira que escolha. “É um processo desafiador.”
Dicas para quem deseja ingressar em universidades norte-americanas
A principal dica de Sofia é acreditar em si mesmo e no seu potencial. “Todos nós carregamos uma bagagem única e, apesar dos desafios, continuamos seguindo em frente todos os dias. É essencial reconhecermos as nossas lutas, vitórias, pontos fortes e aprender a usar isso a nosso favor.”
“Outro ponto essencial é agarrar as oportunidades quando elas aparecem. Infelizmente, não é sempre que elas estarão lá, mas se elas estiverem ao alcance, não tenha medo de correr atrás e de tentar fazer acontecer.”
Sofia Santos de Oliveira, 20, estudante de Harvard
A brasileira também recomendou procurar programas gratuitos no Brasil que ajudam jovens de baixa renda a alcançarem o sonho de estudar fora, além de oportunidades de engajar em projetos extracurriculares ou até mesmo de criar o seu próprio. “Então recomendo a proatividade e a consistência”, respondeu.
Por fim, outra dica seria: “não ter medo de perguntar ou de pedir ajuda, principalmente para as pessoas ao seu redor, pois é essencial termos apoio para alcançar nossas metas”.
Mais brasileiros em Harvard
Incentivar outros brasileiros e estudantes de baixa renda a ocupar Harvard é um dos orgulhos de Sofia. Atualmente, ela é co-presidente da Harvard Undergraduate Brazilian Association, uma associação para estudantes internacionais do Brasil ou com ascendência brasileira.
“É um espaço para compartilhamos nossa cultura no campus e estabelecermos uma forte comunidade mesmo longe de casa. Temos aproximadamente 60 membros e planejamos diversos eventos todo semestre: cafés da tarde, viagens, festas, eventos culinários, bate-papos profissionais, integração com ex-alunos e programas de mentoria”, celebrou.
Quando o assunto é qualidade educacional, o Brasil tem um longo caminho para melhorar o desempenho dos estudantes da educação básica. No país, menos da metade dos estudantes com 15 anos conseguiu atingir um nível mínimo de aprendizado em matemática e ciências, de acordo com os resultados obtidos no Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes).
E, para um brasileiro chegar a espaços acadêmicos como Harvard, ainda é preciso de algumas exceções.
“O potencial do efeito multiplicador de estudar lugares como Harvard é infinito, e todos os brasileiros que vejo estudando aqui têm em seus planos, de uma maneira ou de outra, ajudar a fazer o Brasil um lugar melhor e trazer mais brasileiros para esse tipo de ambiente”, finalizou a jovem.