Cotas são porta de entrada, mas não garantem transformação, diz pesquisadora
Cotista no mestrado, Flávia Ribeiro teve sua dissertação premiada em 2024
As cotas raciais e sociais para o ensino superior possibilitaram que muitos jovens pretos, pardos e indígenas entrassem em universidades públicas. Mas isso garante que portas se abram e que suas vidas se transformem? Para a jornalista Flávia Ribeiro, a resposta é não.
Autora do livro “Comunicação, Interseccionalidade e Decolonialidade: Escrevivências da Marcha Virtual das Mulheres Negras Amazônidas”, Ribeiro entrou no mestrado na UFPA (Universidade Federal do Pará) em 2021 por meio de cotas raciais.
Vale destacar que ela teria entrado na pós-graduação mesmo sem a reserva de vagas, já que sua nota foi suficiente para ficar entre os primeiros colocados.
Nesta semana da Consciência Negra, ela disse que, após o mestrado, continuou trabalhando no mesmo local e morando na mesma periferia. Ou seja, pouca coisa mudou.
“Para pessoas negras, indígenas e periféricas, estudar não é a garantia de que as portas vão se abrir. Não é incomum que pesquisadores e pesquisadoras desses grupos estejam desempregados ou em relações precárias de trabalho”, comentou.
Apesar disso, ela defende que “estudar é a possibilidade de que teremos um argumento a mais para lutar por novas e melhores oportunidades”.
Importância das cotas
A pesquisadora acredita que as cotas representam uma chance de mudança na vida das pessoas negras, “de que podemos reescrever a história das nossas famílias, de romper ciclos de pobrezas e iniciar ciclos de qualidade de vida, de adentrar espaços que não foram construídos para nós, mas que são nossos”.
“Nada está garantido. Mas, por meio das cotas, teremos novas perspectivas de vida. Neste momento, fui convidada a vir à São Paulo porque a minha dissertação foi premiada”, contou.
“A partir da minha dissertação consegui publicar o meu primeiro livro. São possibilidades de novas conquistas não só para mim, mas também para as pessoas que são próximas da minha realidade.”
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